Executivas: nos Estados Unidos, empresas chefiadas por mulheres deram retorno médio de 339%, enquanto empresas do S&P retornaram 122%. (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2016 às 14h25.
Katharina Miller participa das reuniões de acionistas de quase todas as grandes empresas espanholas e, depois que outros perguntam sobre dividendos e lucros, ela faz uma pergunta a um grupo invariavelmente dominado por homens: Por que há tão poucas mulheres no conselho?
Na reunião anual da Abertis Infraestructuras, no dia 12 de abril em Barcelona, Katharina se dirigiu aos 11 homens e às cinco mulheres que compõem o conselho da empresa e, como sempre, enfatizou que não perguntava como feminista, mas como investidora interessada em proteger seus retornos.
“O número de mulheres em seu conselho é alarmante”, disse Katharina, com um vestido de tweed cor de ameixa que sobressaía na multidão de ternos escuros.
“As empresas onde há uma maior presença feminina obtêm resultados econômicos melhores e se expõem menos ao risco”.
Ela tem razão, especialmente em relação ao sul da Europa. Em todo o mundo, as empresas com mulheres na diretoria têm um desempenho superior àquelas dirigidas só por homens.
Na Europa, a diferença é maior em países como Itália, Portugal e Espanha, onde as mulheres sempre tiveram menos representação.
Nos lugares onde a dominação masculina nas empresas supera a média europeia, as vantagens de incluir mulheres são ainda maiores, porque as poucas que conseguem entrar no mundo corporativo sem dúvida são excepcionais, disse Julia Dawson, analista do Credit Suisse.
Quando “é mais difícil para as mulheres obter cargos de liderança, essas mulheres tendem a ser extraordinárias”, disse Julia, uma das autoras do relatório CS Gender 3000 do banco.
“Basta uma única mulher para começar a romper a dinâmica de pensamento de grupo masculino e isso pode ajudar a melhorar o desempenho”.
No sul da Europa, as empresas com mais diretoras que a média nacional tiveram um desempenho quase 55 pontos percentuais superior ao daquelas com diretoria composta exclusivamente por homens nos últimos três anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Durante o mesmo período, o desempenho das empresas do índice Pan-European Stoxx Europe 600, cujo conselho tinha uma representação feminina superior à média do indicador foi cerca de 5 pontos percentuais melhor que o das empresas que não tinham nenhuma mulher no conselho.
Embora não existam fundos de investimento especializados em empresas do sul da Europa com uma presença forte de mulheres na liderança, o número de investimentos baseados no gênero com o objetivo de aproveitar os benefícios resultantes de um melhor desempenho geral aumentou.
Por exemplo, o Pax Ellevate Global Women’s Index Fund, de US$ 93 milhões, subiu 3,2 por cento neste ano até o dia 29 de abril, em contraste com um avanço de 1 por cento das ações globais.
O fundo, que inclui Microsoft, Yahoo e Procter & Gamble, investe em empresas seguindo critérios como o número de mulheres em cargos executivos e nos conselhos.
“A comunidade financeira está acordando para a enorme quantidade de pesquisas e provas que mostram que investir em empresas mais responsáveis ou sustentáveis não pressupõe um custo e, muitas vezes, o desempenho é superior”, disse Julie Fox Gorte, que administra o fundo Pax.
No sul da Europa, “onde a diversidade nos conselhos é menor, as empresas com diretoras tendem a ter o melhor desempenho”.
Ironicamente, à medida que as empresas se tornarem mais igualitárias em relação ao gênero, o investimento na diversidade provavelmente enfraquecerá, disse Karen Rubin, gerente de produto da plataforma de negociação Quantopian, com sede em Boston.
Entre as 1.000 maiores empresas dos EUA, as que são dirigidas por mulheres deram um retorno médio de 339 por cento entre 2002 e 2014, em contraste com um retorno de 122 por cento do índice S&P 500, de acordo com a pesquisa de Karen.
“Se metade de CEOs fossem mulheres, essa estratégia provavelmente não seria interessante”, disse Karen. “Todos nós esperamos chegar a esse ponto, mas em geral tendemos a pensar que, em uma situação de igualdade absoluta, algumas mulheres seriam boas dirigentes e outras não, e as condições seriam mais iguais”.