À direita da imagem, usina solar em Fernando de Noronha; energia fotovoltaica já representa 10% da geração elétrica no local. (Neoenergia/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 10 de abril de 2023 às 10h30.
Última atualização em 10 de abril de 2023 às 17h40.
Em breve, veículos que emitem dióxido de carbono não poderão mais entrar em Fernando de Noronha (PE). A previsão é de que, a partir de 12 de agosto, apenas a circulação de unidades já presentes na ilha seja permitida. A medida faz parte do programa Noronha Carbono Zero (NCZ), que pode tornar a ilha referência nacional em sustentabilidade, sendo o primeiro destino carbono neutro do país.
Segundo a gerência de meio ambiente do distrito, os prazos, metas e objetivos do NCZ estão sendo revalidados pela nova administração, que tomou posse em fevereiro. Mas, até o momento, a proposta oficial é substituir totalmente a frota de veículos poluentes por opções elétricas em 2030, quando todos os modelos movidos a gasolina, álcool e diesel não deverão mais transitar no local.
Hoje, os transportes terrestres são responsáveis por 10% do total de emissões de gases de efeito estufa (GEE) do lugar, atrás somente das aeronaves que fazem os voos de ida e volta para o continente, com cerca de 55%, e da usina termelétrica a óleo diesel, 30%.
Com a proibição dos veículos a combustão, portanto, um percentual relevante das emissões geradas no território poderá ser reduzido. "Tornar a ilha carbono neutro é uma necessidade. Estamos trabalhando para garantir que Noronha seja uma referência para o mundo, como um destino sustentável", afirma a administradora da ilha de Fernando de Noronha, Thallyta Figueirôa.
Dezenas de veículos zero emissão já são vistos pela ilha – na frota da administração distrital, no trade turístico, nas operações da companhia energética do estado ou nas atividades de empreendedores locais, por exemplo.
Os primeiros chegaram em 2019, fruto de uma parceria com a Renault. De lá para cá, diversas ações têm sido colocadas em prática para substituir gradativamente a frota e incentivar a mobilidade elétrica.
Um exemplo, são as autorizações ecológicas aos que se inscreveram para o frete social, transporte gratuito do continente para a ilha na compra do primeiro automóvel elétrico. Até o fim do ano passado, 120 autorizações foram concedidas, conforme relatório da gestão anterior.
A fim de facilitar a aquisição, o governador pernambucano Paulo Câmara também anunciou, em abril de 2022, uma linha de financiamento para compra de veículos elétricos, com liberação de crédito de até R$ 500 mil.
Para o carregamento desses carros, cinco estações com energia fotovoltaica estão espalhadas pela ilha e esse número deve chegar a 17 por meio do Projeto Trilha Verde, uma parceria entre Neoenergia, Governo de Pernambuco, Renault, WEG, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), IATI, CPqD, eiON e Incharge.
A iniciativa inclui também duas novas usinas solares, para suprir a necessidade da frota, com potência instalada total de 100 kWp. Isso é três vezes maior do que a necessidade inicial do projeto, segundo a Neoenergia Pernambuco. A intenção é injetar o excedente na rede de distribuição, ampliando o uso de energia renovável em Noronha.
Até o fim de 2022, a energia fotovoltaica já atendia a 10% da demanda de eletricidade da ilha, evitando o consumo de 375 mil litros de óleo diesel por ano.
A economia local também deve ser beneficiada. “Mais que ampliar veículos elétricos, ecopostos e sistemas de geração de energia limpa na ilha, o Trilha Verde tem o propósito de avaliar a viabilidade de modelos de negócios sob os aspectos ambientais, técnicos e econômicos em Fernando de Noronha”, explica o presidente da companhia energética do estado, Saulo Cabral.
Até o final de 2023, de acordo com a empresa, as informações coletadas no projeto serão submetidas a avaliações de viabilidade dos modelos de negócios e, posteriormente, será feito um mapa orientativo para futuras ações relacionadas à mobilidade elétrica em Fernando de Noronha.
Noronha é uma ilha e um arquipélago
Reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Natural Mundial da Humanidade, Fernando de Noronha fica a 545 km da costa pernambucana. Trata-se de um arquipélago composto por 21 ilhas, em uma extensão de 26 km², mas apenas a maior delas, também denominada Fernando de Noronha, é habitada, com uma população de aproximadamente 3.500 habitantes.
As demais são desabitadas e só podem ser visitadas para pesquisas científicas ou atividades de educação ambiental, mediante licença específica do ICMBio. Toda a área do arquipélago integra três diferentes Unidades de Conservação, uma estadual e duas federais, formando um dos santuários ecológicos mais preciosos do planeta.
Além do NCZ, outro grande projeto de sustentabilidade em execução em Noronha é o programa Plástico Zero. Desde dezembro de 2018, é proibida a entrada, a comercialização e o uso de itens descartáveis de material plástico ou similares no distrito: garrafas de bebidas de menos de 500 ml, canudos, copos, pratos e talheres descartáveis, sacolas plásticas, recipientes de isopor, entre outros.
A gestão de resíduos sólidos urbanos do local é diferenciada. Única ilha oceânica do Brasil habitada, com pouco mais de 17 km², e dividida em zonas específicas de proteção, o território de Noronha não tem como comportar um aterro sanitário. Por isso, a maior parte dos seus resíduos é transportada por barco para o continente, onde é encaminhada para aterros e usinas de reciclagem.
Para minimizar esse processo, que custa caro, Noronha conta com uma usina de tratamento, que recebe, separa, trata e armazena temporariamente todos os resíduos coletados e faz a destinação local de alguns deles.
Entre os recicláveis, todo o vidro, por exemplo, é triturado (por uma máquina doada pelo Grupo Heineken, junto com a Iônica e a Menos 1 Lixo) e armazenado para uso em substituição a areia na construção civil na ilha. Já os resíduos orgânicos, passam por um processo de compostagem cujo produto final vai para hortas e jardins.
Graças à parceria com a ASA, fabricante de produtos de limpeza, o óleo de cozinha usado em restaurantes e pousadas de Noronha também é reaproveitado. O material é coletado, transportado e usado na produção de sabão em barra e os recursos obtidos com o insumo são doados a um hospital no Recife, que atende moradores de Noronha em tratamento médico no continente.
Para este ano, uma das novidades é o lançamento em Fernando de Noronha do primeiro Laboratório de Economia Circular do país, uma parceria com a Ball Corporation, empresa de embalagens de alumínio.
O Vadelata Pelo Planeta será um espaço multiuso para cursos, palestras e exposições com temáticas socioambientais, mas também um ponto de coleta e pré-processamento de latas usadas recolhidas na ilha. A expectativa é de que sejam recicladas 50 toneladas de alumínio por ano.