Pau Ramon, Bernat Farrero e Jordi Romero, da Factorial: vamos expandir as aquisições (Factorial/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 11 de outubro de 2023 às 08h00.
Última atualização em 11 de outubro de 2023 às 13h55.
A startup espanhola Factorial acaba de adquirir a operação da compatriota Fuell, dedicada a prover serviços de gestão de despesas. A Factorial é uma tech para agilizar processos de recursos humanos de pequenas e médias empresas. A compra, a primeira em sua história, representa um passo a mais da startup na oferta de produtos financeiros para os clientes.
A Factorial chegou ao Brasil em setembro de 2021, logo após receber um aporte de US$ 80 milhões, em rodada liderada pela gestora americana Tiger Global. Cerca de um depois, a startup alcançou um título de unicórnio, após uma rodada série C de US$ 120 milhões, liderada pelo grupo Atomico, fundo com mais de US$ 5 bilhões sob gestão.
Nos últimos meses, a empresa tinha começado a oferecer alguns produtos de gestão de despesas, todos desenvolvidos dentro de casa. Com a movimentação, a startup pretende acelerar a entrada no setor.
“Nós acreditamos que poderíamos construir um produto muito melhor do que estávamos oferecendo se tivéssemos tempo, mas eles na Fuell já tinham um produto muito melhor. Basicamente, o que fizemos foi acelerar. Em uma companhia como a Factorial, que cresce muito rapidamente, o tempo é muito importante”, afirma Jordi Romero, co-fundador e CEO da startup.
No acordo, a Factorial adquiriu 100% da operação da Fuell, fundada em Madri em 2019 e com escritórios em Miami, nos Estados Unidos, e Las Palmas, nas Ilhas Canárias. A startup chegou a receber investimentos da Y Combinator e dos fundos Fin Capital, FJ Labs & K Fund.
Os principais serviços da startup estão relacionados à gestão de gastos empresariais, como cartões corporativos, reembolsos, aprovação de fluxos de pagamento e recuperação de impostos como o IVA.
A negociação incluiu dinheiro e troca de ações. Os valores da transação não foram revelados. Os 16 funcionários da operação foram incorporados ao time de mais de 1.000 pessoas da Factorial, e, neste primeiro momento, os co-fundadores da permanecem no negócio, atuando como consultores.
O negócio da Factorial foi criado em 2016 com foco no aumento da produtividade de times de RH em pequenas empresas. Com um software automatizado, a startup se propõe a substituir os processos repetitivos em diferentes áreas dos recursos humanos.
Na lista, estão o controle da jornada de trabalho, férias, pagamento de salários e até gestão de desempenho. O modelo também procura integrar os serviços, facilitando ações de recrutamento, onboarding e gerenciamento de faltas.
Nesses sete anos de mercado, a startup conquistou mais de 9.000 clientes, como as brasileiras SouSmile e Agrotools. Apesar de estar no Brasil há pouco mais de dois anos, a startup tem no país o mercado com o maior crescimento em termos de receita, triplicando ano a ano. “ Se continuar nesse ritmo, um dia será o maior”, diz Romero. A operação global deve crescer 100% em relação aos números do ano passado.
Romero criou o negócio ao lado de outros dois sócios, Bernat Farrero e Pau Ramon. Antes, o trio de engenheiros da computação já havia trabalhado e fundado empresas de software em Barcelona. Uma percepção em comum - a falta de ferramentas para facilitar a gestão no dia a dia dos pequenos e médios negócios -, levou à criação da nova startup.
Ele conta que, a partir da Fuell, os clientes brasileiros do negócio passarão a ter acesso a mais funcionalidades para o gerenciamento de despesas. Entre elas, um produto que permite aos gestores configurar a destinação dos recursos aos quais cada funcionário tem à disposição.
Por questões regulatórias nacionais, os cartões corporativos, oferecidos em outros mercados, ainda dependem de novas parcerias da Factorial. “RH no Brasil não é fácil. Existem muitas regras que as empresas devem seguir”, diz.
Segundo o executivo, a empresa deve investir alguns milhões de euros para marcar território neste mercado, no qual atuam empresas já conhecidas como a mexicana Clara, a norte-americana Jeeves e a brasileira Caju.
A proposta da Factorial é explorar a venda integrada dos serviços, conectando o gerenciamento de despesas aos serviços de gestão de produtividade e de talentos. “Nós podemos vender desenvolvimento de talentos, gestão de tempo e podemos vender gestão de despesas para o mesmo cliente. Além disso, investir muito mais em vendas e marketing para atingir um público maior do que qualquer outra empresa”, afirma.
Nessa busca por mais espaço - e mercados -, a estratégia de crescimento inorgânico deve ter um papel cada vez mais importante. A startup está em conversas com outros negócios em diferentes regiões geográficas, como Brasil, Europa e Estados Unidos; e setores, de recursos humanos a TI e finanças.
A ideia é aproveitar o que entende como oportunidades de mercado diante da escassez de recursos no setor de venture capital. “Tem muitas companhias boas. Elas têm produtos realmente bons, ótimas equipes, mas não conseguem encontrar investimentos e talvez sejam uma oportunidade para adquirirmos”.
Na Factorial, caixa não parece ser o problema. A startup ainda não mexeu nos 120 milhões de dólares captados em outubro passado, na rodada série C.