Linha da Unipar: medidas adicionais para garantir a produção (Unipar/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 25 de março de 2020 às 16h06.
Última atualização em 25 de março de 2020 às 18h29.
No combate ao novo coronavírus, a maior fabricante de cloro da América do Sul, a Unipar Carbocloro, está ampliando a produção. O objetivo é garantir suprimento para tratamento de água e para a fabricação de água sanitária, considerada uma importante aliada na higienização de ambientes. Mas diante de um cenário de quarentena e restrições de mobilidade, a empresa está adotando medidas para manter o fluxo das operações.
A indústria de cloro-soda, por si só, envolve inúmeros riscos. Por se tratar de produtos inflámaveis ou que, combinados, provocam combustão, os estoques não podem se acumular por muito tempo e o transporte é de alta periculosidade.
Com estes desafios, a Unipar está elevando em 15% - cerca de 1.000 toneladas - a produção de hipoclorito de sódio, base para a indústria de água sanitária. “Não podemos deixar de receber insumos. Nossas fábricas foram desenhadas para rodar continuamente”, afirma Maurício Russomanno, presidente da Unipar Carbocloro, em entrevista à EXAME.
A companhia produz soda cáustica, amplamente utilizada em diversos processos produtivos; cloro para tratamento de água e efluentes em plantas industriais; hipoclorito, base para a água sanitária e, finalmente, o PVC. As fábricas estão localizadas em Cubatão e Santo André, no estado de São Paulo.
Toda vez que há uma parada na linha de produção, o processo de religamento é moroso. Com a variação de temperatura, resíduos “grudam” nas paredes dos equipamentos e, antes de religar, é preciso fazer uma limpeza minuciosa pois há riscos de corrosão, vazamento e, em último caso, combustão.
“Além do alto custo de parada, a questão da segurança é o mais importante”, salienta Russomanno. Diante desses riscos, a empresa mantém estoques de segurança, de apenas 5 a 15 dias. Com a crise da covid-19, reuniões têm sido feitas a cada três dias para monitorar a situação e adotar possíveis ações emergenciais.
Em um cenário de medidas drásticas tomadas pelo poder público e pela iniciativa privada contra o coronavírus, a operação da companhia corre riscos. “Não podemos ficar sem insumos. Nossa produção é essencial inclusive para o tratamento de água da população”, diz Russomanno. O grupo tem como clientes no segmento de saneamento grandes empresas como a Sabesp.
A Unipar também tem um papel importante no segmento de plásticos. É a segunda maior produtora de PVC da América do Sul, depois da Braskem. No combate ao novo coronavírus, a operação de Santo André torna-se fundamental no fornecimento à indústria de descartáveis médicos essenciais, como bolsas de sangue e cateteres. “Criamos planos alternativos para não deixar nada parado”, diz. A base da produção de PVC é a soda cáustica, que não pode ficar estocada por muito tempo, também pelo seu grau de periculosidade.
Em 2019, a receita líquida da Unipar recuou 12%, para 3,04 bilhões de reais, em um cenário de recuperação ainda lenta da economia brasileira. O lucro recuou 70%, para 172 milhões de reais.
Segundo o presidente da companhia, no ano passado a indústria química operou, em média, com 70% de utilização da capacidade. “Nós operamos um pouco acima desse nível.” Em Cubatão, a empresa encerrou o quarto trimestre com 81% de utilização da capacidade e, em Santo André, 76%.
No início de 2020, as expectativas do setor produtivo, em geral, eram otimistas. No entanto, a crise do novo coronavírus caiu com uma bomba na economia global e do Brasil.
Apesar disso, uma parcela importante da produção da Unipar está voltada para serviços essenciais, como o tratamento de água. Na quarta-feira da semana passada, Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, reforçou a importância da distribuição de cloro no país. Os papéis da companhia na B3 apresentaram ligeira recuperação no dia seguinte, em meio à queda generalizada das bolsas globais.
Ainda assim, importantes segmentos de atuação da empresa, como o de PVC, correm sérios riscos neste ano. A maior parte da demanda vem da construção civil, que está totalmente paralisada neste momento.
“Com as lojas de materiais de construção fechadas e construtoras paradas, teremos que pensar sobre o que vamos fazer com o excedente de PVC. Não podemos estocar soda cáustica. Estamos tentando exportar o produto, mas o restante será um desafio."