Premiere da temporada final de 'Game of Thrones': é a primeira vez que a série, encerrada neste ano, participa do Emmy (Jeff Kravitz/FilmMagic for HBO/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 20 de maio de 2019 às 18h00.
Última atualização em 20 de maio de 2019 às 18h10.
No ano passado, durante a sétima e penúltima temporada da série Game of Thrones, a rede de televisão HBO viu seu número de assinantes (da TV e de suas plataformas de streaming, o HBO Go e HBO Now) subir nada menos que 91%, de acordo com a empresa de medidas de audiência Second Measure. O problema é que, seis meses após o fim da temporada, mais de 70% desses novos assinantes haviam cancelado o serviço.
O mesmo deve acontecer agora que a HBO levou ao ar neste domingo, 19, o episódio final da série em que nobres e guerreiros disputaram por oito temporadas o trono do reino fictício de Westeros. Baseada na série de livros "As Crônicas de Gelo e Fogo", do escritor norte-americano George R. R. Martin, a série estreou em 2011 na televisão e é responsável pela maior audiência da HBO em sua história.
Viver sem GoT será uma tarefa difícil. Game of Thrones trouxe à emissora o triplo de audiência do que a segunda série mais assistida do canal, Westworld, que fala sobre um parque futurista que simula o Velho Oeste e onde participantes podem fazer o que quiserem.
A audiência, porém, não deve se manter. De acordo com uma pesquisa da consultoria Mintel, os usuários do HBO Now são duas vezes mais propensos a cancelar sua assinatura quando uma série específica termina, em comparação aos clientes de outros serviços de streaming (19% dos usuários cancelariam o serviço da HBO, ante 9% da Netflix e 10% da Amazon Prime).
Enquanto os minutos finais de GoT se desenrolavam no domingo nas televisões do mundo, os executivos da HBO adentravam uma nova e complicada era. Sai a aclamada série, considerada por muitos como a última grande série de televisão, entra o que promete ser uma queda dos assinantes de TV e uma famigerada guerra por espaço no streaming.
A HBO tem mais de 100 milhões de assinantes na TV, que, automaticamente, ganham acesso à plataforma de streaming HBO Go. Já o HBO Now, plataforma em que o assinante paga somente pelo streaming, tem mais de 8 milhões de usuários.
O futuro da companhia será afetado pela compra da Warner, dona da HBO, pela empresa de telecomunicações AT&T, autorizada em fevereiro deste ano. Com a transação, o conteúdo da HBO deve fazer parte do serviço que a Warner irá lançar em breve para competir com rivais como Disney e Netflix. Assim, a Warner poderá oferecer “Game of Thrones” ao lado de títulos de sucesso, como os filmes de “Harry Potter” e o seriado “Friends” - e, potencialmente, descontinuar o HBO Now.
A Disney anunciou neste ano seu novo serviço de streaming, o Disney+, com a assinatura mais barata dos Estados Unidos. Na plataforma da Disney, animações clássicas como “Rei Leão” e “A Branca de Neve” estarão lado a lado com sucessos de bilheteria, como “Vingadores”, e com seriados clássicos, como “Os Simpsons”.
A Apple ainda vai lançar neste ano seu serviço de vídeo sob demanda, também com produções próprias. Tentando se preparar para manter a liderança neste mercado, a Netflix vem investindo cada vez mais em conteúdo próprio para sobreviver quando não tiver mais clássicos como "Friends" e animações da Pixar em seu catálogo.
Com tantas opções, conquistar a lealdade desses assinantes é desafiador. O mesmo estudo da Second Measure mostrou que só um terço dos assinantes do HBO Now assinam apenas a plataforma, ante 78% de exclusividade dos usuários da Netflix. Comprovando a teoria de que cancelar o que é secundário é muito mais provável, já pipocam pela internet matérias explicando "como cancelar" o HBO Now agora que Game of Thrones terminou.
A estratégia da HBO, tal qual a da Netflix, será investir em produzir mais conteúdo próprio para bombar o HBO Now. Contudo, a ideia é não fazer somente episódios de mais de 10 milhões de dólares cada, como aconteceu em GoT.
John Stankey, executivo responsável pela Warner, já declarou que irá destinar mais orçamento à HBO para que a produção de conteúdo premium aumente, mas fazendo mais com menos. “A AT&T quer criar uma estratégia mais coesa entre as suas diferentes unidades, o que não significa que a HBO não produzirá mais séries grandes como Game of Thrones, mas pode reduzir a escala das séries se os recursos forem espalhados para ampliar o fluxo de conteúdo”, afirma Inouye.
Parte da estratégia da HBO também é continuar usando o mundo de Westeros para ganhar dinheiro até onde der: a emissora planeja construir um parque temático sobre a série na Irlanda do Norte, além de fazer, para os próximos anos, uma nova produção com histórias que ocorreram antes da trama original.
Em um cenário pós-GoT, a guerra entre Warner, Disney e Netflix pelas produções audiovisuais pode se mostrar tão difícil e sangrenta quanto conquistar o trono de ferro.