Daniel Izzo, da Vox Capital: "Nós estamos começando a sair na rua com ele” (Vox Capital/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 19 de fevereiro de 2024 às 08h15.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2024 às 10h49.
A Vox Capital está indo ao mercado para captar um novo fundo no valor de R$ 200 milhões. O fundo é o quarto proprietário da casa, criada em 2009 e dedicada a investimentos em negócios de impacto socioeconômico e ambiental. O novo produto dá continuidade ao Tech For Good Growth 1, veículo que captou R$ 189 milhões em 2021.
Nos últimos três anos, o fundo investiu em startups como Nude, de produtos à base de aveia, Celcoin, de inclusão financeira, e Vitalk, de saúde mental, adquirida pelo Gympass em 2022. No momento, o valor residual permite apenas mais dois aportes, além de follow-ons. Os cheques para o veículo, focado em rodadas em séries A e B, variam entre R$ 10 e R$ 50 milhões.
A expectativa é de que o novo produto seja captado entre este ano e o próximo. “Nós estamos começando a sair na rua com ele”, afirma Daniel Izzo, fundador e CEO da Vox. Com 14 anos de atuação, a gestora investiu em mais de 60 startups e tem mais de R$ 1 bilhão sob gestão.
O valor, próximo ao do fundo de 2021, guarda conexão com o cenário atual, ainda com recursos escassos no mercado e dependente de medidas macroeconômicas.
“Agora é um momento que imaginamos mais difícil de captar do que em 2020 e 2021. Se nós repetirmos o valor do fundo anterior - e o track record permite almejarmos isso -, nós estaremos feliz”, afirma Izzo. O montante buscado é o maior da história da Vox. Antes do Tech, em seu segundo produto, a casa tinha obtido cerca de R$ 50 milhões.
Para o novo fundo, a Vox mantém a tese de investimentos com foco em startups cujos serviços e produtos promovem impacto socioeconômico e ambiental. A tendência, porém, é que a balança pese mais para iniciativas dedicadas ao meio ambiente, à medida que as questões do clima avançam.
“O social sempre estará na nossa tese de impacto, mas, mais recentemente, temos visto um apelo muito forte que é um problema cross”, afirma Livia Brando, diretora de venture capital da Vox Capital. “Qualquer setor está olhando para a transição energética, redução dos gases de efeito estufa e descarbonização da cadeia de valor”, diz a executiva com passagens pela liderança da Wayra, plataforma de inovação da Vivo, e ex-diretora de inovação da EDP.
Não por acaso, a gestora está preparando novos produtos financeiros direcionados à sustentabilidade. A divisão, sob o nome de “soluções baseadas na natureza”, deve anunciar o seu primeiro produto até junho. Pelo modelo, a Vox cuida da estruturação das ofertas, direcionadas a crédito em sua maioria, e traz um parceiro como responsável pela execução.
“Nós estamos olhando para reflorestamento, pecuária sustentável, agricultura regenerativa e recuperação de pastos e de terras”, diz Izzo. “Nós sabemos que para o clima não basta só o VC, as startups. Nós temos que trabalhar com coisas mais profundas, como terra e modelo de produção”.
A gestora fez um primeiro momento neste sentido no último com o lançamento de um Fiagro no valor de R$ 500 milhões para a recuperação de áreas degradadas no Cerrado. O oferta não andou e acabou cancelada.
Segundo o executivo, a conjuntura econômica, a falta de liquidez do produto, com vencimento em 10 anos, além da parceria, entendida como recente pelo mercado, fizeram com que o mercado não avançasse. Nada o chocou mais, porém, do que a pergunta de alguns gestores sobre o porquê da compra de terras degradadas logo que é mais barato comprar áreas com árvores e desmatar.
“Nós ouvimos isso de mais de um alocador de recursos, o que, na verdade, é mais preocupante. Mostra uma total desconexão do mercado financeiro com o mundo real”, afirma Izzo. São esses aprendizados que a casa tem levado em conta na estruturação dos ativos com a nova unidade de negócio.
O projeto traz ainda uma outra dinâmica, buscando se aproximar de investidores pessoas físicas. Nos fundos de VC da casa entram mais family offices, investidores institucionais e órgãos de desenvolvimento.
Nesses produtos, a escolha passa por se conectar com um público maior e ainda carente de informações sobre veículos estruturados para entregar rentabilidade e por impacto positivo.
“Como casa de venture capital, nós ficamos restritos ao investidor profissional. Então, automaticamente, democratizamos o acesso a esse tipo de solução”, afirma Marcos Olmos, diretor de Venture Capital e líder da área de CVC (Corporate Venture Capital) na Vox.
A primeira iniciativa da gestora para o investidor pessoa física foi um um fundo de renda fixa lançado em 2022 e disponível a partir de 100 reais. O produto investe em debêntures de empresas listadas na bolsa que estejam em acordo com alguns dos 17 compromissos do ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.
Criada como uma gestora de VC stricto sensu, a Vox nasceu em um tempo em que o termo 'impacto' nem existia. Mais restrita ainda era a concepção de que os negócios podiam combinar lucro e resultados para a sociedade. Pioneira neste caminho, a casa tinha pouco mais de 200 milhões sob gestão no início da pandemia.
“Quando eu, em 2009, imaginava 2024, quase como uma ficção científica, pensava que a ficha já teria caído, que as coisas estariam bem mais resolvidas e que as pessoas estariam mais preocupadas com o que o nosso dinheiro está fazendo. É um conhecimento que pouco avançou”, afirma Izzo. A gestora registrou crescimento mais acelerado nos últimos anos, período em que a pandemia mostrou a emergência de pensar em novos cenários.
A expansão se deu também com a incorporação, além dos fundos proprietários, dos CVCs (Corporate Venture Capital), gerindo as iniciativas de inovação aberta de grandes corporações. Quem abriu os olhos da gestora para este setor foi o Hospital Albert Einstein, o primeiro a ter um CVC sob gestão da Vox, em 2021. O fundo, com o valor de R$ 100 milhões, investe em negócios embrionários em soluções de saúde.
Depois do grupo hospitalar, chegaram o Banco do Brasil e, mais recentemente, a Copel, empresa de energia do Paraná, com um fundo de R$ 150 milhões. Ambos, conquistados a partir de editais.
Os fundos de corporações investem em estágio seed, pré-seed e até em rodada série A. O último, da Copel, contribuiu, inclusive, para um marco importante na história da gestora: superar o montante de 1 bilhão em ativos sob gestão.