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Tirar cidadania italiana virou corrida contra o tempo – e um negócio milionário

Com faturamento de R$ 36 milhões, negócio triplicou em um ano com aumento de busca por receber o documento

Nátali Lazzari, da Avanti: "Queremos ajudar o maior número possível de pessoas antes que as regras mudem" (Avanti/Divulgação)

Nátali Lazzari, da Avanti: "Queremos ajudar o maior número possível de pessoas antes que as regras mudem" (Avanti/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 15h16.

Você já ouviu aquele ditado: "quem tem um parente italiano no Brasil, tem meio caminho para um passaporte europeu"?

Em 2024, esse ditado ganhou uma nova urgência. Com mudanças na legislação previstas para breve, descendentes de italianos estão correndo para garantir sua cidadania antes que o processo fique mais complicado – e caro.

No centro desse movimento, a Avanti Cidadania, de Nátali Lazzari, se destacou. A empresa faturou 11 milhões de reais em 2023 e projeta 36 milhões neste ano.

A corrida pela cidadania italiana

Para os brasileiros com raízes italianas, a cidadania não é apenas um documento. É um passaporte para estudar, trabalhar e viver na União Europeia. Recentemente, a busca pela cidadania italiana disparou – aumentou 400% entre agosto e outubro de 2024.

As razões para essa corrida? Propostas legislativas que podem restringir o direito à cidadania a até três gerações de parentesco e exigir, por exemplo, fluência no idioma italiano. As mudanças podem entrar em vigor já em 2025.

"Estamos vendo uma explosão na procura. É um tsunami. Quem deixar para depois pode perder o direito", explica Nátali.

Enquanto o sistema italiano enfrenta sobrecarga e a possibilidade de novas regras, empresas especializadas, como a Avanti Cidadania, ganham relevância no mercado, ajudando ítalo-descendentes a navegar pela burocracia.

Como Nátali criou a Avanti

Nátali Lazzari nasceu em Garibaldi, no Rio Grande do Sul, uma das principais colônias de imigração italiana no Brasil. Na serra gaúcha, é raro encontrar quem não tenha ao menos um bisavô italiano. A cidadania europeia se tornou uma tendência na região, impulsionada pela conexão histórica com a Itália.

Mesmo nesse contexto, a história de Nátali se destaca. Aos 25 anos, após enfrentar uma série de barreiras no processo para obter sua própria cidadania italiana, ela transformou uma experiência frustrante em um negócio de sucesso.

O caminho não foi fácil. Na busca por documentos de seus antepassados, ela enfrentou de tudo: certidões queimadas em incêndios, erros nos registros oficiais e advogados que disseram que ela não tinha chance. “Me diziam que era impossível. Gastei muito dinheiro até perceber que teria que fazer por conta própria.”

Determinada, Nátali mergulhou na genealogia, aprendeu sozinha sobre a legislação italiana e enviou centenas de e-mails para paróquias na Itália. Após um ano e meio, encontrou o registro de nascimento de seu avô na cidade de Marostica. “Foi um momento transformador. Eu sabia que, se tivesse conseguido isso para mim, poderia ajudar outras pessoas.”

Em 2015, já com sua cidadania reconhecida, ela decidiu abrir a Avanti Cidadania. Com 7.000 euros, alugou um escritório na Itália e começou a orientar clientes. “A experiência personalizada foi o que nos diferenciou. Eu buscava os clientes no aeroporto, os acompanhava ao comune. Fazia questão de que tudo fosse perfeito.”

O setor em alta – mas cheio de desafios

A cidadania italiana virou um grande negócio no Brasil. Hoje, o mercado movimenta cerca de 500 milhões de reais por ano. Mas o setor não está imune a problemas. A burocracia italiana é famosa pela lentidão, e as fraudes nos processos aumentaram as restrições.

“Os processos cresceram tanto que os tribunais estão sobrecarregados. Só em Veneza, foram 17 mil casos de brasileiros em 2023”, diz Nátali.

Além disso, a Itália enfrenta pressão política e econômica para limitar os direitos de descendentes no exterior. A legislação atual permite que gerações distantes reivindiquem a cidadania, algo incomum em outros países europeus.

"É inevitável que as regras fiquem mais rígidas. Isso deve acontecer mais cedo ou mais tarde", afirma Nátali.

O futuro da cidadania italiana

Com a possibilidade de mudanças, o setor deve passar por transformações profundas. A Avanti, no entanto, já está se preparando.

A empresa contratou novos funcionários e ampliou sua estrutura.

"Queremos ajudar o maior número possível de pessoas antes que as regras mudem", afirma Nátali.

Mesmo depois das mudanças, ela acredita que o mercado continuará relevante, mas com um perfil diferente. “As empresas precisarão ser mais especializadas e eficientes. O foco será em atender um público que enfrentará exigências mais altas.”

Muito mais que um passaporte

Para os clientes da Avanti, a cidadania italiana representa mais do que oportunidades acadêmicas ou profissionais. É também uma reconexão com suas raízes.

“Uma cliente nossa conseguiu estudar em Copenhague com tudo pago pela União Europeia. Hoje, ela mora em Dubai. Essa conquista muda vidas, não apenas da pessoa, mas de toda a família”, reflete Nátali.

A cidadania, segundo ela, simboliza resiliência. "É uma forma de honrar os que vieram antes de nós e abrir portas para as próximas gerações."

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