Participação dos híbridos ainda é pequena, mas país tem potencial para crescer por décadas no mercado de elétricos (AFP/AFP)
Karina Souza
Publicado em 7 de julho de 2021 às 20h17.
Última atualização em 8 de julho de 2021 às 20h00.
Muito se fala a respeito dos carros elétricos -- e da corrida para obter o modelo mais eficiente. Dos modelos desenvolvidos por montadoras tradicionais até os fabricados por novas companhias, todos parecem querer uma fatia do transporte menos poluente. Mas, afinal qual é o potencial de mercado a ser explorado no Brasil? Um estudo do Boston Consulting Group mostra que, no Brasil, os carros elétricos ou híbridos devem representar menos de 10% das vendas até 2030.
As razões para isso envolvem o contexto regulatório e de incentivos (ainda incerto, para a consultoria), além de o Brasil já ter uma alternativa mais sustentável do que a gasolina e o diesel por meio do etanol.
Para ter uma ideia do impacto que o combustível que vem da cana-de-açúcar traz, estimativas da Unica mostram que um carro a gasolina, sem a mistura de 27% de etanol, emite 147 gramas de CO2 por quilômetro rodado. Com a mistura, isso cai para 78 gramas e, num carro híbrido movido a etanol, pode chegar a 28 gramas por quilômetro rodado.
Além disso, não custa lembrar que, em 2020, o país alcançou a maior produção de etanol da história, com 35,6 bilhões de litros na safra 2019/2020. É um cenário bem diferente de outros países, que não têm a produção de cana de açúcar e do combustível como uma opção.
Diante desse cenário, Evandro Gussi, presidente da Unica, reforça o papel desse combustível: “De que adianta ter um veículo elétrico se a energia que o abastece vier de uma termelétrica que queima carvão? O carro elétrico pode não emitir CO2, mas a geração de energia é altamente poluente”.
Esse é o desejo de Pablo Di Si, CEO da Volkswagen para a América Latina, por exemplo. Em entrevista ao Estadão, isso pode facilitar a vinda do carro elétrico para o país, por meio de pesquisas a serem feitas nos próximos anos.
Em uma entrevista concedida à EXAME em 2019, o pesquisador Alisson Lopes, da Universidade de Coventry, no Reino Unido, aponta que há oportunidades para serem exploradas nos próximos 25 anos.
“Hoje, a participação dos híbridos no mercado brasileiro ainda é muito pequena. Mas, com perspectiva otimista, este é o momento certo para o uso dessa tecnologia nos automóveis com o suporte do etanol”, diz.
A Nissan já começou essa corrida, com testes para um modelo conhecido como SOFC – Solid Oxide Fuel Cell. No Brasil, primeiro país a abrigar os testes, eles foram desenvolvidos em parceria com o Instituto de Energia e Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).
Por enquanto, os carros elétricos ainda representam uma pequena porcentagem dentro da frota brasileira. Dados do 1º Anuário da Mobilidadde Elétrica, compilados pela Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME) mostram que o Brasil tem 40 mil veículos elétricos ou híbridos. Ao todo, a frota brasileira tem 46,3 milhões de automóveis em circulação, segundo o Sindipeças.
Entre os elétricos, o maior crescimento da frota aconteceu em 2019, quando as vendas tiveram alta de 230% e somaram 11,2 mil unidades. Vale lembrar que o setor, em geral, enfrentou dificuldades: a venda de carros em geral teve queda de 26,16% em 2020, segundo a Fenabrave, maior queda em cinco anos. Ao todo, foram emplacados dois milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
Em 2021, a expectativa é de atingir 2,32 milhões de emplacamentos de veículos, segundo a Anfavea. O desafio para os carros é a falta de semicondutores, que é global e pode reduzir entre 5 a 7 milhões de unidades fabricadas em todos os países. De acordo com o presidente da associação, não se trata de uma solução de curto prazo e, para colocar uma fábrica de semicondutores para funcionar, existe uma demora de dois a quatro anos.
Superada essa crise -- e tirando o foco do curto prazo para o longo, especialistas veem com otimismo o mercado global de carros elétricos. Estimativas do J.P, Morgan mostram que, globalmente, os veículos elétricos devem representar 20% da frota até 2025, ante 1% em 2015.
O BCG estima mais do que o dobro disso: até 2026, a consultoria estima que os carros elétricos devem representar mais da metade das vendas de veículos. Para justificar a decisão, a consultoria mostra que as vendas de carros e SUVs eletrificados passadram de 8% em 2019 para 12% em 2020. Segundo os dados da empresa, na Alemanha, as vendas de veículos híbridos aumentaram 342% em 2020.
Ou seja, há demanda para esse crescimento. Com a evolução das pesquisas atuais -- e a renovação de outras -- o Brasil mostra potencial para se tornar um mercado automotivo ainda maior (e mais sustentável).