Rubem Novaes: "Claramente já há uma tendência de recuperação na economia. Tivemos uma queda brusca, e vamos para uma recuperação de forma alongada" (Amanda Perobelli/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 17 de julho de 2020 às 16h23.
Última atualização em 17 de julho de 2020 às 19h34.
O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, avaliou nesta sexta-feira, 17, que já é possível perceber uma recuperação lenta, mas aparentemente sólida, da economia.
"Claramente já há uma tendência de recuperação na economia. Tivemos uma queda brusca, e vamos para uma recuperação de forma alongada, como o símbolo da Nike. Os resultados têm surpreendido positivamente, diversos economistas estão revendo suas projeções e o próprio governo prevê uma queda do produto interno bruto (PIB) abaixo de 5% em 2020", afirmou Novaes, em teleconferência organizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Segundo o executivo, a agricultura brasileira não sentiu os efeitos da crise da pandemia de covid-19, enquanto a indústria e o comércio se adaptaram bem à nova realidade de vendas remotas.
"Já o setor de serviços ainda sofre bastante, porque requer presença do consumidor. Além disso, a proposta de reforma tributária patrocinada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM) penaliza o setor de serviços", acrescentou.
O executivo afirmou que os programas emergenciais de crédito executados durante a crise da pandemia de covid-19 não impõem perdas aos bancos públicos nem aos privados. Ele lembrou que o Tesouro Nacional assumiu 85% do risco do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
"Nenhum banco terá prejuízo, ao contrário do que aconteceu em outros governos passados que usaram o BB e a Caixa em programas que geraram perdas. Não nos foi imposto nenhum ônus. Programas são vantajosos para o banco e seus acionistas", afirmou, em teleconferência organizada pela Febraban.
Novaes repetiu que o sistema bancário tem expandido o crédito em grande velocidade, mas voltou a admitir que a demanda por financiamentos cresceu muito mais na crise. Embora muitas regiões continuem determinando medidas de isolamento social para conter o novo coronavírus, o presidente do BB defendeu a retomada da atividade.
"Já passado o pico da demanda por UTIs e respiradores em muitas cidades, precisamos deixar a população trabalhar. É preciso ter equilíbrio correto entre epidemia e economia. É preciso seguir protocolos de segurança no retorno, mas não podemos impedir as pessoas de lutarem por sua sobrevivência", completou.
Novaes avaliou que a inflação deve voltar a subir após a crise decorrente da pandemia de covid-19.
"Quando o montante de moeda empoçada voltar a circular, a inflação pode subir um pouco", afirmou.
Novaes evitou, no entanto, fazer qualquer comentário sobre taxas de juro no horizonte à frente. "O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fica bravo com a gente quando comentamos sobre política monetária", brincou.
No último Relatório Focus, os economistas do mercado financeiro alteraram a previsão para o IPCA — o índice oficial de preços — em 2020 de alta de 1,63% para 1,72%. A projeção para o índice em 2021 seguiu em 3,00%.
No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, reduzir a Selic (a taxa básica da economia) em 0,75 ponto percentual, de 3,00% para 2,25% ao ano.
Novaes voltou a defender a privatização da instituição. "Uma empresa estatal com capital privado é uma anomalia. Ou você é público ou você é privado", afirmou, em teleconferência organizada pela Febraban.
Novaes criticou o que chamou de política de compadrios e corrupção no setor público na capital federal. "Qualquer liberal que tentar entrar nesse meio vai receber uma rejeição como um vírus que tenta entrar em um organismo. É muito difícil para um grupo de liberais trabalhar no ambiente político de Brasília", completou.