Farmácias movimentaram 16,6 bilhões de reais entre janeiro e abril deste ano, um salto de 8,9% em relação ao mesmo período do ano passado (Germano Lüders/EXAME.com/Exame)
Natália Flach
Publicado em 10 de junho de 2019 às 19h00.
Última atualização em 11 de julho de 2019 às 17h06.
São Paulo - A dosagem do remédio pode levar a resultados totalmente distintos. Enquanto a consolidação entre as redes Raia e Drogasil representou a melhora operacional do grupo resultante (e alçou a RD - Raia Drogasil à liderança de mercado), a aquisição de farmácias regionais reduziu a pó os planos da Brasil Pharma, que pediu falência na quinta-feira (6).
Fundada em 2009 pelo BTG Pactual, a Brasil Pharma cresceu rapidamente por meio da estratégia chamada inorgânica. Chegou a ter 1.200 farmácias das bandeiras Farmais (São Paulo), Guararapes (Pernambuco), Rosário Distrital (Centro-Oeste), Mais Econômica (Rio Grande do Sul), Sant’Anna (Bahia) e Big Ben (Pará).
Com a estreia na bolsa, em 2011, captou 466 milhões de reais, e suas vendas vendas alcançaram 3,5 bilhões de reais. Não faltava dinheiro, portanto. Faltou integração das farmácias de médio porte que se distribuíam por diversas regiões do país. Faltou também gestão, especialmente porque os antigos donos não aceitavam os executivos indicados pelo BTG.
Esse quadro piorou com aumento da concorrência. Em 2012, as gigantes Droga Raia e Drogasil se uniram definitivamente, assim como a Pacheco e a São Paulo. Com isso, a liderança da Brasil Pharma se tornou um sonho distante.
Sem conseguir cumprir as metas, o BTG passou a vender as marcas separadamente. Em abril de 2017, decidiu repassar a operação para o fundo de investimentos Lyon Capital por simbólicos 1000 reais — além do rombo de mais de 1 bilhão de reais.
A Raia Drogasil, por sua vez, usou o vácuo da Brasil Pharma para crescer. Com 1.800 unidades espalhadas por quase todo o país (com exceção do Norte), a companhia vem se beneficiando do bom momento para o varejo farmacêutico, em função do envelhecimento da população brasileira e da maior preocupação com a saúde.
O faturamento da companhia chegou a quase 4 bilhões de reais, no primeiro trimestre, e o lucro líquido alcançou 89 milhões de reais. Esses números levaram o BB Investimentos a estimar um preço-alvo de 80,30 reais, ante os 72,61 reais desta segunda-feira (10). Já o Credit Suisse não está tão otimista. Prevê que no fim do ano os papéis fiquem em torno de 54 reais, levando a classifica-los como “abaixo da média de mercado”.
Para Georgia Jorge, analista da BB Investimentos, em relatório do fim de maio, o plano de expansão acelerado (de 200 novas unidades em 2019), atrelado à boa capacidade de execução do time da empresa, tem levado a ganhos expressivos de fatia de mercado. “Importante ressaltar que sua saudável estrutura econômico-financeira, que une um baixo endividamento a uma confortável posição de caixa e a uma boa geração de caixa operacional, também têm sido fatores primordiais no bom desempenho da companhia”, escreve.
Além disso, nos próximos dias, a aquisição da Drogaria Onofre pela Raia Drogasil deve ser concluída, dando ainda mais musculatura para a líder de mercado que é bastante pulverizado — o Brasil tem 78 mil farmácias. A transação foi aprovada, no fim de maio, pelo Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Jorge, do BBI, indica também que a Raia Drogasil pode crescer nas regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste, onde tem poucas unidades, além do Norte, onde ainda não está presente. “Além disso, a legislação pendente de aprovação relacionada à oferta de serviços de saúde dentro de farmácias, principalmente de vacinas, pode aumentar substancialmente o fluxo de pessoas nos estabelecimentos, possibilitando uma maior fidelização dos clientes e uma maior rentabilidade”, afirma.
Esse cenário explica por que as ações da Raia Drogasil subiram 1,48% nesta segunda-feira, ante a queda de 12,68% dos papéis da Brasil Pharma, para 0,62 de real. E prova que remédio só funciona quando ministrado na dosagem certa.
Mercado
As 25 redes afiliadas à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) movimentaram 16,6 bilhões de reais entre janeiro e abril deste ano, um salto de 8,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Essas empresas respondem por 42% do faturamento do setor.
Os remédios isentos de prescrição médica lideraram as vendas e foram os principais responsáveis pelo resultado. O faturamento da categoria foi de R$ 2,7 bilhões, o que significou um crescimento de 17,8%. No período, o comércio geral de medicamentos totalizou R$ 11,2 bilhões, índice 8,1% superior ao dos quatro primeiros meses de 2018. Já o segmento de genéricos movimentou R$ 1,9 bilhão, um avanço de 5,5%.