Usiminas: "A terceira linha de galvanização é mais concreta (que a reativação de produção de aço em Cubatão)", diz presidenta da companhia, Sergio Leite (Nelio Rodrigue/Exame)
Reuters
Publicado em 20 de abril de 2018 às 15h59.
A Usiminas está estudando a viabilidade de construção de uma terceira linha de galvanização em sua usina em Ipatinga (MG) e uma retomada parcial na produção de aço bruto em Cubatão (SP), afirmaram executivos da companhia nesta sexta-feira.
"Caso consigamos obter aprovação do conselho (de administração) entre o fim deste ano e início do ano que vem, os dois investimentos levariam dois anos para implementação, entregando os primeiros resultados a partir de 2021", disse o vice-presidente financeiro da Usiminas, Ronald Seckelmann, em teleconferência com analistas, sem estimar valores de investimento.
No caso da terceira linha de galvanização, processo que torna o aço menos sujeito à corrosão, o presidente da Usiminas, Sergio Leite, afirmou à Reuters que atualmente a empresa tem usado 100 por cento de sua capacidade de galvanização de 1 milhão de toneladas por ano, localizada em Ipatinga. Tipicamente, uma nova linha de galvanização tem capacidade para 400 mil a 500 mil toneladas por ano.
"A terceira linha de galvanização é mais concreta (que a reativação de produção de aço em Cubatão)", disse o executivo, acrescentando que a probabilidade maior é que esta nova linha seja construída em Ipatinga. Ele, porém, não descartou que a Usiminas possa fazer esse investimento na usina paulista e comentou que a companhia está em fase de especificação dos equipamentos.
"É mais concreto porque estamos operando à plena capacidade e o mercado está crescendo, com o setor automotivo avançado, tem espaço no mercado para colocarmos uma nova linha", disse Leite.
A Usiminas divulgou nesta manhã o melhor resultado trimestral dos últimos sete anos, com lucro líquido de 157 milhões de reais e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de 641 milhões.
Até agora, executivos da Usiminas vinham comentando que a reativação das áreas primárias de Cubatão dependeria de uma retomada mais vigorosa da economia Brasil. A usina paulista deixou de produzir aço bruto no início de 2016, ficando dedicada apenas a atividades de laminação por pelo menos cinco anos.
Na entrevista à Reuters, o presidente da Usiminas comentou que a usina de Cubatão, que tem dois alto fornos e capacidade para cerca de 4 milhões de toneladas anuais, ainda precisa de uma retomada "mais robusta" da economia para voltar com produção plena, algo que a empresa ainda não vislumbra. "Se vier a ocorrer, será por etapas. Primeiro voltando um forno", disse ele.
A Usiminas religou no início desta semana o alto forno 1 de sua usina em Ipatinga (MG), adicionando cerca de 650 mil toneladas por ano em capacidade de produção de ferro gusa ao grupo. O forno, que estava parado desde 2015, foi religado em meio a perspectivas melhores de demanda de aço neste ano, embora Leite tenha alertado na cerimônia de reativação do equipamento nesta semana que a redução das perspectivas para o PIB de 2018, que consta no boletim Focus do Banco Central, é um "sinal de alerta".
"A retomada de Cubatão é mais complexa que a do alto forno 1 de Ipatinga. Lá era só o alto forno, em Cubatão teria que voltar alto forno, sinterização, acearia", disse Leite, acrescentando que a decisão de retomada na usina mineira levou 11 meses para ser tomada.
Segundo Seckelmann, a Usiminas provavelmente vai sentir os efeitos completos da reativação do alto forno 1 de Ipatinga apenas no quarto trimestre. Isso porque a empresa programa para julho uma parada para manutenção de 11 dias no alto forno 3, o maior da usina, com capacidade para 2,35 milhões de toneladas por ano.
Leite comentou aos analistas que a empresa iniciou estudos para uma grande reforma do alto forno 3 de Ipatinga ou uma reforma parcial para dar mais alguns anos de operação ao equipamento. Uma reforma total deste alto forno daria mais 20 a 25 anos de operações para a unidade. "Uma reforma do alto forno 3 não vai ocorrer antes de 2021", disse o executivo.
Seckelmann acrescentou que é provável que a Usiminas compre menos placas de terceiros para serem laminadas em Cubatão no terceiro trimestre, diante de nível de preços do material que inviabiliza exportações de laminados da unidade.
Questionado por analistas se a Usiminas pode parar até mesmo as atividades de laminação de Cubatão, Leite disse acreditar que a suspensão das exportações da usina deve ser temporária, por três meses, enquanto os preços de placas estão desequilibrados no mercado internacional após os Estados Unidos imporem no mês passado sobretaxas de importação de 25 por cento sobre aço.
Seckelmann acrescentou que a usina de Cubatão tem um ponto de equilíbrio de operação de 80 mil toneladas de aço para laminação por mês, melhoria ante o nível de 100 mil toneladas de alguns anos anteriores. "Estamos trabalhando para baixar ainda mais isso", disse o vice-presidente financeiro.
Leite afirmou ainda que a Usiminas vê oportunidade para elevar em 5 por cento em junho o preço de aço vendido a distribuidores do país. Segundo ele, a diferença atual de preços entre aço importado e o produzido no Brasil, conhecida como "prêmio", está "caminhando para perto de zero, que permite movimento de preços".
Já sobre a expansão de produção de chapas grossas em Ipatinga, o presidente da Usiminas se mostrou mais cético. A empresa comprou entre 2010 e 2011 equipamentos para ampliar sua capacidade de 1 milhão para 1,5 milhão de toneladas em Ipatinga, de olho nos projetos da Petrobras para o pré-sal, mas até hoje mantém o maquinário embrulhado. Há ainda mais 1 milhão de toneladas de capacidade parada em Cubatão.
"Chapa grossa depende também do crescimento da economia... Máquinas, pontes, estruturas prediais, dutos etc é basicamente chapa grossa e depende de investimento e hoje não temos nenhum projeto significativo em carteira", disse Leite.