Muppets, Scooby-Doo e Dragon Ball: desenhos que ficaram "brasileiros" com os estúdios de dublagem Álamo, Herbert Richers e Gota Mágica (Reprodução)
Repórter de Negócios
Publicado em 9 de dezembro de 2023 às 09h05.
Última atualização em 3 de junho de 2024 às 10h47.
Assistir a desenhos como Scooby-Doo, Corrida Maluca, He-Man e Cavaleiros do Zodíaco nos anos 1970, 1980 e 1990 tinha um gostinho especial no Brasil. E só aqui. Antes da animação de fato começar, os telespectadores ouviam a talvez uma das frases mais escutadas pelas crianças brasileiras das últimas décadas do século passado. A famosa “versão brasileira”, que apresentava os estúdios de dublagem responsáveis pelas vozes brasileiras dos clássicos desenhos.
Se você assistiu televisão ou foi ao cinema naquela época, certamente ouviu algumas das frases abaixo.
Num país onde a maioria das pessoas preferem filmes dublados a legendados (uma pesquisa de 2015 indica que seis a cada 10 pessoas preferem assistir aos filmes com vozes brasileiras), os estúdios de dublagem viraram um show à parte e conquistaram um espaço especial no coração (e na memória) dos brasileiros, que até hoje perguntam: por onde andam esses clássicos estúdios do século passado?
A EXAME foi atrás das respostas.
Talvez o mais conhecido dos estúdios de dublagem, Herbert Richers foi inaugurado no Rio de Janeiro na década de 1950 e chegou a dublar 70% dos filmes que passavam nos cinemas brasileiros.
Fundado por um empresário de mesmo nome, o estúdio nasceu de uma conversa que Richers teve com ninguém mais, ninguém menos que Walt Disney. O gigante do entretenimento mundial estava no Rio de Janeiro e precisava de alguém para fazer imagens da cidade. Herbert assumiu a função e ficou próximo de Disney. Anos depois, visitou os estúdios da gigante nos Estados Unidos e recebeu a sugestão de dublar os seriados da empresa para o Brasil.
Foi o início de décadas de bonança e liderança no setor.
No início dos anos 2000, a empresa entrou numa crise financeira, da qual nunca saiu. Mudanças sindicais permitiram que artistas tivessem mais flexibilidade nos contratos com os estúdios, o que fez a concorrência aumentar significativamente.
Além disso, Richers contratava seus dubladores por contratos fixos, e não por projetos, o que encarecia a folha. Num certo momento, nos anos 1970, chegou a ter mais artistas no seu elenco do que a TV Globo, uma das maiores produtoras de conteúdo do mundo.
Com a empresa operando no vermelho, os salários começaram a atrasar e os funcionários descobriram que várias parcelas do FGTS não estavam sendo pagas. O empresário morreu aos 86 anos e as atividades dos estúdios foram encerradas.
Hoje seu filho, Herbert Richers Jr, é dono da HRJDUB, que oferece workshops em dublagem.
Enquanto Herbert Richers fazia sucesso no Rio de Janeiro, em São Paulo, o estúdio de dublagem da época era o Álamo. Responsável por dar voz brasileira a clássicos orientais como Jaspions, e a outros famosos desenhos ocidentais, como Bob Esponja e Os Rugrats, a empresa se consolidou como uma das mais importantes do setor.
Hoje, assim como a Herbert Richers, ela já não existe mais. A empresa fechou em 2011 por motivos semelhantes aos da Herbert Richers – sobretudo a acirrada concorrência das empresas menores.
À época em que fechou, o então presidente da empresa, Alan Stoll, disse à imprensa que grande parte dos novos estúdios praticavam um preço inferior ao vigente entre os estúdios de maior porte, o que prejudicava a atuação da Álamo e canibalizou a competição.
Fundado em 1972 pelo inglês Michael Stoll, pai de Alan, o estúdio foi responsável por obras como:
Fechando a tríade dos grandes estúdios do século passado está a Gota Mágica, fundada por Mário Lúcio de Freitas. A empresa ficou famosa pela dublagem de várias séries japonesas que bombaram na TV, principalmente nos anos 1990.
A empresa também fez muitas versões brasileiras das músicas de abertura de séries famosas, como Chaves, Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball.
A empresa fechou em 1998. Os motivos nunca foram bem revelados. Numa entrevista para um blog de cinema no início dos anos 2010, Freitas falou que “motivos pessoais” o levaram a fechar o estúdio, que, na época, ainda tinha uma alta carga de trabalho.
Hoje, Freitas compõe músicas para produtos e também escreve livros infantis.
Três dos mais imponentes estúdios de dublagem da segunda metade do século 20 não existem mais, mas a dublagem, em si, está mais forte do que nunca. Uma pesquisa de 2015 mostra que seis a cada 10 brasileiros preferem ver produtos audiovisuais dublados do que legendados.
E as oportunidades para o setor se expandiram com os streamings, como Netflix, Amazon Prime e Globoplay. Jogos de videogame também representa uma área em crescimento dentro do universo da dublagem.
Hoje, na lista das grandes empresas que seguem operando estão a VoxMundi, que teve parte da sociedade vendida recentemente para a estrangeira VSI, e a Unidub, fundada por Wendel Bezerra, dublador que dá voz a personagens icônicos como Bob Espoja.
No Rio, um clássico ainda resiste. É a Delart, criada há mais de 40 anos pelo empresário espanhol Carlos de la Riva, um engenheiro na área do som. Ele trabalhou na Espanha e nos Estados Unidos e, posteriormente, foi pioneiro na dublagem de filmes no Brasil. A empresa segue funcionando e dublando para produtoras e distribuidoras como Sony Columbia, Warner Bros, Universal.