Lyft: mesmo bem menor que o Uber, estratégias adotadas perturbam a gigante (Lyft/Aptiv/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 8 de dezembro de 2018 às 10h51.
Última atualização em 1 de março de 2019 às 16h07.
São Paulo - Os serviços Uber e Lyft podem até ter começado com ideologias opostas - mas, agora, estão disputando a mesma corrida. Mais especificamente, um racha pela conquista dos investidores de Wall Street.
Na última quarta-feira (6), a Lyft entregou secretamente um registro de oferta pública inicial de ações (IPO) para a Securities and Exchange Comission (SEC), espécie de CVM americana. Diante do fato, a Uber contrariou as declarações de seu próprio CEO e resolveu antecipar seu IPO, entregando ontem (7) sua documentação.
Agora, as duas empresas de mobilidade urbana irão oferecer suas ações no início de 2019, disputando a preferência dos investidores. A Uber está ansiosa para vencer a Lyft, dizem fontes com conhecimento do setor. Mas essa estrada é mais esburacada do que aparenta.
A entrega de registro da Lyft surpreendeu o mercado e mandou um alerta para a Uber, que está há anos comentando sobre seu próprio IPO - sempre abalado por algum problema, geralmente interno. Até o anúncio da concorrente, falava-se como o Uber havia deixado sua oferta inicial pública de ações para o segundo semestre de 2019, ponderando as incertezas da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Enquanto a Uber está avaliada em 72 bilhões de dólares, a Lyft tem um valuation de 15 bilhões de dólares, que poderia chegar até 20 a 30 bilhões de dólares em sua ida para a bolsa americana. Agora, a Uber diz que o IPO poderia transformá-la em um negócio de 120 bilhões de dólares.
Olhando para o cenário atual, Lyft e Uber parecem ser quase a mesma solução. Além dos mesmos planos de IPO, ambas estão investindo em carros autônomos e introduzindo serviços de compartilhamento de bicicletas (a Uber comprou a startup de aluguel de bikes Jump em maio deste ano, enquanto a Lyft anunciou a compra da operadora de bicicletas Motivate em julho). Mas nem sempre as companhias olharam para o mesmo destino.
A Uber foi criada em 2009 pelo hoje polêmico Travis Kalanick, com o slogan "Um motorista privado para todos". Agressiva, a empresa seguia à risca a metodologia proposta pelo Facebook de "mover-se rápido e quebrar coisas" e só negociava com representantes governamentais após seu serviço já estar operando nas cidades.
Três anos depois, a Lyft foi criada com princípios como "gentileza" e "hospitalidade" e adotava uma postura de conversar com representantes governamentais e outros parceiros de mobilidade (o que, depois, provou-se útil para o desenvolvimento de uma plataforma aberta para desenvolvimento de carros autônomos, como o da imagem que ilustra esta matéria). Vale lembrar que a Uber passou a oportunidade de comprar a Lyft em 2014 e em 2016.
A Uber só torceu o braço para o cavalheirismo quando enfrentou problemas diversos, de vazamento massivo de dados até disputas trabalhistas e denúncias de assédio sexual. Tais escândalos levaram ao plano "180 Dias para a Mudança", com foco em repaginar o posicionamento da Uber. A decisão inclui a renúncia de Kalanick e a entrada do presidente executivo Dara Khosrowshahi, que prometeu mudar a cultura da companhia de mobilidade urbana. O novo slogan da Uber é "Construindo juntos".
A Uber opera em mais de 70 países, enquanto a Lyft está apenas no Canadá e nos Estados Unidos. Mas, nesses dois países, não há espaço para a Uber descansar. Hoje, a Lyft afirma possuir atualmente 35% do mercado americano de chamar motoristas para viagens (ride-hailing). Com um quinto da avaliação da Uber, é um ótimo custo-benefício nos olhos dos investidores dos Estados Unidos. Resta saber se essa conta será suficiente para que Wall Street prefira a persistente concorrente Lyft à Uber, um reformado titã de múltiplos países e avaliado em dezenas de milhões de dólares.