Ideia de negócio: 2017 será um ano também difícil, com grande demanda por inovação (Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 19 de dezembro de 2016 às 10h24.
São Paulo – Neste ano, o Brasil experimentou um boom do empreendedorismo. Muitos resolveram criar seu negócio, fugindo de um mercado de trabalho com poucas oportunidades.
Para os que se inspiraram com os casos de sucesso e pretendem seguir o mesmo caminho em 2017, um alerta: o próximo ano promete ser macroeconomicamente difícil. Mas, ao mesmo tempo, haverá muita oportunidade para quem trouxer inovação.
Essa é a análise dos especialistas consultados por EXAME.com, que estimam um próximo ano igual ou pior do que o de 2016, em termos de situação econômica.
“Eu acredito que o próximo ano vai ser o fundo do poço: ainda vamos afundar mais um pouco, em comparação com 2016”, analisa Luis Henrique Stockler, da consultoria ba}STOCKLER.
Já João Bonomo, professor de empreendedorismo do Ibmec/MG, espera que a situação se mantenha do jeito que está agora – ou seja, ainda inóspita. “Mas também será mais latente a utilização da criatividade. Repensar o modelo de negócio e buscar inovações será importantíssimo para qualquer empreendedor que queira abrir seu empreendimento no próximo ano.”
Essa inovação é procurada inclusive por grandes empresas, que também buscam recuperar-se do impacto da recessão. “Vimos um grande crescimento da procura por empreendedores e suas ideias por parte de líderes de mercado neste ano. Em 2017, acreditamos que o cenário se repetirá”, diz Bruno Rondani, criador do movimento de inovação aberta 100 Open Startups.
Ficou animado para abrir seu próprio empreendimento no próximo ano, apesar do cenário desafiador? Confira, a seguir, algumas ideias de negócio que têm tudo para dar certo em 2017: dos setores mais tradicionais até os mais inovadores.
A alimentação fora de casa é uma tendência que vem de anos e deve continuar sendo forte em 2017.
Isso porque a urbanização é cada vez mais intensa pelo Brasil – e esse fenômeno vem acompanhado de uma falta de tempo para cozinhar refeições nos dias de trabalho. “As pessoas irão continuar a comprar comida fora de casa, cada vez mais”, diz o consultor da ba}STOCKLER.
Por isso, negócios que trabalham com delivery ou que vendem comida pronta para supermercados, por exemplo, podem se dar bem no próximo ano. Para melhorar suas chances, o empreendedor também pode apostar em uma outra tendência, a de alimentação saudável, e oferecer pratos práticos e voltados ao emagrecimento e à nutrição consciente.
O setor de beleza, assim como o de alimentação, apresenta um comportamento mais estável dentro do mercado brasileiro: a demanda por serviços como cortes de cabelo, depilação e manicure continua durante recessões econômicas, mesmo que a frequência possa ser menor.
Por isso, pode ser uma boa ideia para 2017 apostar em um empreendimento de beleza diferenciado e com boa localização.
“Na crise, as pessoas buscam preservar sua autoestima, até como um procedimento psicológico de autoproteção”, explica Stockler. “No Brasil, beleza é um setor enorme e dificilmente não irá se expandir.”
Os serviços de conserto ganharam força com a recessão econômica: no lugar de trocar produtos assim que eles quebram, os brasileiros estão procurando formas mais baratas de manter o que já possuem.
Isso é especialmente verdade quando se fala em produtos de alto preço, como os automóveis. Por isso, serviços de conserto automotivo estão em alta e a situação pode se manter assim no próximo ano.
“Há muitos carros em estoque nas concessionárias. As pessoas não estão procurando novos automóveis, e sim querem manter a manutenção dos atuais. Enquanto as vendas de novos carros provavelmente não vão acelerar em 2017, a manutenção irá”, diz Stockler.
Os serviços de customização seguem um princípio parecido com o dos negócios de conserto. No lugar de comprar produtos de alto valor agregado, os brasileiros estão optando por adquirir itens mais básicos e, então, contratar uma customização. Com isso, é possível obter um resultado parecido ao original ou mais exclusivo sem gastar muito.
É o caso de estamparias de camisetas, por exemplo. “São negócios que agregam serviços e podem dar personalização aos produtos. As pessoas têm procurado muito dar a cara delas e um propósito ao que compram. É uma ferramenta mercadológica muito intensa”, analisa Bonomo, do Ibmec/MG.
A sustentabilidade é uma grande tendência e, cada vez mais, as pessoas estão pensando em novas formas de reaproveitar produtos ou serviços parados em casa – inclusive pensando em uma renda extra.
Esse compartilhamento de capacidade ociosa é o que chamamos de economia compartilhada (saiba mais sobre esse movimento).
Bonomo, do Ibmec/MG, exemplifica bem como um negócio de economia compartilhada funciona. “Quando você precisa fazer um furo na parede, o que exatamente você deseja: a furadeira ou o furo em si? Então, você pode alugar uma furadeira. O negócio de economia compartilhada deve fazer uso de produtos de uma forma mais otimizada, com menor impacto ambiental.”
Negócios que consigam captar essa tendência podem se dar muito bem em 2017, repetindo o sucesso de empresas como Airbnb e Uber. Pense em aluguel de brinquedos, carros, joias, roupas, obras de arte ou em qualquer produto que você usa pouco e pode ser compartilhado.
Não é de hoje que o ensino precisa procurar formas mais lúdicas de transmitir o conhecimento. Com a tecnologia, essa meta torna-se mais palpável: cada vez mais startups têm gerado soluções que permitem, por exemplo, uma maior interação entre docentes e estudantes e o acesso ao conteúdo em múltiplas plataformas.
Rondani ressalta que essa valorização de novos processos educacionais é notada também no universo profissional: negócios que têm como meta fazer os funcionários serem mais produtivos atraem muita atenção das grandes corporações. Especialmente no Brasil, onde ainda é preciso dar um salto de eficiência.
Seu negócio pode oferecer cursos e workshops focados em criatividade e empreendedorismo, por exemplo, com o objetivo de os funcionários continuarem relevantes em suas profissões – ou até reformularem suas funções.
O ensino de conceitos de programação e dos softwares usados em cada empresa também é uma tendência. Outros conceitos em alta são a criação de redes virtuais de aprendizado e a gamificação de conteúdos.
A indústria brasileira perdeu competitividade ao longo dos últimos anos, na análise da Rondani, do 100 Open Startups. Por isso, agora há demanda por negócios que tragam novamente eficiência e flexibilidade na produção e no processo logístico desse setor.
Alguns exemplos de ideias de negócios nessa área são soluções para reduzir o consumo de água e energia; para reaproveitar materiais descartados ao longo da produção industrial; e para automatizar e digitalizar a gestão do negócio.
Não é novidade que os serviços públicos de saúde não conseguem dar conta do tamanho da demanda recebida. Então, há empreendimentos surgindo nos últimos anos com o propósito de fornecer uma saúde privada, mas de baixo custo.
“A receita de sucesso está em excelência de atendimento combinada com preços populares. É para quem não quer morrer na fila do SUS, mas não tem como manter um plano de saúde”, resume Stockler. “O Estado não consegue entregar, então os empresários estão inovando. O serviço do Estado vai demorar muito para atingir esse nível de excelência, o que representa uma boa oportunidade para os negócios.”
Rondani, do 100 Open Startups, ressalta outras tendências de saúde: os serviços de prevenção de doenças e os voltados para a terceira idade.
No primeiro caso, há uma grande associação com a popularização dos smartphones. “É possível fazer a monitoração de grupos de risco via aplicativos, elaborar avisos para tomar remédios no horário correto ou então lançar um aplicativo de estímulo para exercícios, por exemplo”, explica Rondani. “A tecnologia moderniza a relação com o setor de saúde, dialogando diretamente com o consumidor e não mais só pelo profissional de saúde.”
Há também uma oportunidade ligada ao envelhecimento da população. Essa mudança demográfica abre espaço para negócios que apostem na saúde da terceira idade. Caso o modelo de negócios seja bem sucedido, é uma garantia de empreendimento de longa vida.
A maior parte da população mundial já vive em áreas urbanas e esse número tende a aumentar ainda mais nas próximas décadas. Mas, com isso, surgem diversos desafios. Em metrópoles como São Paulo, por exemplo, há vários obstáculos na hora de gerir o funcionamento da cidade.
Por isso, Rondani destaca que há muitas oportunidades de desenvolver negócios que tragam inovações para problemas de urbanização. “Esses problemas vão desde a logística da cidade até questões de sustentabilidade”, explica o fundador do 100 Open Startups.
Alguns exemplos de ramos para startups explorarem e oferecerem soluções são emissão de poluentes, gasto de energia, infraestrutura, mobilidade e segurança pública.
As pequenas e médias empresas compõem mais de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) e mais da metade dos empregos gerados no país, segundo um estudo do Sebrae de 2014. Nos últimos anos, categorias como microempreendedores individuais (MEIs) e trabalhadores autônomos se popularizaram.
Mesmo com alguns exemplos de empresas que já oferecem serviços voltados para PMEs, há ainda muitas áreas que precisam ganhar soluções inovadoras, como contabilidade e tecnologia da informação.
“Comercializar de empresa para empresa gera mais recorrência e um volume de compra maior do que o visto na relação com o consumidor final, de varejo. Para muitos negócios, essa opção B2B acaba sendo mais interessante”, explica Rondani.