Pizza típica napolitana: massa de fermentação longa, borda aerada e leveza no sabor (Neuton Araújo/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 20 de novembro de 2024 às 12h38.
Última atualização em 20 de novembro de 2024 às 12h38.
São Paulo destaca-se como um dos maiores mercados consumidores de pizza no mundo. A cidade só perde para Nova York no quesito, de acordo com uma estimativa da Associação de Pizzarias Unidas de São Paulo. A capital paulista produz 190.000 pizzas todos os dias. É quase 20% do volume preparado no país todo.
A metrópole tem cerca de 4.400 estabelecimentos com a iguaria de origem italiana no cardápio. A densidade só perde para a da metrópole nova-iorquina, onde operam cerca de 6.600 pizzarias. Num cenário competitivo desses, destacar-se com uma pizzaria em São Paulo exige visão de mercado e execução precisa.
Foi nesse ambiente altamente competitivo que o paulistano Daniel Lucco decidiu investir. O empreendedor de 32 anos traz no sangue o histórico de uma família que soube recomeçar do zero. O avô iniciou como camelô antes de abrir uma empresa de asfalto, que prosperou por alguns anos, mas enfrentou crises e acabou sendo fechada.
Aberta como uma fonte complementar de renda, uma pizzaria familiar na Lapa, bairro na zona oeste de São Paulo, acabou virando a principal fonte de sustento da família. "Meu tio dizia que pizza era para sobreviver, não para crescer”, diz Lucco. "Mas eu enxerguei potencial quando percebi o quanto os paulistanos valorizam essa tradição."
Lucco começou sua jornada no empreendedorismo ainda jovem, conciliando os estudos de administração e economia com projetos próprios. Em 2014, fundou a Lucco Fit, uma empresa de refeições saudáveis ultracongeladas, com a proposta de atender ao mercado fitness.
O negócio prosperou e chegou a atrair investidores, mas os desafios de escala levaram à venda da empresa para a Sapore, gigante do segmento de refeições coletivas. "Foi um aprendizado duro", diz Lucco. “Vi como uma empresa pode ser bem-sucedida no produto, mas sofrer na operação por falta de planejamento logístico.”
Após a venda, Lucco voltou os olhos para o mercado de pizzarias. Ele uniu forças com Marcos Paulo Lima, um entusiasta da gastronomia e responsável pelas inovações no cardápio, e outros dois sócios com experiência em operações e marketing: Guilherme Paim e Gustavo Brunello.
A ideia era clara: criar uma marca que misturasse tradição e sofisticação, fugindo dos padrões rígidos para layout das lojas e cardápio vistos em redes de franquias como a Domino’s e a Pizza Hut e, ao mesmo tempo, criar um negócio capaz de crescer e ter várias unidades.Em 2021, os sócios abriram a primeira unidade da La Braciera. Hoje a pizzaria conta com cinco unidades, nos bairros de Morumbi, Higienópolis, Tatuapé, Jardins e Santana.
O modelo de negócios é ancorado em três pilares: excelência no produto, padronização operacional e marketing direcionado. A La Braciera se especializou em pizzas napolitanas, com massa de fermentação longa e ingredientes de alta qualidade.
A aposta na pizza napolitana foi estratégica. O estilo, reconhecido como patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco, destaca-se pela massa de fermentação longa, borda aerada e leveza no sabor. Diferentemente da pizza paulista, que utiliza ingredientes mais calóricos como óleo e açúcar, a napolitana segue uma receita tradicional com farinha, água, sal e fermento natural.
"A pizza napolitana tem um apelo de saudabilidade e autenticidade que conversa com o público paulistano, sempre atento a novas tendências gastronômicas", diz Lucco. Para os sócios da La Braciera, essa escolha permitiu diferenciar a marca em um mercado saturado, valorizando a qualidade e a experiência gastronômica em detrimento do volume e da padronização excessiva.
"Usamos farinha importada, tomamos cuidado com a hidratação da massa e garantimos que todos os nossos produtos sigam um padrão rigoroso. É isso que mantém o cliente voltando", diz Lucco. A centralização da produção em uma cozinha principal permite que cada unidade receba os insumos já prontos para serem montados, reduzindo custos e aumentando a consistência.
A padronização, no entanto, não elimina a personalização. Cada unidade é projetada para refletir as características do bairro em que está inserida. Em Santana, na zona norte da capital, a pizzaria ocupa um imóvel com decoração aconchegante, priorizando iluminação quente, mesas de madeira rústica e um pequeno jardim interno, que dá ao espaço um clima familiar e descontraído.
Nos Jardins, bairro nobre na zona oeste, o ambiente é mais sofisticado, com fachada de vidro, mesas de mármore, cadeiras de design contemporâneo e um bar central que serve drinques autorais. "Cada unidade é pensada para dialogar com o público local. O paulistano gosta de sentir que está em um lugar único", diz Lucco.
O crescimento veio rápido. Em 2023, a receita operacional líquida atingiu R$ 11,8 milhões, um salto de 274% em relação aos R$ 3,2 milhões registrados no ano anterior. Esse desempenho colocou a La Braciera em posição de destaque no ranking Negócios em Expansão 2024, que reconhece empresas brasileiras com taxas de crescimento expressivas em diferentes faixas de faturamento.
A empresa ficou no 15º lugar na categoria de empresas entre 5 e 30 milhões de reais. “Começamos pequenos, mas com processos bem definidos. Isso nos permitiu escalar sem perder a qualidade, mesmo num mercado tão competitivo quanto o de São Paulo”, diz Lucco.
A expansão para além da capital paulista é um dos principais planos para o futuro. A empresa pretende abrir unidades em outras regiões do estado, replicando o modelo de cozinhas centralizadas e estudando cada mercado local antes de entrar.
No radar também está o lançamento de uma linha de vinhos autorais, pensada para harmonizar com as pizzas da casa. "Queremos criar um rótulo que seja a cara da marca. Acreditamos que o vinho agrega valor à experiência do cliente", diz Lucco.
A La Braciera também pretende investir em tecnologia para integrar melhor os canais de atendimento e reforçar o delivery, uma área que cresceu durante a pandemia e permanece relevante.
O uso de dados do aplicativo de delivery iFood para identificar bairros com maior potencial foi fundamental para o sucesso inicial, e a ideia é aprimorar ainda mais esse trabalho. "A tecnologia nos ajuda a entender onde podemos atuar com mais eficiência e a antecipar demandas do mercado", diz Lucco.
O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses.
Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.
A análise considerou os negócios com faturamento anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.
São 371 empresas de 23 estados brasileiros que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros.