O período de isolamento social prejudicou muitos negócios. Ao mesmo tempo, abriu demandas de produtos e serviços até então pouco exploradas (Catarina Bessell/Exame)
Da Redação
Publicado em 6 de agosto de 2020 às 08h32.
Última atualização em 6 de agosto de 2020 às 10h33.
O período de isolamento social prejudicou muitos negócios. Ao mesmo tempo, abriu demandas de produtos e serviços até então pouco exploradas.
Muitas startups, empresas ágeis por natureza, conseguiram expandir o faturamento, conquistar clientes, melhoraram processos ou mesmo tiveram que começar os negócios do zero em meio à crise.
Nesta edição, EXAME selecionou 50 atitudes inovadoras de empresas, governos e ONGs durante a pandemia. Dessas histórias, veja a seguir o exemplo de cinco startups que se adaptaram com rapidez às mudanças.
A sabedoria popular avisa: é prudente não colocar todos os ovos na mesma cesta sob o risco de perder tudo ao menor chacoalhão. Em tempos de crise, muitas empresas brasileiras ampliam a presença internacional para compensar prejuízos causados pela disparada do dólar ou pelo sumiço de clientes. É o caso da startup mineira Hotmart, uma espécie de vitrine de produtos digitais, como cursos, e-books e podcasts. Em março, a startup anunciou a compra da concorrente americana Teachable. No total, a empresa americana recebeu 12,5 milhões de dólares em rodadas de investimento. A intenção é ampliar a base de clientes, já bem globalizada: são mais de 20 milhões de usuários em 188 países. Em maio, as vendas foram o triplo do mesmo período de 2019. Carolina Ingizza
Poucas indústrias sofreram tanto com a pandemia quanto a aviação civil. A turbulência chacoalhou os negócios da Flapper, startup de São Paulo que é uma espécie de Uber de jatos executivos para clientes endinheirados a caminho de destinos paradisíacos. Com o medo de contágio nos ares, a demanda sumiu. Em meio ao caos, o fundador da Flapper, Paul Malicki, atentou-se para as notícias de turistas brasileiros presos em cruzeiros ou em países remotos da África e da Ásia por causa do cancelamento de voos. “Passei a ligar para embaixadas do Brasil lá fora oferecendo o serviço de repatriação”, diz Malicki, que fundou o negócio em 2016. Para fazer a estratégia compensar, a Flapper precisou alugar aviões grandes. O maior deles, um Boeing 777, trouxe 230 brasileiros retidos em países da África. A Flapper deverá faturar 20 milhões de reais em 2020 — mais que o dobro de 2019. Leo Branco
Na crise, ter clientes fiéis é uma boa estratégia para ter caixa. Na startup Housi, dona de um aplicativo usado por executivos para encontrar abrigo em viagens curtas, 20% dos contratos foram cancelados por causa da pandemia. Por isso, a startup passou a focar o longo prazo. Os imóveis receberam melhorias, como novas redes de Wi-Fi, para atrair famílias em busca de estadias mais longas. O faturamento do mês de junho cresceu 60% em relação ao de maio. Carolina Ingizza
A pandemia trouxe prejuízos a negócios que iam bem e também abriu demandas pouco mapeadas. No meio do pandemônio corporativo, há quem veja valor em atirar para todos os lados. “A pandemia me ensinou a não ter só uma estratégia”, diz Eduardo L’Hotellier, fundador da GetNinjas, um aplicativo para contratar ajudantes gerais, como pintores e pedreiros. O medo dos clientes de pegar o vírus ao contratar um profissional afundou o carro-chefe da GetNinjas. Em abril, a demanda foi de 50% do normal pré-pandemia. A saída foi recrutar profissionais com atendimento à distância, como instrutores de ioga, fisioterapeutas e até professores de tricô. Hoje, 40% dos serviços são do tipo online. Em janeiro, eram 5%. Para recuperar o negócio original, o jeito foi distribuir álcool em gel e máscaras e ensinar os profissionais a atender pelo WhatsApp. Jogar em várias frentes deu certo: o app ganhou 650.000 clientes na crise. Leo Branco
Quem está na posição confortável de ver a demanda pelos produtos e serviços crescer no meio de uma recessão pode, também, aproveitar o momento para ampliar a base de fornecedores — evitando o risco de ficar sem matéria-prima quando a economia estiver bombando. O caso da empresa de marmitas prontas Liv Up, de São Paulo, é exemplar. Com a pandemia, o volume de encomendas dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, em boa medida pela legião de novos clientes — em geral trabalhadores órfãos do quilão perto do escritório e sem habilidades na cozinha. As receitas devem triplicar em 2020. Para não faltar feijão com arroz, os sócios da Liv Up passaram a comprar alimentos de dezenas de pequenos agricultores antes dedicados ao fornecimento de alimentos orgânicos a escolas públicas fechadas pela pandemia. A empresa não revela o faturamento, mas o apetite dos investidores dá uma pista do crescimento. Fundada em 2016, a Liv Up recebeu 90 milhões de reais em 2019. Leo Branco