(AndreyPopov/Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 24 de abril de 2017 às 06h00.
Última atualização em 24 de abril de 2017 às 14h26.
São Paulo – Muitas pessoas que sonham ter seu próprio negócio alegam a falta de dinheiro como o principal obstáculo para realmente fazer acontecer. Mas, na verdade, não é preciso ter grande capital para criar um empreendimento de sucesso: com estratégia, é possível fazer pouco rendimentos virar muito.
EXAME.com consultou diversos empreendedores que investiram até 25 mil reais para criarem seus negócios – um valor menor do que o de um Fiat Uno, o carro mais barato entre os populares do país, por exemplo. Eles contaram quais estratégias usaram para crescer, mesmo com um modelo enxuto.
Quer abrir sua própria empresa, mas não possui muito capital guardado no banco? Veja dicas de quem passou pela mesma situação e, hoje, está com um empreendimento de sucesso:
Lucas Paschoal começou a Híbrida Comunicação em 2015, com um investimento de 16 mil reais. Apenas no ano passado, o negócio faturou 165 mil reais.
“O primeiro passo é fazer uma autoanálise de quais são suas principais habilidades”, defende o empreendedor. “Empreender é otimizar custos o tempo todo. Então, quando se tem pouco capital para investir, é fundamental tirar proveito de toda sua experiência já adquirida no mercado para ganhar terreno e implementar ações que visam retorno logo no início das operações.”
Em 2015, os empreendedores Vinicius Andrade e Douglas Losacco investiram 10 mil reais para criar a Vesteer: uma plataforma de criação, venda e distribuição de produtos personalizados. No ano passado, o empreendimento faturou 5 milhões de reais.
“É preciso pensar grande, mas executar com os pés no chão”, diz Andrade. “Foi assim que comecei: planejando as ações de curto prazo da Vesteer para que os objetivos fossem alcançados mais rapidamente. Com isso, fui ganhando confiança para arriscar mais.”
Juca Oliveira iniciou as operações da B2Log, um marketplace brasileiro especializado em soluções de logística para o comércio eletrônico, com investimento de 5 mil reais – valor que recebeu quando saiu da última empresa em que trabalhou como funcionário. A empresa faturou 2,2 milhões de reais em 2016.
“Os primeiros passos são os mais difíceis em qualquer situação. Empreender não é diferente”, afirma. “Ter pessoas que apostam em você poderá contribuir para avanços importantes nessa etapa embrionária do negócio. Por exemplo, amigos e familiares dispostos a aportar pequenas quantias.”
Márcia Graf e Paulo Henrique de Moura fundaram a agência de moda CULTURE Lab* em 2011, com 5,5 mil reais.
“A dica é identificar um setor em que você possa realmente fazer a diferença”, afirmam os empreendedores. “Foque em um nicho específico. No nosso caso, a ideia foi trabalhar com um público-alvo de pequenas e médias empresas, no qual percebemos uma lacuna de mercado.”
A Saladorama é um negócio de impacto social fundado em 2014 pelo empreendedor Hamilton Henrique, com investimento inicial de 200 reais. Em 2016, o negócio, que empodera comunidades para produzir alimentos saudáveis, faturou 450 mil reais.
“Acredito que antes de oferecer um produto, o fundamental é entender e atender a demanda do mercado”, afirma Henrique. Segundo o empreendedor, é preciso achar os primeiros interessados em adquirir o serviço: assim, o negócio possui mais chances de dar um "tiro certeiro", sem perdas de capital na validação.
Lucas Martins investiu seis mil reais para criar a Minerador, site de produtividade para empreendimentos. “Antes produzir um software ou um hambúrguer, antes de alugar uma sala, antes de abrir um CNPJ e antes de se demitir do seu emprego, tente vender”, aconselha o empreendedor.
“Assim, você vai aprender muito mais rápido sobre seu cliente, o que faz sua ideia evoluir mais rápido e diminui o ‘time to market’ – o que, de quebra, também reduz o valor necessário para o investimento.”
A Evnts, uma empresa de tecnologia para reserva de hotéis online, foi criada em 2015 com um investimento de 10 mil reais. Em 2016, o negócio faturou 2,5 milhões de reais.
Alexandre Rodrigues, CEO da Evnts, recomenda que o empreendedor com poucos recursos faça um mínimo produto viável, ou MVP.
“Quando se trabalha com poucos recursos em tempo, dinheiro e pessoas, o importante é construir o produto à medida que as demandas vão surgindo. Construir um MVP é montar um produto mínimo para a resolução do problema do seu público e esse é o melhor método para aprendizado: se o público não se interessar, é mais fácil reformular o produto ou a estratégia do que quando já se gastou muitos recursos com um produto não testado.”
Eduardo L'Hotellier criou o GetNinjas, marketplace que conecta clientes a prestadores de serviço, com um investimento inicial de 700 dólares, para adquirir uma plataforma indiana.
"Conte sobre seu negócio para o máximo de pessoas possível. Isso vale mais do que o receio de que alguém poderá roubar sua ideia. Todo negócio tem concorrência e não é porque você lançou primeiro que será o líder do mercado”, defende o empreendedor.
“Essa divulgação será muito útil no dia em que você lançar seu negócio. No meu caso, essa estratégia ajudou para que o primeiro investidor chegasse até mim e me contatasse pelo LinkedIn. Logo depois, recebemos o primeiro investimento e fizemos o negócio crescer.”
Dorothea Soule e Fernanda Dennis fundaram a BabyJack no ano passado, com um investimento inicial de 22,5 mil reais. O negócio faz produtos para bebês, como a capa multifuncional para bebê conforto BabyShade.
“Apresente e ofereça seu produto ou serviço às pessoas próximas de você, para que possam conhecer e iniciar uma divulgação espontânea em seus círculos sociais”, recomendam as empreendedoras. “Acreditamos muito na mídia espontânea e, mesmo sendo a menos custosa, é a que traz um retorno mais efetivo.”
Miguel Andorffy começou a plataforma de ensino Me Salva! em 2013, a partir de um canal gratuito no YouTube. Em 2016, o negócio faturou 3 milhões de reais.
Ele recomenda que empreendedores façam uso de tudo que existe gratuitamente. “Espaço da universidade, internet do café, softwares, ‘trial’ de 30 dias de serviços de que você precise. A ideia aqui é não gastar nem um real que não seja absolutamente necessário."
Raphael Mattos investiu 10 mil reais para criar a rede de franquias de publicidade em sacos de pão PremiaPão. O negócio faturou 3,5 milhões de reais no ano passado.
O empreendedor conta que ele mesmo aprendeu mais sobre marketing e desenvolveu a comunicação do negócio – blogs e vídeos comerciais, por exemplo. “Esses trabalhos geram bastante custo caso sejam terceirizados. Quanto mais você conseguir botar a mão na massa, melhor!”
A plataforma de contratação de músicos Gigloop foi fundada em 2015, a partir de um investimento de 5 mil reais.
“O empreendedor deve determinar as necessidades iniciais da startup, avaliar as funções que pode exercer e, por fim, buscar cofundadores que consigam preencher as outras atividades, sem muito medo de dividir a posse da empresa”, recomendam os fundadores Fábio Gelbcke e Felipe Callado.
“Quando começamos o Gigloop éramos três: um fundador de negócios, um designer e um programador. Tínhamos as habilidades necessárias para desenvolver a primeira versão da plataforma e fazer uma distribuição inicial, até começar a gerar renda, sem necessidade de contratar empregados ou serviços externos.”
O Aqcez, escritório de arquitetura especializado no mercado corporativo, foi fundado em 2013, com um investimento inicial de 5 mil reais. Em 2016, o negócio faturou mais de 10 milhões de reais.
Eduardo Ventura e Marcos Dinóla, fundadores do empreendimento, recomendam o home office para poupar custos.
“Se o objetivo da empresa for vender serviços que são prestados nas dependências do cliente, pode ser uma boa maneira de iniciar um bom negócio sem ter um grande volume financeiro, sendo o tempo e o networking seus maiores investimentos. Foi o que nós fizemos, revertendo o capital que seria usado para a estrutura em material de portfólio e custos de visitas aos clientes”, diz Ventura.
A rede de franquias de entrega de bebidas Santo Bier foi fundada em 2012, com um investimento inicial de 14 mil reais. Em 2016, o negócio faturou 2 milhões.
Raphael Lanfredi recomenda, para empreendedores com pouco capital, pensar em um projeto que possua um estoque enxuto. “Sugiro que faça a conta ao contrário: calcule quanto de dinheiro você tem em mãos e, a partir disso, busque modelos de negócios que tenham um controle de estoque baixo, com produtos de comercialização rápida.”
O Balão da Informática foi criado em 1996, com 15 mil reais obtidos na venda de um veículo. Hoje, o negócio fatura acima de 10 milhões de reais por mês.
O fundador Fabrizio Marchese recomenda que empreendedores que não querem investir muito priorizem os negócios na área de serviços. “Ela não envolve investimento de capital em produtos e estoque, por exemplo.”
A Farmaki, plataforma que ajuda o consumidor a economizar em remédios, foi fundada no ano passado com um investimento inicial de 20 mil reais.
“Negócios digitais são perfeitos para quem tem tempo disponível e pouco capital para investir”, recomenda o empreendedor Felipe Chaves. “Uma boa ideia de aplicativo ou de serviço permite que você faça ajustes rápidos e refine sua oferta sem demandar capital de giro ou compra de ponto, por exemplo.”
A SuperGeeks, escola de programação e robótica para crianças e adolescentes, começou em 2014 com um investimento de 12 mil reais. Em 2016, a rede faturou oito milhões de reais.
Os fundadores Marco Giroto e Vanessa Ban recomendam, para empreendedores que realmente precisem arrumar dinheiro para abrir um negócio, apostar no financiamento coletivo. “O crowdfunding é uma das maneiras mais rápidas de levantar esse capital.”
“Como você já testou o interesse e tem uma base de pessoas interessadas no produto ou serviço, poderá vender o produto por um preço mais em conta nessa campanha, dando um prazo para entregar. Se seu produto for realmente interessante, as pessoas que se cadastraram inicialmente irão indicar outras pessoas e assim por diante.”
A Ostec, empresa de soluções em segurança da informação, começou em 2005 apenas a partir dos contratos que o empreendedor Cassio Brodbeck já atendia como pessoa física.
“Sem sombra de dúvidas, uma dica primordial é estar muito comprometido, na prática, com a qualidade das entregas dos seus produtos e serviços. Isso é transformador”, afirma. “Mesmo quando a empresa possui poucos clientes, execute cada projeto como se fosse algo único.”
O negócio de assistência técnica Hospital do iPhone começou com 15 mil reais, em 2014. No último ano, faturou 1 milhão de reais.
Seu fundador, André Reis, recomenda usar as redes sociais para divulgar seu negócio. “O alcance é alto e o preço baixo. Pelo Facebook, por exemplo, é possível divulgar as novidades da empresa e interagir com os clientes rapidamente, criando a identidade do negócio na mente dos consumidores.”
O Doutores do Excel foi criado em 2011, a partir de um investimento inicial de 5 mil reais para montar o primeiro escritório. No ano passado, o negócio faturou cerca de 700 mil reais.
Para o fundador Daniel Delgado, entender de marketing digital é primordial. “Se não, para conseguir aparecer nos buscadores, você irá ter que investir em uma mão de obra que possua este conhecimento.”