Negócios

Veja situação financeira dos times brasileiros após temporada na pandemia

Endividamento e redução das receitas são principais efeitos da crise; quem tinha reserva de capital ou vendeu jogadores conseguiu ter ano melhor

Arena Corinthians: campeonatos parados em 2020 jogam mais incerteza sobre futuro financeiro dos clubes (Rodrigo Coca/Agência Corinthians/Divulgação)

Arena Corinthians: campeonatos parados em 2020 jogam mais incerteza sobre futuro financeiro dos clubes (Rodrigo Coca/Agência Corinthians/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 1 de maio de 2021 às 12h16.

Destrinchar a crise financeira do Vasco, resumida pela dívida de R$ 832 milhões, serve de fio condutor para entender os diferentes resultados alcançados pelos clubes brasileiros em 2020, ano marcado pela pandemia. Na apresentação ao vivo de seu balanço, na sexta-feira, a diretoria vascaína expôs suas mazelas e, indiretamente, falou um pouco sobre as finanças de outros grandes do futebol do país.

A começar, pelo passivo. O cruz-maltino se aproximou perigosamente da casa do bilhão. Ele não está sozinho: o Cruzeiro deve R$ 897 milhões, o Corinthians, R$ 950 milhões. Ninguém supera o Atlético-MG neste quesito, com dívida de R$ 1,2 bilhão, turbinada no ano passado para a montagem de um elenco que ainda não conquistou títulos de expressão.

O que deixa a situação de vascaínos e cruzeirenses mais complicada é o fato de estarem na Série B. Isso implica uma geração de receitas menor e, consequentemente, mais dificuldades para pagar a dívida de curto prazo, ou seja, a que precisa ser quitada até dezembro. No caso do Vasco, esse valor é de R$ 350 milhões. No dos mineiros, R$ 302 milhões.

Duas alternativas para os clubes é tentar renegociar os prazos dessa dívida e cortar despesas — o Vasco demitiu 186 funcionários este ano alegando, com isso, economizar R$ 40 milhões:

— Ninguém gosta de demitir, mas infelizmente é o que tínhamos de fazer. Temos receita de R$ 100 milhões para 2021 e a despesa não poderia continuar a ser de R$ 250 milhões — afirmou Adriano Mendes, vice-presidente de finanças.

O Vasco chegou a esse ponto ao acumular resultados financeiros ruins por muitos anos, ocasionados em parte pela incapacidade de seus dirigentes de gerar novas receitas. Ela já era ruim em 2019 (R$ 215 milhões) e encolheu ainda mais em 2020 — foi para R$ 192 milhões na temporada.

Praticamente todos os clubes viram a arrecadação diminuir devido aos efeitos da pandemia. A diferença está na gordura que cada um tinha para queimar na crise. O Flamengo teve uma redução de R$ 282 milhões. Ainda assim, arrecadou R$ 668 milhões ano passado.

— É só comparar com o que aconteceu com as pessoas na pandemia. Os que mais sofrem são os que já estavam vulneráveis antes da Covid-19. É o que se vê no Rio, na comparação do Flamengo com seus concorrentes. Com o agravante, para Vasco e Botafogo, do rebaixamento — explica Pedro Daniel, diretor executivo para o Mercado Esportivo da EY Brasil.

Venda de atletas salva

O Vasco e os outros clubes viram a receita com bilheteria diminuir depois da proibição da torcida nos estádios — no caso do cruz-maltino, ter público em São Januário representou R$ 16 milhões a mais para os cofres em 2019, contra R$ 2 milhões em 2020. Os cariocas tiveram perda de receita com o fim do contrato de transmissão do Estadual e o mercado de patrocínios também encolheu, uma vez que outras indústrias, e não apenas a do futebol, sofreram com a pandemia.

Os clubes que sentiram menos tantas restrições foram os que conseguiram gerar boas receitas com a transferência de jogadores, combinada com uma redução nas despesas. Os principais foram Grêmio e Athletico, que alcançaram o feito de terminar o ano da pandemia com superávit — R$ 37 milhões dos gaúchos e R$ 134 milhões dos paranaenses. Palmeiras, que acumulou boas premiações com os títulos do Campeonato Paulista, da Libertadores e da Copa do Brasil, ainda assim terminou o exercício com déficit de R$ 150 milhões. O Corinthians foi outro que vendeu bem em 2020, tanto que o clube foi um dos poucos que conseguiu a proeza de ter aumento nas receitas em relação a 2019. O problema é que seus gastos seguem altos e a conta ainda não fecha no Parque São Jorge.

Profut volta a valer

Pedro Daniel afirma que o mercado de transferências também sofreu com a pandemia, uma vez que os clubes compradores europeus reduziram os gastos. Mas justamente a necessidade de ir atrás de contratações mais baratas, somada à desvalorização do real frente ao euro, fez com que os jogadores brasileiros seguissem procurados, gerando lucro aos clubes formadores. O Vasco admite que o mal desempenho nessa área explica a crise financeira atual.

— É um fato, o Vasco vende pouco. Tivemos a venda do Paulinho em 2018 e depois disso não houve outra transferência de peso — afirmou Adriano Mendes.

Um alento para as finanças dos clubes brasileiros em meio à pandemia foi a promulgação da suspensão dos pagamentos do Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) durante o período de calamidade pública causada pela Covid-19, assinada quinta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro.

As parcelas com vencimento entre fevereiro e dezembro de 2020 poderão ser pagas posteriormente, em acertos costurados entre clubes e governo. As parcelas que vencem a partir de janeiro, posteriores ao período de exceção, devem ser quitadas normalmente.

Quais são as tendências entre as maiores empresas do Brasil e do mundo? Assine a EXAME e saiba mais.
Acompanhe tudo sobre:Futebol

Mais de Negócios

A voz está prestes a virar o novo ‘reconhecimento facial’. Conheça a startup brasileira por trás

Após perder 52 quilos, ele criou uma empresa de alimento saudável que hoje fatura R$ 500 milhões

Esta empresária catarinense faz R$ 100 milhões com uma farmácia de manipulação para pets

Companhia aérea do Líbano mantém voos e é considerada a 'mais corajosa do mundo'