Carajás: apesar de diversificar o portfólio, minério de ferro ainda é trunfo da Vale (.)
Tatiana Vaz
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
São Paulo - Os analistas não perderam o otimismo em relação à Vale, apesar dos números do primeiro trimestre ficarem abaixo dos do mesmo período do ano passado. Para os especialistas, a queda não enfraquece a avaliação de que a companhia tem potencial para gerar bons resultados neste ano. A expectativa de que as vendas de minério de ferro vão melhorar nos próximos meses, o novo sistema de preços adotado pela Vale e a recente aquisição de uma jazida na Guiné sustentam a confiança dos analistas.
As vendas de minério de ferro in natura recuaram em relação ao segundo trimestre de 2009, de 60,6 milhões de toneladas para 56,6 milhões de toneladas. Mas quando comparado ao primeiro trimestre do ano passado, o resultado mostra uma melhora significativa, já que foram vendidos na época 50 milhões de toneladas. A grande vantagem da Vale, de acordo com Pedro Galdi, analista de investimentos da corretora SLW, e das outras mineradoras naquela época de forte crise é que os preços foram combinados pelo modelo de benchmark, que é baseado em negociações anuais bilaterais feitas pelas grandes empresas do setor em todo mundo.
"Em tempos de turbulência, os países tiveram que pagar pelo minério o preço combinado. O único que não cumpriu o acordo foi a China, que acabou pagando o preço à vista", explica Galdi. Com isso, o preço médio de minério negociado pela Vale foi de 67 dólares por tonelada, número maior que a média mundial, de cerca de 60 dólares. "Para os chineses a desvantagem agora é que eles continuarão comprando pelo preço à vista, sendo que a tendência é o valor médio do produto chegar a 120 dólares por tonelada", diz o analista. Ruim para os clientes, mas bom para a Vale, que poderá se beneficiar mais rápido das flutuações de preços.
Caixa reforçado
Outra vantagem que deve elevar mais os lucros da Vale é o fôlego financeiro. "A Vale ficará com 5 bilhões de dólares para fortalecer seu caixa, investir e até usar como uma proteção ao risco dos projetos na região que sofrerem alguma limitação política ou ecológica até sair do papel", explica Galdi. O montante é a diferença entre o valor que a companhia pagará pela reserva de Simandou, na Guiné - 2,5 bilhões de dólares - e o que receberá pela venda de ativos de alumínio - 7,4 bilhões de dólares.
Além de sair das duas operações, anunciadas num intervalo relativamente curto de tempo, com um saldo financeiro positivo, a compra de Simandou também é um passo estratégico para a empresa. "Há poucas reservas de minério no mundo, e a Vale possui duas das maiores: Carajás e Simandou", comentam os analistas de mercado do Banco do Brasil em relatório.
Durante a teleconferência de resultados na manhã desta quinta-feira (6/5), Fábio Barbosa, diretor executivo de finanças da Vale, comentou a pretensão de gerir a operação da nova reserva da mesma maneira como as operações de Carajás são controladas. "A distância relativamente pequena entre as duas reservas (cerca de quatro horas) facilitará a transferência de gestão que usamos no Brasil para Guiné", disse o executivo.
Balanço
A receita operacional bruta do primeiro trimestre, 13,029 bilhões de reais, foi 1,1% inferior à dos primeiros meses do ano passado. As vendas na Ásia recuaram 19%, descendo de 8,098 bilhões para 6,553 bilhões de reais na comparação. O continente, que respondeu por 61,4% do faturamento da Vale no início de 2009, viu sua participação descer para 50,3%.
O níquel, que respondeu por 1,477 bilhão de reais no ano passado, recuou para 1,236 bilhão. Isso principalmente por conta da greve dos funcionários canadenses na reserva da companhia no país, hoje a principal fonte de vendas desse minério dentro da empresa. Já o lucro líquido, 2,879 bilhões de reais, marcou uma queda de 8,6% sobre o período comparado. Apesar dos resultados, os analistas crêem que a Vale mantêm a confiança. "Ainda vemos um ótimo momento para a companhia", afirma relatório da Link Investimentos. "O ano de 2010 deve trazer enormes lucros para a Vale", completa. Agora, é ver se as recentes turbulências mundiais, causadas pela crise das dívidas públicas de alguns países, não transformarão a Vale de uma mina de lucros em um poço de incertezas.