Projeto S11D, o maior da Vale: incertezas acerca do retorno à liderança global (Germano Lüders/Exame)
Juliana Estigarribia
Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 13h01.
Última atualização em 22 de dezembro de 2020 às 15h47.
Em ano de pandemia, a indústria de minério de ferro parece ter passado ilesa pela crise. O setor registrou picos de preços similares ao boom de commodities do início da década e, para 2021, a expectativa é que a receita das empresas continue em alta, impactada principalmente pelas incertezas que rondam as operações da Vale.
Nesta segunda-feira, 21, a cotação do minério de ferro superou a casa dos 170 dólares a tonelada, patamar bem próximo ao pico das commodities metálicas do início da década.
Ao longo deste ano, o movimento de alta dos preços do minério de ferro teve a demanda chinesa como principal peso. Os estímulos à economia por parte do governo chinês, principalmente com investimentos em infraestrutura, levaram a um aumento substancial do consumo.
Além disso, a demanda global vem se recuperando de forma inesperada, o que pressionou o mercado do lado do consumo.
"Os estoques de minério de ferro e a produção de aço na China estão muito baixos, o que acaba se tornando um barril de pólvora no setor", afirma Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research.
Para 2021, a expectativa é que a China continue com a demanda em alta, assim como todo o mercado global. Do lado da oferta, surgem dúvidas sobre as operações da Vale na região de Brumadinho, Minas Gerais. Na semana passada, um funcionário de uma empresa terceirizada da companhia foi soterrado e morreu após um deslizamento de terra durante manutenção na mina do Córrego de Feijão.
No dia seguinte, a prefeitura de Brumadinho suspendeu o alvará de funcionamento da Vale e suas terceirizadas no município, em princípio por 7 dias. "Há um risco de cauda se houver suspensões de funcionamento por outros órgãos públicos, o que deve impactar ainda mais os preços", explica Lima.
Felipe Beraldi, analista de mineração da Tendências Consultoria, afirma que as incertezas acerca da retomada plena das operações da Vale na região devem continuar impactando o setor. "Do lado da oferta, o que está pressionando os preços é basicamente a dúvida sobre o cronograma de retorno da produção da mineradora brasileira, ainda mais com o evento da última semana em Brumadinho."
Para o especialista, a recuperação plena deve acontecer até o final do primeiro semestre de 2021. Muito antes disso, as chances são reduzidas.
Neste cenário, o preço médio do minério de ferro em 2020 deve ser de 104 dólares, alta de 15% sobre a média de 2019, que já foi um ano forte para o setor.
Em 2021, a média projetada para a commodity é de 110 dólares a tonelada, com picos que podem chegar, pontualmente, a 200 dólares. "Este movimento, se acontecer, deve ser pontual e momentâneo, já que operações menos rentáveis, sobretudo na China, ganham competitividade neste contexto, aumentando a oferta e derrubando os preços novamente."
Segundo projeção da consultoria, o forte crescimento das importações de minério de ferro e da produção de aço na China devem manter a pressão altista dos preços para 2021. "Embora a perspectiva seja de arrefecimento das cotações ao longo de 2021, Brumadinho e demanda chinesa continuarão sendo fatores primordiais nessa conta", diz Beraldi.