Sem culpados: Rio Doce poluído pela lama do rompimento de barragens em Mariana (MG) (Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 1 de dezembro de 2015 às 18h32.
São Paulo - “Não, a Vale não é responsável legal (pelo desabamento das barragens da Samarco em Mariana”, disse Clóvis Torres, consultor-geral da mineradora.
"Pode até se discutir se nós temos responsabilidade como acionistas da Samarco, mas como responsável legal, não”, disse ele, em evento para jornalistas e investidores em Nova York.
A Vale disse que criará um fundo privado e voluntário, ao lado de sua sócia na Samarco, a BHP Billiton.
No entanto, não informou o valor do fundo ou como ele seria aplicado. Um mês depois do desastre, ela também disse não saber quando as investigações sobre as causas e extensão dos danos seriam concluídas.
Os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo irão pedir 20 bilhões de reais contra as mineradoras Samarco, Vale e BHP. A ação de reparação de danos será direcionada para um fundo de recuperação ambiental do vale do Rio Doce.
No entanto, a mineradora negou ter conhecimento dessa ação. "Até agora, não temos notícia de nenhuma ação deste montante. Quando chegar, iremos analisar e ver qual caminho seguir", disse Torres.
Para a mineradora, “ainda há muita especulação” sobre os custos e tempo de recuperação do rio. A empresa ainda disse que está “fazendo uma investigação independente”.
Questionado sobre o motivo do rompimento das barragens, Murilo Ferreira, presidente da mineradora, afirmou que “seria imprudência culpar alguém nessa situação, sem que pessoas com grande conhecimento tenham feito uma análise detalhada do que aconteceu”.
O rio Doce, local de fundação da Vale, foi o caminho seguido pela lama e rejeitos da barragem de mineração até o mar. Pelo percurso, milhares de peixes mortos, abastecimento de água afetado e ecossistema marinho totalmente alterado.
Antes mesmo do desastre, o ano já não estava fácil para a Vale. A companhia teve o maior prejuízo entre as abertas brasileiras: 6,66 bilhões de reais negativos no terceiro trimestre, ante prejuízo de 3,38 bilhões do ano passado.
Hoje, a empresa anunciou que reduzirá os investimentos de 2016 para 6,2 bilhões de dólares. É o quinto ano em que ela reduz as previsões de investimentos.
Em meio a essas dificuldades, a agência de risco Fitch rebaixou a nota da Vale, colocando a mineradora em observação negativa.
Para a Vale, “a queda de classificação da Fitch tem muito mais a ver com a queda do preços das commodities”, disse o presidente da instituição. A empresa também citou a diminuição da demanda por metais no mundo como desafio.