Hospital da Rede D'Or: empresa já investiu 170 milhões de reais em ações de combate à covid-19 (Germano Lüders/Exame)
Mariana Desidério
Publicado em 6 de junho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 6 de junho de 2020 às 10h41.
A Rede D’Or, maior rede privada de hospitais do país, colocou até agora 170 milhões de reais em iniciativas focadas no combate à pandemia do novo coronavírus. A iniciativa mais recente envolve o estudo com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford no Reino Unido, e que será testada no Brasil com 2.000 voluntários.
A Rede D’Or irá investir 5 milhões de reais na realização do estudo. O Instituto D’Or, mantido pela companhia, será responsável pela realização do estudo no Rio de Janeiro, com 1.000 voluntários. "Decidimos que vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar o país a sair dessa situação. Como uma empresa de saúde, temos essa responsabilidade”, afirma Leandro Tavares, vice-presidente médico da Rede D'Or.
Os voluntários que receberem a vacina serão acompanhados durante um ano. Boa parte dos 5 milhões investidos serão usados na realização de exames e no monitoramento dos participantes. Os outros 1.000 voluntários serão testados em São Paulo, pela Unifesp. A Rede D’Or estuda ampliar o estudo com a vacina para outros estados, com investimento adicional da ordem de 10 milhões de reais, passando de 2.000 para 5.000 voluntários no país.
“É uma honra participar de um estudo de uma possível vacina para essa doença. Não só pela importância científica em si, mas por ajudar a trazer uma esperança para os brasileiros”, afirma Fernanda Tovar-Moll, presidente do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino.
Além do estudo com a vacina, o Instituto D’Or abriu outras dez linhas de pesquisa relacionadas à covid-19, com investimento de 30 milhões de reais da Rede D’Or. “Montamos um portfólio de esforços do ID’Or contra a covid-19. Nos últimos meses, praticamente todos os nossos pesquisadores e nossos recursos estão voltados ao combate da pandemia”, afirma Tovar-Moll.
Dentre as linhas de pesquisa estão modelos matemáticos para mapear e conter a evolução da epidemia, estudos da biologia do vírus, compreensão da evolução da doença nas diferentes populações e avaliação da eficácia de medicamentos para o tratamento da doença.
O contato direto com os 50 hospitais da Rede D’Or ajuda no desenvolvimento das pesquisas. Um dos principais projetos envolve um registro unificado dos pacientes com covid-19 nos hospitais, com o objetivo de descrever as características clínicas da doença, estimar sua evolução e avaliar a resposta dos pacientes aos diferentes tratamentos. Até agora, a base de dados tem 2.000 pacientes incluídos.
Os resultados das pesquisas, porém, ainda não podem ser usados no atendimento a pacientes com covid-19 nos hospitais da companhia, uma vez que os estudos não foram concluídos. “A atividade de pesquisa e e de assistência médica têm ritos distintos. As pesquisas que estão em custo não geram resultado para uso imediato, elas acumulam conhecimento para a sociedade”, afirma Tavares.
Uma pesquisa com participação do Instituto D’Or publicada recentemente na revista The Scientist, exemplifica bem a diferença entre o tempo do atendimento e o tempo do estudo científico. A pesquisa aponta que a qualidade da água pode ter sido uma das razões para o surto de casos de microcefalia associados à epidemia de zika no Nordeste. A epidemia ocorreu entre 2015 e 2016. “A zika não é mais notícia, mas ela ainda é uma doença. Continuamos acompanhando as crianças que tiveram problemas e estudando para responder as perguntas que ficaram em aberto”, diz Tovar-Moll.
A companhia investiu até agora outros 135 milhões de reais em ações de combate ao novo coronavírus, com apoio ao poder público, criação de leitos permanentes ou provisórios e entrega de equipamentos em sete estados. Dentre as principais ações estão a construção e operação de dois hospitais de campanha no Rio de Janeiro e a abertura de novos leitos em hospitais já existentes, em parceria com outras instituições privadas.
Enquanto investe em pesquisa, a Rede D’Or continua com o desafio de garantir atendimento aos pacientes com covid-19 e outras doenças em seus hospitais. Segundo Tavares, a lotação das UTIs dos hospitais da rede, que chegou perto de 100% em abril, começou a diminuir nas últimas semanas. Hoje a taxa de ocupação das UTIs da rede está em cerca de 80%.
A redução dessa ocupação é mais visível no Rio de Janeiro. Lá, a Rede Dor opera dois hospitais de campanha que atendem pacientes do sistema público e que, segundo Tavares, tiveram redução na fila de espera por leito de UTI.
Em São Paulo, segundo Tavares, a taxa de ocupação dos hospitais da rede cai de forma mais lenta. Os hospitais no Norte e no Nordeste do país ainda estão em situação mais crítica. “Essa redução que verificamos mostra o que está no retrovisor. Se isso vai se sustentar, só o futuro dirá.”
O vice-presidente médico alerta para a importância da atenção também aos pacientes com outros problemas de saúde. “Quem não tem covid ficou com medo de buscar assistência, e começamos a notar aumento de casos graves em outras doenças. Esse é o momento que estamos vivendo um esfriamento de casos de covid e maior busca de casos graves de outras doenças”, afirma.