Pedro Guimarães, presidente da Caixa: "Caminhávamos para outro ano histórico, simplesmente fazendo gestão. Mas então veio a pandemia. Só que em junho nosso resultado foi de novo muito forte" (Adriano Machado/Reuters)
Natália Flach
Publicado em 20 de julho de 2020 às 15h45.
Última atualização em 22 de julho de 2020 às 13h01.
Tempo é uma variável que pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma operação no mercado de capitais. Em março, executivos da Caixa se preparavam para embarcar em uma série de viagens para apresentar a tese da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da subsidiária de seguros, quando a pandemia do novo coronavírus interrompeu a programação com os investidores. A espera, no entanto, pode resultar em um ganho ainda maior.
O motivo é a oferta de microsseguros para os 65 milhões de brasileiros que recebem auxílio emergencial, conforme antecipou a EXAME. "Está tudo pronto, só pedi para segurar o lançamento até que a gente consiga estabilizar o aplicativo [que tem apresentado intercorrências]. Na hora que estabilizar, a gente solta", afirma Pedro Guimarães, presidente da Caixa, em entrevista no dia 12 de julho.
A ideia é oferecer seguros populares, a partir de 5 reais, para essa parcela da população que perdeu o emprego ou trabalha como autônoma. A expectativa é que o IPO — que foi retomado na quinta-feira passada — movimente algo entre 10 bilhões e 15 bilhões de reais. Segundo o Valor Econômico, a listagem deve ocorrer em outubro.
Outro produto que está pronto, à espera da estabilidade do sistema do aplicativo Caixa Tem, é o cartão de crédito — com implicações positivas para a subsidiária de cartões da Caixa, que deve fazer seu IPO no fim de 2020 ou no ano que vem. O ministro da Economia, Paulo Guedes, é um grande entusiasta das aberturas de capital da Caixa Seguridade e da Caixa Cartões.
Mas, para além dos IPOs, o banco continua empenhado em vender sua participação no Banco Pan, que é controlado em parceria com o BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME). "Já vendemos a primeira tranche e estamos analisando potencialmente levar a mercado uma segunda tranche. Queremos sair do Pan até o fim do governo Bolsonaro", afirma Guimarães. "Para a gente não faz sentido ter participação no banco. Nós fazemos consignado e eles também. Não queremos financiar motos, que é outra linha importante deles", acrescenta.
Além de se desfazer de participações, a Caixa pretende aumentar a rentabilidade com a oferta de outros produtos para os clientes. "Hoje, 90% dos financiamentos imobiliários são feitos em correspondentes, mas não oferecemos nada além disso, e podemos ofertar consignado ou seguro, por exemplo", diz Guimarães.
A Caixa também se prepara para quitar o instrumento híbrido de capital e dívida (IHCD). "Pagamos 11,3 bilhões de reais no ano passado e íamos pagar os 15 bilhões de reais restantes em 2020, mas por causa da pandemia não sabemos se vamos postergar o pagamento para o ano que vem", afirma.
Outra dúvida é se o banco repetirá o lucro recorde de 2019 ou não. "Caminhávamos para outro ano histórico, simplesmente fazendo gestão. Mas então veio a pandemia. Só que em junho nosso resultado foi de novo muito forte", conta Guimarães. Portanto, só o tempo vai dizer se a Caixa vai superar as expectativas, mais uma vez.