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Temendo guerra comercial, Alibaba fará IPO de U$S 20 bi em Hong Kong

Gigante de e-commerce chinesa tem capital aberto nos EUA desde 2014, mas vai para Hong Kong após novas regras mais flexíveis na China e guerra comercial

Sede do Alibaba (BABA34) (Lai Seng Sin/Reuters)

Sede do Alibaba (BABA34) (Lai Seng Sin/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 13 de junho de 2019 às 12h10.

Última atualização em 13 de junho de 2019 às 13h54.

As empresas chinesas estão em alerta para fazer o que puderem para escapar da guerra comercial entre China e Estados Unidos, e uma delas é o Alibaba, empresa de e-commerce chinesa e dona de sites como o AliExpress. Fontes informaram às agências de notícias Reuters e Bloomberg que a varejista fez um registro confidencial para ser listada na bolsa de Hong Kong, região administrativa independente da China.

A oferta inicial de ações (IPO) do Alibaba em Hong Kong pode levantar até 20 bilhões de dólares, segundo as informações. A previsão é de que o movimento aconteça já no terceiro trimestre deste ano.

Conhecida como "Amazon chinesa", fazendo referência à gigante de e-commerce americana, o Alibaba, fundada pelo empresário Jack Ma, já possui desde 2014 capital aberto nos Estados Unidos, na bolsa de Nova York (NYSE). Sua oferta inicial de ações (IPO) é até hoje a maior da história da bolsa americana, arrecadando na ocasião 25 bilhões de dólares.

O valor de mercado da empresa gira hoje em torno de 419 bilhões de dólares (por volta das 11h, as ações subiam mais de 0,7% na bolsa).

A abertura de capital em Hong Kong viria em meio a uma guerra comercial entre China e Estados Unidos, que tornou-se pauta após o início do mandato presidente americano, Donald Trump, em 2017, e intensificou-se sobremaneira nas últimas semanas.

À agência de notícias Bloomberg, fontes disseram que o dinheiro levantado no IPO vai ajudar o Alibaba a "diversificar o financiamento de canais e aumentar a liquidez". Investidores na China e em Hong Kong estariam menos propensos a desvalorizar as ações do Alibaba, e a listagem fora dos Estados Unidos daria à empresa um plano B caso as tensões se intensifiquem e os negócios piorem nos Estados Unidos.

Em 2014, o fato de a abertura de capital inicial do Alibaba ter sido feita nos Estados Unidos e não em bolsas chinesas foi considerada uma derrota para os investidores locais. Agora, a quase certa ida do Alibaba para Hong Kong vai deixar um dos campeões nacionais chineses mais perto de casa.

Também deve haver um link de negociações de ações que conectará a bolsa de Hong Kong às de Xangai e Shenzhen, as duas principais bolsas da China continental.

A escolha por Hong Kong e não pelas bolsas na China continental, dizem os analistas, passa pelo fato de que a província, que é administrativamente independente e goza de mais liberdade econômica do que o resto da China, comportaria melhor um IPO de 20 bilhões de dólares. Nas bolsas chinesas, o maior IPO até agora foi somente o do AgBank (o Banco Agrícola da China), que levantou 10 bilhões de dólares em 2010.

Trazendo o dinheiro de volta

A ida do Alibaba para Hong Kong é a maior notícia de um movimento que deve se intensificar nos próximos meses, com a China tentando atrair campeões nacionais para os mercados locais e criando incentivos para que novas empresas de tecnologia escolham abrir capital em bolsas chinesas, e não americanas.

O mais recente incentivo foi uma mudança nas regras da bolsa de Xangai que vai permitir com que empresas chinesas sejam listadas na bolsa mesmo apresentando prejuízo -- o que é comum para muitas empresas de tecnologia nos primeiros anos. Isso fará com que empresas promissoras talvez escolham ficar na China em vez de se aproveitarem das regulações menos rigorosas em Nova York.

A mudança faz parte da criação de um braço de tecnologia e inovação, anunciada nesta semana e que deve começar a funcionar em dois meses. A expectativa é que mais de 20 empresas listem suas ações na China com essa nova iniciativa.

O objetivo do governo do presidente chinês Xi Jinping, além de segurar as empresas já bem-sucedidas, é também fazer com que as empresas chinesas, listando suas ações em casa, consigam fundos para crescer e fazer frente às empresas de tecnologia americanas.

A tecnologia é o principal tema em debate na guerra comercial sino-americana, com empresas chinesas sendo atacadas pelo governo Trump. A mais prejudicada deve ser a fabricante de eletrônicos e celulares Huawei, com a qual empresas americanas foram proibidas pelo governo de fazer negócio -- o que fez o Google afirmar que vai precisar parar de oferecer aos celulares da marca o sistema operacional Android a partir de agosto.

A bolsa chinesa também vai passar a aceitar empresas que tenham duas classes de ações (caso do Alibaba e de gigantes como a rede social Facebook e a dona do buscador Google, a Alphabet). A própria bolsa de Hong Kong também mudou essa proibição recentemente, outro dos motivos que fez o Alibaba decidir abrir capital em Nova York em 2014. Os controladores da bolsa de Hong Kong admitiram que a ida do Alibaba para Nova York foi um dos fatores que os fizeram repensar a restrição.

Com o movimento do Alibaba, outras empresas chinesas também podem seguir a mesma tendência. Atualmente, estão listadas nos Estados Unidos empresas como a também varejista de e-commerce JD.com, a empresa de telecomunicações China Telecom e o buscador Baidu. A guerra comercial, ao que tudo indica, vai virar também uma guerra entre as bolsas.

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