Mina da Vale: anúncio não surpreendeu o mercado, afirmou um analista do Itaú (Anderson Schneider/VEJA)
Da Redação
Publicado em 3 de dezembro de 2012 às 17h23.
Rio de Janeiro - A Vale previu nesta segunda-feira investimentos de 16,3 bilhões de dólares para 2013, uma queda de 24 por cento na comparação com o plano anunciado para 2012, num momento em que a mineradora vê perspectivas de uma demanda apenas "moderada" por minério e metais.
A maior produtora global de minério de ferro avalia que o mundo está no final de um "super ciclo" do setor da mineração, disse nesta segunda-feira o presidente da Vale, Murilo Ferreira, em teleconferência com analistas para comentar o plano de investimento.
A empresa havia anunciado no final do ano passado investimentos de 21,4 bilhões de dólares para 2012, montante que foi revisado nesta segunda-feira para um valor bem menor que o previsto inicialmente, somando 17,5 bilhões de dólares.
A empresa reduziu investimentos e adiou projetos em meio à queda no preço do seu principal produto e com perspectivas de um crescimento mais lento na demanda por aço na China.
"As perspectivas de uma expansão moderada da demanda global por minérios e metais no médio prazo requerem rígida disciplina na alocação de capital e maior foco em maximizar eficiência e minimizar custos", disse a mineradora em comunicado.
Do total dos investimentos, 7,65 bilhões de dólares --quase 47 por cento-- serão destinados à área de minerais ferrosos, o carro-chefe da companhia. Outros 3,78 bilhões de dólares serão investidos em metais básicos, enquanto 1,3 bilhão de dólares e 520 milhões de dólares irão, respectivamente, apoiar negócios de fertilizantes e siderurgia.
O plano anunciado para 2013 indica que a mineradora reduzirá investimentos pelo segundo ano seguido. Em 2011, a companhia investiu 18 bilhões de dólares.
"Mais do que nunca, estamos fortemente comprometidos em investir somente em ativos de classe mundial, capazes de criar valor ao longo dos ciclos e que possuam vida longa, baixo custo, possibilidades de expansão e produção de alta qualidade", afirmou o presidente da Vale em nota pela manhã.
A empresa projeta para 2013 produzir 306 milhões de toneladas de minério de ferro, uma pequena redução em relação ao volume projetado para 2012, de 312 milhões de toneladas.
SEM SURPRESA
Os analistas Alexander Hacking, do Citi, e Marcos Assumpção, do Itaú, afirmaram em e-mail a clientes que os investimentos anunciados para 2013 eram esperados.
"Este anúncio não traz nenhuma surpresa ao mercado, esperamos uma reação neutra das ações da empresa", disse o analista do Itaú.
As ações da Vale fecharam em queda de 0,05 por cento, enquanto o Ibovespa encerrou em alta de 1,2 por cento.
O Citi destaca um aumento de 10 a 20 por cento no custo de três projetos-chave da companhia, o que considera um "desapontamento".
A Vale apontou que terá custos maiores para o projeto de cobre Salobo II; Long Harbor, um projeto de níquel no Canadá, e a siderúrgica de Pecém, no Ceará.
A construção da pelotizadora Samarco IV, no Espírito Santo, foi retirada da lista de principais projetos, porque, segundo a Vale, não há investimento estimado para 2013.
"O projeto continua", informou a Vale, por meio de sua assessoria de imprensa.
A usina, com 50 por cento de participação da BHP e outra metade em mãos da Vale, tinha investimentos previstos em 1,7 bilhão de dólares e prazo para entrar em operação no primeiro semestre de 2014, segundo a listagem referente ao terceiro trimestre deste ano.
A Vale retirou também da sua lista de principais projetos aprovados uma mina subterrânea de cobre na Zâmbia, porque ela já começou a produzir.
"Nossa prioridade mudou do crescimento marginal de volume para volumes com eficiência de capital, uma mudança que impacta profundamente a forma de gerir capital", disse a companhia.
A Vale já vem enxugando a carteira de projetos nos últimos meses, e o investimento em 2012 ficará cerca de 18 por cento menor do que planejado inicialmente.
A empresa já havia recuado de projetos complicados como Simandou, de minério de ferro na Guiné, e Apolo, que tem sua implementação, em região de aquíferos em Minas Gerais, questionada por ambientalistas.
Também foram paralisados a construção da siderúrgica do Pará (Alpa), e Kronau, um projeto de potássio no Canadá.
Paralelamente, a empresa realiza desinvestimentos, com a venda de ativos de petróleo e de logística, entre outros negócios que fogem do principal foco da companhia.
Entre os projetos prioritários, Serra Sul, em Carajás, no Pará, demandará investimentos de 8 bilhões de dólares para produzir 90 milhões de toneladas anuais. Com desembolsos de 658 milhões de dólares previstos para 2013, O projeto deve entrar em operação no segundo semestre de 2016.
Do total de dispêndios, 10,1 bilhões de dólares irão para execução de projetos, 5,1 bilhões de dólares irão para a sustentação de operações existentes e 1,1 bilhão de dólares ficarão com a área de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Uma das cerca de 100 licenças ambientais recebidas pela Vale neste ano foi para Serra Sul, um licenciamento decisivo para a companhia tocar o seu maior projeto. Após a emissão da licença prévia, a Vale aguarda a licença de instalação.