Soja: a Argentina é um país exportador de grãos com vocação natural (Darren Hauck)
Da Redação
Publicado em 22 de abril de 2013 às 17h40.
Buenos Aires - Os últimos anos deveriam ter sido de um boom para o setor agrícola da Argentina e seus agricultores. A demanda por alimentos é crescente e o país da América do Sul é um exportador de grãos com vocação natural.
No entanto, a receita com agricultura está caindo em toda a região dos Pampas, enquanto a produtividade da soja estagnou devido à alta inflação e à falta de rotação de culturas necessária para manter os solos saudáveis.
Um plantio mais intenso de milho é necessário para quebrar o vício da Argentina com o dinheiro rápido oferecido pela soja, e para o país atingir sua própria meta de aumentar a produção agrícola total em 60 % em cinco anos.
Como Argentina pode chegar lá? Os pessimistas dizem que necessárias mudanças na política do governo estão sendo adotadas muito lentamente, se é que estão. Os otimistas veem sinais positivos, como a recente mudança no sistema de cotas de exportação de milho do Estado, no qual o total exportável será anunciado de uma só vez, bem antes do plantio em maio.
Quem quer que esteja certo, o fato é que Argentina --cuja área produtiva dos Pampas é maior do que a França-- é um dos países que poderá colaborar para atender a demanda mundial de alimentos, que deve dobrar nas próximas décadas.
Um fornecimento inadequado de importantes produtores, como Argentina, Brasil e Rússia, aumentaria os riscos de segurança alimentar global e dificultaria a situação de países carentes da África.
A Argentina é a terceira exportadora global de soja em grão e a maior fornecedora de farelo de soja, usado para alimentar animais da indústria de carne. O país ainda é líder na exportação de óleo de soja, matéria-prima que também é usada na produção de biodiesel, um mercado crescente.
Mas políticas míopes sobre o planejamento da lavoura e a falta de rotação entre milho e a soja estão nublando o horizonte dos Pampas para os investidores.
"Os rendimentos da soja estão estáveis e os lucros dos fazendeiros estão sendo erodidos pelos custos", disse o cientista-chefe da câmara da indústria de fertilizantes Fertilizar, com sede em Buenos Aires, Martin Diaz-Zorita.
A produtividade de soja na Argentina têm estado estagnada durante uma década em cerca de 2,6 toneladas por hectare, disse ele, enquanto o rendimento do milho subiu cerca de quatro vezes mais. Mas há uma armadilha.
Agricultores recuaram no plantio de milho e do trigo, pois ambos estão sujeitos a cotas de exportação que complicam o planejamento das culturas. Mesmo com a nova política de fixação de montantes de excedentes exportáveis a tempo para o plantio, as cotas podem mudar durante a temporada, dependendo das condições de cultura e da procura interna esperada.
"Se as políticas governamentais continuarem como estão, o negócio de soja continuará sendo estrangulado, juntamente com o milho e o trigo", disse Diaz-Zorita.
Quase 65 % das terras agrícolas da Argentina são plantados com soja, enquanto a quantidade ideal seria 50 %. As consequências do desequilíbrio incluem o aumento de insetos e ataques de doenças, o que prejudicou o rendimento e aumentou os custos com pesticidas para os produtores, que já têm que lidar com uma inflação alta.
O desequilíbrio deve se agravar na próxima temporada com uma possível safra recorde de milho dos EUA reduzindo os preços e empurrando os agricultores argentinos ainda mais para a soja, para a qual o governo cobra um imposto de 35 % sobre as exportações.
Monsanto otimista
O vice-presidente para a América Latina da empresa de biotecnologia Monsanto, Pablo Vaquero, disse à Reuters que está otimista de que o governo será forçado a evoluir para um modelo que promova o milho.
Ele destaca a decisão deste ano sobre o novo sistema de cotas de exportação, dando aos agricultores mais tempo para planejar suas lavouras.
A produtividade de milho praticamente dobrou nos últimos dez anos para cerca de 11 toneladas por hectare, enquanto a produção de soja se estabilizou em menos de 3 toneladas por hectare. Mas cada vez que um agricultor argentino planta soja em um campo que teve colheita de milho a produtividade da oleaginosa cresce cerca de 17 %.
Então, se o governo espera atingir sua meta de 160 milhões de toneladas de produção agrícola em 2018, em comparação com 100 milhões atualmente, o cultivo de milho precisa aumentar.
Com a safra 2012/13 já sendo colhida, o governo espera uma produção de 51,3 milhões de toneladas de soja e de 25,7 milhões de toneladas de milho.
Gerenciamento da economia
Restrições a exportações na Argentina são destinadas a assegurar preços acessíveis de alimentos domésticos, mantendo uma certa quantidade de milho e trigo no país.
Os futuros da soja, milho e trigo estão em alta até agora este ano.
As restrições também levam os agricultores para o plantio da soja, que é fortemente tributada. As receitas com a exportação da oleaginosa são cada vez mais importantes para a presidente Cristina Kirchner, cuja popularidade está se deteriorando desde que foi reeleita em 2011 com promessas de redistribuição da riqueza para sua base nos subúrbios de Buenos Aires.
Com as reservas do banco central em patamares mínimos em seis anos, o governo precisa de dinheiro para compensar a confiança do investidor abalada por anos de intervenção governamental.
"A visão de curto prazo da maioria dos agricultores tem sido imposta a eles pelas políticas governamentais voltadas para pressionar os seus lucros", disse o economista agrícola Manuel Alvarado Ledesma.