Uber: braço de corridas voltou a ter participação mais expressiva. No trimestre passado, o Uber Eats havia sido o único com alto crescimento (Simon Dawson/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 4 de novembro de 2019 às 19h39.
Última atualização em 4 de novembro de 2019 às 21h49.
Mais um trimestre, mais uma perda bilionária. A empresa de transporte por aplicativo Uber divulgou prejuízo de 1,2 bilhão de dólares no terceiro trimestre de 2019, período entre julho e setembro.
O prejuízo foi 18% maior que no ano passado, mas também melhor do que o esperado pelo consenso de analistas. A perda de 1,2 bilhão foi menor do que a do trimestre passado, quando o prejuízo passou de 5 bilhões de dólares, o maior da história da empresa -- na ocasião, boa parte foi gasta em remuneração de executivos após a oferta inicial de ações (IPO) na bolsa, que aconteceu em maio.
Por outro lado, o faturamento da Uber no terceiro trimestre foi de 3,8 bilhões de dólares, alta de 30% na comparação com o ano passado. A alta também foi maior do que a esperada por analistas, que previam um faturamento de 3,6 bilhões de dólares. No segundo trimestre, a alta no faturamento havia sido de somente 14%.
O presidente Dara Khosrowshahi afirmou que está contente em ver "o impacto que a contínua liderança nas categorias, maior disciplina financeira e uma mudança estrutural na indústria na direção de um crescimento mais saudável já estão tendo em nossa performance financeira".
A "disciplina financeira" citada por Khosrowshahi vem sendo uma exigência cada vez maior dos investidores para empresas como a Uber, que gastam muito dinheiro em expansão com a promessa de que, um dia, serão grandes o suficiente para dar retornos ao investimento.
Além da remuneração de executivos com ações (a chamada stock-based compensation), que respondeu por 20% do prejuízo neste trimestre, a Uber segue tendo perdas com remuneração de motoristas, cupons de desconto que precisa dar para conseguir clientes e investimentos de marketing para entrar ou se consolidar em novos mercados.
O IPO fracassado da WeWork, empresa de aluguel de escritórios compartilhados e que não foi à bolsa neste ano como previsto, ajudou a intensificar a desconfiança dos investidores no modelo de empresas de tecnologia, que trimestre após trimestre vêm apresentando prejuízos bilionários, ao mesmo tempo em que receberam altos investimentos.
Assim, o resultado do trimestre da Uber foi melhor do que o esperado, mas ainda muito longe de qualquer possibilidade de lucro. A ação da empresa caía mais de 5% após o fechamento do mercado, por volta das 19h, depois da divulgação dos resultados.
A Uber dividiu a empresa neste trimestre em cinco braços: o tradicional segmento de corridas, o Uber Eats, de entrega de refeições, um braço de serviços de frete, lançado em julho, e braços de tecnologia e outras apostas diversas, como os carros autônomos nos quais a empresa vem trabalhando.
O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado também foi o melhor desde o terceiro trimestre de 2018, fechando em 585 milhões de dólares negativos. O número mostra o quanto a Uber ganha (ou perde) com seu produto, sem incluir impostos ou juros de dívida.
O Ebitda do braço de corridas, que fechou em 631 milhões de dólares, ainda é o único positivo de toda a empresa, com os outros segmentos todos tendo Ebitda negativo.
O braço de corridas da Uber, inclusive, foi de patinho feio do trimestre passado e a uma alta mais expressiva no faturamento neste trimestre. No segundo trimestre de 2019, o segmento havia praticamente estagnado e o crescimento do faturamento havia sido puxado sobretudo pelo Uber Eats.
Desta vez, as corridas com passageiros tiveram receita ajustada (que não incluiu prêmio pago aos motoristas pelo IPO) de 2,9 bilhões de dólares, alta de de 22% em relação ao trimestre passado. Já o faturamento do Uber Eats segue crescendo, e foi de 392 milhões de dólares, alta de 16% na comparação com o trimestre passado e o dobro do mesmo período de 2018.
Desde o IPO, em maio, o valor de mercado da Uber já caiu mais de 30% -- embora ainda esteja alto, em 52,8 bilhões de dólares.
As ações da Uber vão enfrentar um desafio ainda maior na quarta-feira, quando acaba o período de bloqueio (lockup) dos papéis, quando investidores estão proibidos de vender as ações. Estima-se que mais de 1,7 bilhão de ações vão tornar-se elegíveis para venda amanhã, de modo que analistas apostam que pode haver uma venda em massa, o que tende a desvalorizar ainda mais o valor de mercado da empresa.