Xeque Mate completa 10 anos e mira os R$ 200 milhões de receita (Xeque Mate/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 1 de março de 2025 às 10h00.
A lata verde com uma bebida feita de chá-mate, rum, guaraná e limão já pode ser considerada um clássico nos bloquinhos de Carnaval. A Xeque Mate, criada em Belo Horizonte há dez anos pelos amigos Gabriel Rochael e Alex Freire, começou como um drinque universitário e hoje disputa espaço com as grandes marcas do setor de bebidas alcoólicas prontas para consumo.
Depois de ganhar mercado em São Paulo, a marca direciona sua estratégia de crescimento para o Rio de Janeiro, a terceira maior praça da empresa. A ideia é marcar presença no Carnaval carioca, o período mais importante de vendas da companhia.
"Queremos fechar 2025 com o Rio consolidado como um dos nossos principais mercados. O Carnaval é um termômetro importante para medir essa evolução", diz Alex Freire, fundador e diretor-executivo do Grupo Xeque Mate Bebidas.
Nos primeiros anos, a Xeque Mate circulava quase exclusivamente nos bares e festas de Belo Horizonte. Mas no Carnaval pós-pandemia, a bebida explodiu fora de Minas Gerais e ganhou espaço em outros estados. De lá para cá, o crescimento foi acelerado. Em 2024, a empresa faturou 200 milhões de reais, quase o dobro do ano anterior. O próximo passo é se aproximar dos foliões no Carnaval do Rio de Janeiro, um mercado que já representa 15% das vendas da marca e deve chegar a 20% até o fim do ano.
A aposta no Rio segue uma estratégia parecida com a que funcionou em São Paulo. Há três anos, a marca começou a fortalecer sua distribuição na capital paulista e, hoje, o estado representa uma fatia relevante do faturamento da empresa. A presença no varejo e nos eventos foi essencial para essa expansão, e o plano é repetir a fórmula no Rio.
Quer ver sua em uma matéria da EXAME? Inscreva-se no ranking Negócios em Expansão. É grátis!A Xeque Mate surfa em um mercado que cresce rápido. O setor de bebidas prontas no Brasil registrou um aumento de 60% no consumo entre 2020 e 2022, segundo dados da Nielsen Scantrack. Além disso, a consultoria IWSR projeta que, até 2025, as bebidas ready-to-drink serão responsáveis por 8% de toda a indústria de bebidas alcoólicas. O segmento ainda tem espaço para crescer, especialmente entre os consumidores mais jovens: mais de 70% do público desse tipo de produto é formado por millennials e geração Z.
"A Xeque Mate tem essa pegada de ser uma bebida que encaixa bem em qualquer momento. Tem álcool, mas não é pesada. Tem guaraná, mas não é doce demais. E o mate dá um sabor que o público reconhece", diz Gabriel Rochael, cofundador da marca.
A empresa vem ajustando sua produção para acompanhar o crescimento da demanda. Em 2023, fabricava 4 milhões de latas por mês. No ano seguinte, esse número subiu para 5 milhões. A fábrica de Belo Horizonte produz o concentrado da bebida, enquanto o envasamento ainda é parcialmente terceirizado. A capacidade total de produção é de 1 milhão de litros por mês, e novos investimentos devem ampliar esse volume nos próximos anos.
Os mineiros Gabriel Rochael e Alex Freire, fundadores da bebida Xeque Mate (Xeque Mate/Divulgação)
O modelo de distribuição da Xeque Mate foi desenhado para garantir que a marca estivesse presente em diferentes regiões do Brasil sem perder eficiência logística. Hoje, a empresa opera em 15 estados e segue um modelo híbrido, combinando grandes redes de varejo com distribuidores regionais.
A produção começa na fábrica da Xeque Mate, localizada em Belo Horizonte, onde é feito o concentrado da bebida. Esse concentrado é então enviado para diferentes unidades de envase. A ideia é internalizar essa etapa da produção neste ano. A fábrica própria tem capacidade para produzir 1 milhão de litros por mês.
Em cada estado, a Xeque Mate trabalha com distribuidores específicos que conhecem bem o mercado local e garantem que a bebida chegue aos bares, festas e pontos de venda estratégicos. Essa descentralização permitiu que a marca expandisse rapidamente sem precisar montar uma operação própria em cada cidade.
"O segredo foi entender como cada praça funciona. Em Belo Horizonte, o boca a boca e os bares impulsionaram a marca. Em São Paulo, o varejo teve um peso maior. No Rio, estamos equilibrando os dois canais para chegar mais forte ao consumidor", explica Freire.
A marca também já entrou nas principais redes de supermercados do Brasil, aumentando sua capilaridade e conquistando um novo perfil de consumidor. Segundo os fundadores, esse movimento foi essencial para o crescimento do faturamento nos últimos anos.
O Carnaval sempre foi um ponto central para a Xeque Mate. A marca nasceu dentro da folia de Belo Horizonte e cresceu de forma orgânica entre os blocos de rua e as festas universitárias. A estratégia agora é reforçar ainda mais essa conexão. Neste Carnaval, a marca colocou 6 milhões de latas no mercado e lançou uma edição especial comemorativa de 10 anos, com 2 milhões de unidades distribuídas no Rio, São Paulo e Minas Gerais.
Além disso, patrocinou cinco blocos de rua, com um aporte de 15 mil reais para cada um. Em Belo Horizonte, os escolhidos foram o Folia Por Elas, o Bloco do Sebá e o Bloco Açaí Guardiã. Em São Paulo, o Ezatamentchy recebeu o patrocínio, e no Rio de Janeiro, o Vem Cá Minha Flor foi contemplado. O objetivo da marca é fortalecer sua presença onde a bebida já é consumida de forma natural, sem interferir diretamente no modelo dos blocos.
Os primeiros resultados já apareceram antes mesmo do Carnaval terminar. O faturamento cresceu mais de 50% nos últimos três meses, chegando a 50 milhões de reais.
O plano de crescimento da Xeque Mate também passa por novidades no portfólio. Para 2025, a empresa prepara o lançamento de duas novas versões da bebida: uma sem álcool e outra de baixa caloria. A ideia é atender um público que busca opções de bebidas mais leves.
O mercado brasileiro de cerveja sem álcool cresceu mais de 400% entre 2018 e 2024, saltando de 133 milhões para cerca de 750 milhões de litros vendidos, de acordo com levantamento da Food Conection. A busca por produtos menos calóricos vai além das bebidas e já movimenta um mercado bilionário.
Além dos novos produtos, a Xeque Mate tem ampliado sua atuação para outras áreas. Em parceria com a marca de moda Baw Clothing, lançou a coleção streetwear. Outra aposta é o Xeque Mate Estúdios, um espaço voltado para produção de conteúdo musical e cultural, que contará com lives de DJs, entrevistas e podcasts, com participação de artistas como FBC, Renan 1RG e Lírios.
A marca mineira segue um caminho que muitas empresas de bebidas tentam trilhar: transformar seu produto em um fenômeno de mercado. O faturamento dobrado em um ano mostra que a estratégia tem funcionado, mas o desafio agora é consolidar essa posição e competir em um setor dominado por gigantes da indústria.
O mercado de bebidas prontas para consumo tem ficado cada vez mais competitivo no Brasil, especialmente durante o Carnaval. A Xeque Mate disputa espaço com gigantes do setor, como a Ambev, que domina o segmento com a linha Beats e a Smirnoff Ice. Além disso, grandes cervejarias, como Heineken e Grupo Petrópolis, têm investido em drinks enlatados para ampliar seu portfólio. Outra concorrente direta é a Lambe Lambe, bebida mineira feita de frutas fermentadas, que vem ganhando popularidade nos blocos de rua e foi apelidada de "amarelinha do Carnaval".
Apesar da força das grandes marcas, a Xeque Mate tem se consolidado como uma alternativa mais artesanal e independente, conquistando espaço entre os consumidores que buscam novidades além das opções tradicionais. "A gente conseguiu juntar três coisas muito legais: um sabor muito único, energia e a praticidade", diz Gabriel Rochael, cofundador da marca.
Mesmo com a ascensão da marca, os desafios de crescimento continuam. "Construção de marca é uma coisa lenta. É estar presente nos pontos de venda, ter um time comercial e de marketing grande. Mas a gente gosta disso", diz Alex Freire.
"O setor de bebidas prontas ainda está em construção no Brasil. Lá fora já é gigante, e estamos bem posicionados para crescer aqui também", completa.
A Xeque Mate já deixou de ser um segredo de festas universitárias e se tornou um nome conhecido no mercado. Agora, a disputa é por espaço nas prateleiras e nos copos de um público cada vez maior.