Leciane Maciel, fundadora da Sol Poente Parreiral: “Eu tinha que fazer dar certo. Não queria ir para a vala comum, que é desistir na primeira dificuldade”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 9 de abril de 2025 às 13h39.
Qual o tamanho do seu sonho? Para a goiana Leciane Maciel, tem 0,3 hectares – ou 3 mil metros quadrados. É nesse espaço, equivalente a um terço de um campo de futebol, que ela cultiva uvas há quase três anos. Localizado em Avelinópolis, a cerca de 70 quilômetros de Goiânia, o Sol Poente Parreiral é fruto de qualificação, dedicação e inteligência emocional, além de um desejo que surgiu de forma inesperada.
Formada em engenharia agrícola, Leciane conheceu o marido, Diego, na faculdade. Ele, vindo de família de agricultores, já trabalhava com cultivo de soja. Juntos, iniciaram uma plantação em terra arrendada. Com o nascimento da primeira filha, Leciane se dedicou à maternidade, mas, à medida que o negócio prosperava, passou a cuidar da administração e manejo do campo. “A soja começou a pagar as contas e se tornar um negócio promissor”, conta.
Tudo mudou com uma viagem a Gramado (RS), em comemoração aos dez anos de casamento. “Fomos conhecer uma vinícola e lembro de ver um parreiral de 2 hectares e me encantar. Assim que saímos do local, falei ao meu marido: ‘Quero produzir uva’”.
Transformar o desejo em negócio não foi tarefa simples. O clima de Goiás impõe barreiras ao cultivo de uvas: altas temperaturas, longos períodos de seca e solos pobres em nutrientes. A maioria das vinícolas do Estado está concentrada em Pirenópolis, onde o desafio é igualmente grande.
Outro obstáculo era a falta de terras. A situação mudou com a compra de uma chácara. Leciane mergulhou nos estudos sobre viticultura: fez cursos pelo Senar e na Academia da Uva, no Vale do São Francisco, além de buscar formação online e pós-graduação em gestão de grãos. Também calculou todos os custos para viabilizar o negócio.
A variedade escolhida foi a “isabel precoce”, mais rústica e adequada ao clima do cerrado. Originária dos Estados Unidos e adaptada pela Embrapa, a uva tem dupla aptidão – para consumo in natura ou para produtos como sucos e geleias. “É uma espécie mais fácil de trabalhar porque não é tão sensível. Se eu errasse na poda, por exemplo, não teria perdas”, explica.
A primeira safra veio em julho de 2024, com 1,3 mil quilos colhidos.
Para expandir, Leciane apostou no turismo rural. Com apoio das redes sociais, o parreiral foi aberto à visitação, com entrada a R$ 30. O público pode colher uvas, aprender sobre o cultivo e provar produtos artesanais. “Todos recebem uma tesoura e uma cestinha, aprendem sobre a produção e têm a oportunidade de fazer a própria colheita”, diz Leciane.
Em apenas duas semanas, 80 pessoas visitaram a propriedade. Para a próxima safra, a expectativa é ainda maior, graças à maior produção e à visibilidade conquistada com o marketing digital, única atividade terceirizada por Leciane. A localização, próxima a Goiânia, também contribui.
Apesar do sucesso, o negócio ainda não é lucrativo – tudo o que entra é reinvestido.
Leciane cuida da produção, das filhas de 8 e 12 anos e ainda ajuda o marido na plantação de soja. Sem rede de apoio, divide-se entre os papéis com determinação. “Sempre gostei muito da soja, mas a parreira me encanta. Com ela, consigo chegar muito próximo das pessoas”, diz.
O caminho foi cheio de desafios, e não faltaram vozes desmotivadoras. Mas desistir nunca foi opção. “Eu tinha que fazer dar certo. Não queria ir para a vala comum, que é desistir na primeira dificuldade”, afirma.
Como conselho, ela recomenda às empreendedoras que invistam em desenvolvimento técnico e pessoal. “A evolução nos dá mais clareza, mas isso não significa que o percurso será mais fácil”, conclui.