João Sanches, da Trinity: empresa nasceu em 2010 e começou a gerar energia 11 anos depois (Mariana Pekin/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 22 de julho de 2023 às 08h00.
O mercado de energia solar está aquecido. Já são mais de 2 milhões de sistemas apenas na modalidade distribuída — quando as placas fotovoltaicas são instaladas próximas à unidade consumidora —, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Quando o consumo é para uma residência ou pequena loja, geralmente o consumidor faz o projeto diretamente com as empresas de energia solar. Agora, quando envolve uma rede de operações, indústrias, ou empresas maiores, há uma outra opção disponível: a de contratar a energia produzida em fazendas de placas fotovoltaicas. Na prática, é como alugar essas usinas para usar a energia gerada lá.
Foi olhando para essa oportunidade que a Trinity Energias Renováveis, de São Paulo, começou a construir usinas fotovoltaicas em 2021. Até então, a empresa trabalhava com consultoria para o setor, e deu esse avanço quando teve capital para começar a gerar energia. Hoje, são quatro operações em Minas Gerais e outras três no Rio de Janeiro.
Agora, acaba de anunciar um investimento de 300 milhões de reais para construir 15 usinas fotovoltaicas no Nordeste até o final do ano que vem. É a entrada da empresa nessa região do país. Serão nos estados do Ceará, da Bahia e de Pernambuco.
“No nosso modelo de negócio, a gente constrói a usina e faz a locação dela para um único cliente”, afirma João Sanches, CEO da Trinity. “A gente recebe o contrato de aluguel. Para essas 15 usinas que vamos construir, já temos demanda de empresas do Nordeste, principalmente do varejo”.
As usinas costumam ser construídas em fazendas ou em espaços livres. Para a média das usinas construídas pela Trinity, precisa-se de 15 hectares por projeto e 11.000 placas fotovoltaicas. Elas também precisam estar relativamente próximas às unidades consumidoras, porque precisam operar sobre a mesma concessionária.
Desde que a Trinity começou a vender energia, esse tem representado a maior fatia do faturamento do negócio criado há 10 anos. Em 2021, faturou 1,5 bilhão de reais. No ano seguinte, subiu para 1,65 bilhão de reais. Agora, com a construção e entrada no Nordeste, a perspectiva é de um novo crescimento. Querem fechar 2023 faturando 2 bilhões de reais.
Para 2024, um novo mercado está no radar. A partir do ano que vem, poderá negociar no mercado livre de energia — que é a modalidade a qual a Trinity comercializa o que produz — todos os consumidores de média e alta tensão. Isso significa que 100.000 novas empresas estarão aptas a usar esse produto, quando não há intermediação da concessionária para vender ou comprar a eletricidade.
“A partir de 2024, a gente tem a figura do consumidor varejista que não poderia ser adicionado no nosso portfólio de clientes antes”, diz Sanches. “Já estamos prospectando clientes para essa modalidade também”.
Sanches começou no mercado financeiro. Formado em administração de empresas, ele trabalhava em mesas de operação. Depois, entrou para uma empresa da área de energia para atuar na comercialização e na parte burocrática dos contratos nesse setor. Em 2010, saiu da empresa, mas ficou prestando consultoria a ela. Foi adicionando novos clientes e se estabeleceu em 2014, quando dedicou força total para alavancar os negócios. Hoje, já são uma das grandes consultoras.
“Era bem jovem na época, mas o mercado me deu oportunidade, trabalhei firme e acompanhei o crescimento do setor”, diz Sanches. “Mas lá no início, não foi uma decisão objetiva. Fui buscando desenvolver outros negócios até 2014, quando as coisas começaram a se consolidar e direcionei todo meu foco para isso”.
Foi em 2021 que deram um passo além e começaram a gerar energia também. Seus clientes são principalmente empresas do varejo, como distribuidores de combustíveis.
Após se consolidar no Nordeste, a Trinity quer voltar a focar seus olhos para as regiões Sudeste e Centro-Oeste. A empresa vê um aumento de clientes possíveis com a mudança na legislação do mercado livre de energia a partir do ano que vem.
Também miram, no futuro, na geração de energia renovável por outra fonte: a eólica.
O ponto de maior dificuldade da Trinity hoje é a interface com as distribuidoras de energia. Hoje, existe um processo de aprovação do projeto de energia que leva algum tempo. Só depois disso que começam os investimentos.
“O contato com a distribuidora é extremamente difícil”, diz Sanches. E mesmo depois que constrói a usina, conectá-la à rede é uma grande dificuldade. É um assunto que está bastante à tona no momento. Houve um grande número de protocolos de projeto ano passado, e as distribuidoras não tem braço para suportar tudo isso”.