Marco Patuano: a Telefônica está buscando um modo de cumprir as decisões antitruste (Alessia Pierdomenico/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2014 às 14h51.
Brasília - A Telecom Italia SpA é independente da sua acionista espanhola Telefônica SA, disse o CEO Marco Patuano em visita ao Brasil, onde reguladores antitruste esquadrinharam a relação entre as duas maiores empresas de telefonia celular do País.
“Para a Telecom Italia, acho que a questão é ter uma estratégia independente de quaisquer acionistas”, disse Patuano aos jornalistas ontem em Brasília. “Esse é o nosso principal interesse e até agora sempre tem sido o caso na relação entre a Telecom Italia e a Telefônica”.
A Telefônica, a operadora com sede em Madri que é a maior provedora de telefonia celular do Brasil, está buscando um modo de cumprir as decisões antitruste tomadas em dezembro que questionaram seu papel como maior acionista da Telecom Italia.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) disse que a Telefônica teria que reduzir sua participação na empresa com sede em Milão e, um dia depois, disse que a operadora espanhola deveria abandonar por completo a Telecom Italia se quisesse manter o controle da sua própria unidade no Brasil, a Vivo. As duas decisões derivaram de casos diferentes que envolvem a Telefônica.
O Cade estabeleceu o mês de maio como prazo para cumprir a decisão, que está sendo contestada pela Telefônica nos tribunais brasileiros. Neste mês, a Telefônica vendeu 750 milhões de euros (US$ 1 bilhão) em títulos que podem ser convertidos em ações da Telecom Italia, o que reduziria sua participação na empresa de Patuano.
A medida da Telefônica parecia ter sido projetada para atender aos requerimentos do Cade, disse ontem Paulo Bernardo, ministro das Comunicações do Brasil. A assessoria de imprensa do Cade confirmou ontem que a Telefônica notificou a agência da venda de títulos nesta semana.
O Cade está estudando as informações, que foram fornecidas sob o acordo fechado em 2010, que criou Telco SpA, o grupo de acionistas da Telecom Italia, disse a agência.
Tentativa de compliance
“Tenho acompanhado essa questão nos jornais”, disse Bernardo. “Acho que o Cade poderia responder a isso da melhor forma, mas é claro que eles estão tentando acatar a decisão. Mas não tenho informação nenhuma”.
Embora a Telefônica tivesse pressionado a Telecom Italia para que venda sua unidade brasileira, a Tim Participações SA, Patuano prefere mantê-la e expandi-la por meio de uma eventual fusão com a divisão GVT, da Vivendi SA, disseram fontes do setor em maio, que solicitaram o anonimato porque as deliberações são confidenciais.
A Telefônica e a Oi SA – a quarta maior operadora de telefonia celular do País – ponderaram um plano neste ano para fragmentar a Tim, disseram as fontes.
É difícil para a Tim evitar especulações em relação a uma fusão com a GVT porque os serviços oferecidos pelas duas empresas são complementares, disse Patuano ontem. Tal acordo não está no foco da companhia neste momento, embora a possibilidade permaneça aberta, disse ele. A Tim tem um valor de mercado de R$ 29,6 bilhões (US$ 13,3 bilhões).
‘Fato óbvio’
“Acredito que somos uma empresa com grande sucesso na telefonia celular, e eles são uma companhia com um grande nível de qualidade em linhas fixas, portanto o fato de termos essas sinergias é óbvio”, disse Patuano.
Ontem, Patuano visitou a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, prometendo investir mais na infraestrutura de telecomunicações do País, especialmente no acesso à internet de banda larga para dispositivos móveis. Ele disse que a Tim está encaminhada para investir de R$ 4 bilhões a R$ 4,5 bilhões no Brasil neste ano.
Participar do leilão de frequências que o governo realizará no próximo mês, e conquistar o espectro de telefonia celular 4G, aumentará esses planos de investimento entre 10 por cento e 15 por cento, disse ele.
“A Tim quer ser transparente, inovadora e investir em infraestrutura”, disse Patuano.