Negócios

Vale cortará 10% de sua produção de ferro para eliminar barragens

Plano anunciado nesta terça reduzirá em 40 milhões de toneladas produção anual de minério da companhia, e vai demandar investimento de R$ 5 bi em até 3 anos

Vale: Empresa anuncia fechamento de barragens (Washington Alves/Reuters)

Vale: Empresa anuncia fechamento de barragens (Washington Alves/Reuters)

A

AFP

Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 20h32.

Última atualização em 30 de janeiro de 2019 às 08h27.

A Vale vai paralisar operações equivalentes a 10% de sua produção anual de minério de ferro, aproximadamente dez barragens como a que gerou uma enxurrada de lama ao se romper na sexta-feira, uma tragédia que deixou até o momento 84 mortos e 276 desaparecidos em Brumadinho.

A medida foi anunciada nesta terça-feira, 29, pelo presidente da mineradora, Fábio Schvartsman, em uma coletiva de imprensa em Brasília, em meio à ofensiva jurídica e às críticas do governo e da opinião pública por uma catástrofe que muitos atribuem à negligência dos encarregados pela instalação.

Segundo Schvartsman, o plano é definitivo e drástico, uma resposta à altura da tragédia de Brumadinho.

O processo, que reduzirá em 40 milhões de toneladas a produção anual de minério de ferro da Vale, será concluído em três anos e vai demandar um investimento de 5 bilhões de reais.

A empresa informou que vai absorver os 5.000 trabalhadores das barragens que deixarão de existir na planilha de 80.000 funcionários da empresa.

O tipo de barragem a ser descomissionada (desativada) denomina-se a montante, pois pode ser erguida de forma escalonada à medida que acumula resíduos. Trata-se do mesmo modelo que se rompeu em novembro de 2015, em Mariana, a 125 km de Brumadinho, matando 19 pessoas e provocando a - até então - pior catástrofe ambiental do país.

O anúncio da Vale foi feito no fim do dia, depois que as autoridades revisaram de 65 para 84 o número de mortos e contabilizaram em 276 os desaparecidos no quinto dia de intensas buscas pelas vítimas em meio à lama e aos escombros.

Mais espaço para os mortos

Em Brumadinho, ao luto e à angústia pelos desaparecidos, soma-se o medo do impacto ambiental.

No maior cemitério desta cidade, de 39 mil habitantes, um cortejo fúnebre formado por uma família desfeita e dezenas de amigos apareceu trazendo o caixão de uma jovem funcionária da Vale, morta aos 28 anos, e sepultada nesta terça-feira.

Os parentes se abraçavam destroçados, tendo ao fundo o barulho dos helicópteros de resgate, um lembrete que os moradores da região ainda têm muitos mortos a enterrar.

Pouco antes, dois coveiros exumavam um túmulo antigo para abrir espaço aos mortos que vão chegar, enquanto megafones rompem o silêncio e os soluços para anunciar novos funerais mais tarde.

Ao lado da igreja simples de cores claras de Brumadinho, erguida no ponto alto da cidade, pousam os helicópteros que depositam no solo os cadáveres resgatados com redes.

Os bombeiros trabalham em uma mistura de lama e areia movediça com até 15 metros de profundidade, fazendo escavações.

À medida que a lama seca, a visualização e a retirada dos corpos fica mais fácil.

O centro da cidade é cortado pelo rio Paraopeba, em tom marrom avermelhado pelos sedimentos do mar de lama, o que compromete o abastecimento de água potável da aldeia indígena Nao Xona (espírito guerreiro), a 20 km do complexo de mineração.

Estimativas oficiais indicam que a pluma de lama e resíduos pode avançar ainda mais alguns quilômetros até a represa de Três Marias e há temores de que chegue ao estratégico rio São Francisco, que corta vários estados, onde tem importância econômica e social vital.

O rompimento da barragem provocou críticas de instâncias ambientais, de direitos humanos e lideranças políticas. Também pôs na berlinda as premissas do governo de ultradireita do presidente Jair Bolsonaro, que assumiu no começo do mês com um discurso liberal e crítico ao que considerava uma excessiva meticulosidade nos controles ambientais.

Detenções na Vale

Na manhã desta terça-feira, a Polícia deteve cinco engenheiros, três deles funcionários da Vale, são responsáveis pela autorização de funcionamento da mina de Córrego do Feijão, epicentro da catástrofe.

Dois engenheiros da companhia alemã TÜV SÜD também foram presos por terem feito uma avaliação, em setembro de 2018, garantindo a estabilidade da barragem.

O vice-presidente Hamilton Mourão, em exercício enquanto Jair Bolsonaro está se recuperando de uma cirurgia abdominal, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se disseram favoráveis na segunda-feira a que os responsáveis pela tragédia respondam criminalmente.

Até as detenções, a punição à Vale tinha consistido no bloqueio judicial de 11,8 bilhões de reais para o ressarcimento de danos pessoais e ambientais e assegurar o pagamento de salários, e em multas contra a empresa em um valor que chega a 449 milhões de reais.

As ações da mineradora despencaram na segunda-feira e fecharam em queda de 24% na Bolsa de São Paulo. Nesta terça-feira, tiveram uma recuperação de 0,85%.

Em Brasília, uma reunião ministerial decidiu priorizar a auditoria de 3.300 barragens de alto risco, das mais de 20 mil existentes em todo o país.

Acompanhe tudo sobre:Brumadinho (MG)Minas GeraisVale

Mais de Negócios

"Tinder do aço": conheça a startup que deve faturar R$ 7 milhões com digitalização do setor

Sears: o que aconteceu com a gigante rede de lojas americana famosa no Brasil nos anos 1980

A voz está prestes a virar o novo ‘reconhecimento facial’. Conheça a startup brasileira por trás

Após perder 52 quilos, ele criou uma empresa de alimento saudável que hoje fatura R$ 500 milhões