Vale: resultado da mineradora é anterior ao episódio da tragédia em Brumadinho (MG) (Washington Alves/Reuters)
Reuters
Publicado em 27 de março de 2019 às 19h42.
Última atualização em 28 de março de 2019 às 06h46.
Rio de Janeiro - A mineradora Vale registrou lucro líquido de 14,485 bilhões de reais no quarto trimestre, quase seis vezes o registrado um ano antes, em meio a preços mais altos do minério de ferro e com forte alta dos prêmios pagos pelo seu produto de melhor qualidade, informou a companhia nesta quarta-feira.
Após a publicação do resultado, a companhia anunciou baixas contáveis e que espera provisões bilionárias relacionadas ao rompimento da barragem de Brumadinho (MG), que matou centenas e paralisou minas em Minas Gerais.
Contudo, a mineradora ponderou que ainda não é possível fornecer estimativas confiáveis de perdas globais decorrentes do colapso da estrutura.
"Foi resultado bom, como esperado, em linha com o nosso número, mas a empresa não deu detalhes adicionais relacionados ao acidente", comentou o analista do Santander para o setor de mineração, Gustavo Allevato.
A mineradora afirmou que realizou baixa contábil de 480 milhões de reais pela mina de Córrego do Feijão, relacionada à estrutura que colapsou em Brumadinho, e também por ativos ligados a barragens com método de construção a montante, com impacto nos resultados a partir do primeiro trimestre de 2019.
Embora considere ainda difícil avaliar os passivos potenciais com o desastre, a empresa anunciou que prevê provisões bilionárias, incluindo uma de até 2 bilhões de reais por pagamentos emergenciais aos atingidos.
Na moeda norte-americana, o lucro líquido da companhia foi de 3,786 bilhões de dólares no período, quase cinco vezes o registrado no quatro trimestre de 2017, de 771 milhões de dólares.
No ano completo de 2018, a empresa teve um lucro líquido de 6,86 bilhões de dólares, abaixo da média de estimativas de analistas consultados pelo Refinitiv, de 7,2 bilhões de dólares.
No quatro trimestre do ano passado, a maior produtora global de minério de ferro registrou um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de 17,059 bilhões de reais, alta de 27 por cento ante o mesmo período de 2017.
A receita operacional líquida da empresa no quarto trimestre foi de 37,4 bilhões de reais, 25,6 por cento maior que um ano antes.
O Ebitda ajustado de minerais ferrosos foi de 4,115 bilhões de dólares no quatro trimestre, ante 3,96 bilhões no terceiro trimestre, principalmente devido a maiores preços e menores custos de frete. Um ano antes, foi de 3,427 bilhões.
"O custo médio de frete marítimo foi impactado positivamente pelo aumento da utilização da frota de navios Valemax 2ª geração nas operações", disse a empresa no relatório financeiro.
O resultado teve também a contribuição da qualidade do minério vendido pela companhia.
No período, a Vale registrou um prêmio de qualidade para finos de minério de ferro de 8,1 dólares por tonelada, ante 8,6 por cento no terceiro trimestre, mas mais que o dobro do verificado no último trimestre de 2017 (3,9 dólares/tonelada).
Incluindo pelotas, o prêmio de qualidade foi de 11,5 dólares/tonelada no quarto trimestre, versus 5,7 dólares no mesmo período de 2017.
A Vale informou também que o preço realizado de finos de minério de ferro (CFR/FOB) foi de 68,4 dólares/tonelada no quarto trimestre, versus 63,1 dólares no mesmo período do ano anterior.
A empresa ainda anunciou que definiu o preço de referência para os contratos de pelota de 2019, "resultando em uma potencial maior realização de preços nas vendas de pelotas".
Segundo a empresa, o índice Metal Bulletin 65 por cento é o novo índice de referência, e o prêmio para pelotas de alto forno e de redução direta permaneceu igual ao de 2018 (60 dólares/t em média).
A Vale encerrou o quarto trimestre com dívida líquida de 9,65 bilhões de dólares, ante 10,7 bilhões de dólares no terceiro trimestre.
Com isso o indicador de endividamento medido por dívida líquida sobre Ebitda ajustado ficou em 0,6 vez no quatro trimestre, ante 0,7 vez no terceiro.
Os investimentos da companhia em 2018 somaram 3,784 bilhões de dólares, ligeiramente menor que em 2017, quando foram aportados 3,848 bilhões de dólares.
(Por Marta Nogueira; reportagem adicional de Christian Plump, em São Paulo)