Caminhões da Vale transportando minérios de ferro na Mina de Brucutu, em Barão de Cocais, no Brasil (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2014 às 19h15.
Rio - A seca atípica que derrubou o nível dos reservatórios das hidrelétricas, levou ao acionamento excessivo de térmicas e ameaça o abastecimento de água no País em 2014 deixou evidente o peso da variável clima no planejamento econômico das grandes empresas.
O cenário de extremos climáticos levou a Vale, maior mineradora global, a desenvolver um sistema para monitorar o clima em suas operações no norte do País.
Batizado de Forecast Network, o projeto receberá investimento de R$ 4,7 milhões em pesquisa e infraestrutura entre 2011 e 2018.
A produção e a logística de transporte do minério de ferro da Vale estão sujeitas a eventos como chuvas excessivas, aumento ou diminuição da vazão dos rios, ventos fortes e até a secas, que podem criar focos de incêndios ao longo das ferrovias.
Em maio de 2009 uma enchente elevou o nível do Rio Vermelho em Marabá, no Pará, e inundou parte da Estrada de Ferro Carajás (EFC).
A Vale chegou a decretar força maior na ferrovia, que leva o minério de sua maior mina até o terminal portuário de Ponta da Madeira, no Maranhão.
O objetivo da companhia com o Forecast Network é minimizar custos provocados por eventos naturais extremos como este, mas principalmente, gerar ganhos operacionais cotidianos dando subsídios para que áreas como logística, porto, segurança e meio ambiente tomem decisões com menor grau de incerteza e risco.
O pesquisador titular do Grupo de Mudanças do Clima do ITV, Luiz Gylvan, lembra que eventos como o de Marabá e a perda de um guindaste após uma ventania no Espírito Santo há alguns anos são raros, embora tenham dano potencial muito alto.
"O que o sistema busca é melhorar o processo de tomada de decisão operacional para obter ganhos diários e na média do ano", diz.
Diante da perspectiva de uma chuva muito forte, por exemplo, é possível reprogramar operações para realizar trabalhos visando contenção de deslizamentos, drenagens da via permanente ou mesmo a sinalização. Quando há previsão de chuvas com descargas elétricas, a manutenção da ferrovia é imediatamente suspensa por questões de segurança.
O Sistema de Monitoramento e Previsão de Tempo da Amazônia Oriental (ou Forecast Network) começou a ser desenvolvido em 2011 pelo Grupo de Pesquisa em Mudanças do Clima do Instituto Tecnológico da Vale (ITV) em Belém e entrou em testes em agosto do ano passado.
A ferramenta monitora as condições do tempo de maneira detalhada para as operações da mineradora - minas N4 e N5 em Carajás, Ponta da Madeira e os 893 quilômetros da EFC - enquanto o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) faz previsões mais amplas.
Atualmente são emitidos boletins diários com dados de chuvas dos dias anteriores e previsões por região para as próximas 24h, 48h e 72h.
O índice de acerto chega a cerca de 92%, 85% e 75% para esses períodos, respectivamente. Com os dados em mãos, é possível alterar o planejamento para operações como o embarque de minério, evitando riscos em dias de maiores chuvas, por exemplo.
Para fazer as previsões a Vale utiliza hoje os dados históricos de 22 estações meteorológicas do INMET.
O projeto prevê a construção de 12 estações próprias, sendo dez meteorológicas e duas hidrológicas, para controlar o nível de vazão dos rios. Até o fim deste ano, serão inauguradas cinco delas no Maranhão.
De acordo com Gylvan a mineradora planeja replicar a ferramenta também no sistema Sul da Vale, que inclui as operações em Minas Gerais. Para isso, entretanto, será preciso calibrar os modelos de previsão para o sistema meteorológico da região.
O processo é complexo e requer a análise de estatísticas dos últimos 30 anos, por isso deve levar tempo.