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“Vamos mudar o jeito que as cidades operam”, diz CEO global do Waze

No início desta semana, o aplicativo lançou um novo serviço de caronas, para tirar carros das ruas

Noam Bardim, fundador e CEO do Waze, em evento de lançamento do Waze Carpool no Brasil (Waze/Divulgação)

Noam Bardim, fundador e CEO do Waze, em evento de lançamento do Waze Carpool no Brasil (Waze/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 25 de agosto de 2018 às 06h00.

Última atualização em 25 de agosto de 2018 às 06h00.

São Paulo - O trânsito nas grandes cidades está tão ruim que, para o presidente global do Waze, acabaram-se as alternativas para fugir dele. Para Noam Bardin, a única alternativa é tirar carros das ruas.

Lançado em 2009 e usado por 100 milhões de usuários no mundo, o Waze é um aplicativo que indica a rota mais rápida ao destino, para fugir dos congestionamentos. São Paulo, que é a maior cidade para o aplicativo, tem 4 milhões de usuários mensais.

Em 2015, a empresa foi comprada pelo Google. Agora, no início desta semana, o aplicativo lançou um novo serviço de caronas, para tirar carros das ruas ao juntar pessoas que têm os mesmos trajetos todos os dias.

Um motorista que deseja oferecer caronas pode escolher seus passageiros e limitar as opções apenas para quem trabalha na mesma empresa, por exemplo.

O serviço irá custar de 4 a 25 reais e o motorista tem a opção de ajustar o preço que gostaria de cobrar. Bardim falou, em entrevista a EXAME, sobre o serviço, a empresa e o futuro do transporte. Confira abaixo.

EXAME - O Waze surgiu há quase 10 anos. Quais foram as maiores conquistas da companhia, nessa década?

Noam Bardin - Quando éramos uma startup e íamos a reuniões com investidores, para levantar dinheiro, sempre tinha alguém que perguntava “e se todos usarem Waze?”. Bom, se todos usarem Waze, alcançamos o balanço no trânsito. Mas não acreditávamos nisso naquela época.

Acho que a nossa grande conquista é que chegamos a esse ponto que, de fato, influenciamos o trânsito e fazemos parte da rotina das pessoas. Percebemos a responsabilidade que temos com o trânsito.

Quais são os desafios para os próximos 10 anos?

Acreditamos que o serviço de caronas será a cara dos nossos próximos 10 anos. Nos primeiros 10 anos nos ocupamos em construir os mapas da cidade e o aplicativo, buscar usuários e reunir dados.

Chegamos a um ponto em que, se continuarmos a fazer o que fazemos, o problema continuará presente. Estamos sem opções para lidar com o trânsito. Ou desistimos ou damos um passo a mais. Precisamos retirar carros das ruas, já que não vamos construir mais estradas.

Se olharmos para o futuro do transporte, tem diversas ideias surgindo. Elon Musk está trabalhando com túneis embaixo das cidades, muitas empresas como o Google estão desenvolvendo carros autônomos, Uber está pesquisando sobre carros voadores, assim como a Boeing.

Tem todas essas soluções surgindo, mas se você não mudar a base, que é uma pessoa andando sozinha em um carro, nada vai mudar. Não importa se sou eu dirigindo um carro ou um robô, as ruas continuarão congestionadas.

Então enxergamos essa missão, de ajudar pessoas a compartilhar carros. Como temos um bom relacionamento com nossos usuários, eles se sentem inclinados a adicionar informações ao nosso app, o que não fazem com outros sistemas. Acreditamos que essa confiança é nosso maior ativo.

Por isso lançamos o Waze Carpool e há muito mais que pode vir daí. Vamos mudar o jeito que as cidades operam. As pessoas acham que somos loucos e megalomaníacos, mas a loucura pode funcionar.

Onde o Waze Carpool já está disponível? A empresa anunciou que traria o serviço ao Brasil há um ano, por que a demora?

Já estamos em seis estados americanos e em partes de Israel. Mas é a primeira vez que fazemos um lançamento tão grande em um país. Precisamos testar diversas variáveis, como a melhor precificação. Desenvolvemos o sistema inteiro e decidimos que estava errado e reconstruímos tudo do zero.

O erro principal, na primeira versão do Carpool, é que tentamos criar um Uber mais barato. O que percebemos é que perdemos as pessoas de vista. Não é sobre eficiência econômica. Vimos que o principal fator que influenciariam alguém a participar é se a carona e o motorista se conhecessem.

Se eu conheço a pessoa, vou sair da minha rota para pegá-la. Me sinto responsável por ela. Por isso, jogamos o antigo sistema fora e reescrevemos tudo com o foco na construção de comunidades.

O senhor falou de outras empresas que estavam trabalhando no mesmo problema de trânsito. Mas essa é uma responsabilidade das empresas?

Achamos que é um problema para prefeituras, mas sejamos realistas. As prefeituras estão sem dinheiro e não vão gastar bilhões na construção de mais rodovias. E não há mais onde construir, porque as cidades foram projetadas para certo número de pessoas. O que você vai fazer, tirar prédios, construir túneis?

Não devemos assumir que é responsabilidade das municipalidades. Isso é algo no qual temos que trabalhar juntos.

São Paulo é a cidade com o maior número de usuários e Brasil é o segundo país mais importante para a Waze. A que o senhor atribui a popularidade do aplicativo por aqui?

Porque brasileiros são pessoas maravilhosas! (risos) Não sabemos exatamente o porquê. Sabemos que há lugares em que “clicamos” muito bem. Em toda a América do Sul há um grande engajamento, como na Colômbia e no México. Mas o Brasil é muito único.

Acho que é uma combinação de trânsito muito ruim e pessoas que são muito engajadas com as redes sociais. Outro motivo é que brasileiros são otimistas, pensadores positivos e abertos a testar coisas novas.

O Waze irá faturar com o serviço de caronas? Qual o modelo de monetização da companhia?

A principal fonte de monetização do Waze é a publicidade. Quanto mais pessoas usam o Waze, maiores as receitas. Temos um plano de cobrar 15% das transações do serviço de caronas, mas por enquanto estamos subsidiando esse serviço e não iremos cobrar no curto prazo. Precisamos, inicialmente, de uma massa crítica de usuários para achar o ponto de equilíbrio entre usuários e caronas.

Essa é a vantagem de fazer parte do Google, porque é uma empresa que pode pagar para testar coisas diferentes e investir no futuro.

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