Prédio da News International, que publicava o tabloide "News of the World" (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2011 às 08h36.
Londres - O magnata Rupert Murdoch surpreendeu a todos ao anunciar nesta quinta-feira o fechamento do News Of the World, tabloide dominical sensacionalista de seu império britânico, que está no centro de um escândalo de escutas telefônicas.
O anúncio foi feito por meio de um comunicado assinado por James Murdoch, presidente da News International, braço britânico da News Corp criada por seu pai Rupert.
"O News of the World (NOTW) fechará após publicação de um último número neste final de semana", anunciou James Murdoch.
O NOWT, criado há 168 anos e que tem uma tiragem de cerca de 2,8 milhões de exemplares, tornou-se ao longo dos anos campeão de vendas. Ele foi recentemente premiado por ter revelado um caso de partidas de críquete fraudadas envolvendo jogadores da equipe nacional paquistanesa.
Seus métodos, entretanto, foram considerados com frequência contestáveis, e até ilegais, após a obtenção de informações exclusivas com câmeras escondidas e jornalistas disfarçados como xeques ou empresários.
O correspondente real do NOTW e o detetive particular Glenn Mulcaire, que trabalhavam para o jornal sensacionalista, foram condenados a penas de prisão após um primeiro escândalo de escutas, em 2007.
O mesmo detetive e outros jornalistas foram envolvidos logo depois em uma nova avalanche de revelações que suscitou indignação. A polícia chegou a mencionar possíveis investigações no futuro. Entre os suspeitos estão policiais que teriam recebido dinheiro em troca de informações.
"O News of the World tem como função pedir que os outros prestem contas. Mas não aplicou para si esse princípio", reconheceu nesta quinta-feira James Murdoch.
Além das primeiras escutas envolvendo políticos, personalidades, membros da família real, estrelas de cinema e do mundo esportivo, parece que os investigadores do NOTW também escutaram as conversas nos celulares das vítimas de crimes hediondos, de parentes de pessoas mortas em um atentado da Al-Qaeda que deixou 52 mortos em Londres em 2005, ou ainda das famílias de militares mortos no Iraque e no Afeganistão.
"Se isso for verdade, é repugnante", declarou à BBC Rose Gentle, mãe de um soldado morto no Iraque, ressaltando a "ira" das famílias.
A polícia indicou que a lista de pessoas suscetíveis de terem sido seguidas pode ter até 4.000 nomes.
Em outro golpe, vários anunciantes revelaram que retirariam seus anúncios publicitários.
A indignação foi amplamente compartilhada pelos deputados em ocasião de debates realizados com urgência na quarta-feira e pelos Lordes na quinta.
O primeiro-ministro David Cameron desejou que a investigação policial em andamento seja acelerada.
Ele frisou que se reunirá na próxima semana com o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, para discutir a criação de uma comissão pública de investigação destinada a esclarecer os acontecimentos do NOTW, e da imprensa em geral.
Miliband reiterou que deseja que esta investigação seja conduzida por um juiz.
Diversos jornais, dentre eles o The Times, que também é membro do grupo News Corp, colocaram-se publicamente contra as práticas do NOTW.
O caso das escutas envenena a vida política no Reino Unido há meses. Em janeiro, a demissão do diretor de Comunicação de David Cameron, Andy Coulson, ex-redator-chefe do NOTW desencadeou o escândalo.
O momento também foi constrangedor porque o chefe de governo, considerado um aliado de Rupert Murdoch, que se preparava para autorizar definitivamente a aquisição da totalidade da rede via satélite BSkyB pelo grupo do magnata.
Já exposto à ira da imprensa que considera que o pluralismo da imprensa está ameaçado, o primeiro-ministro enfrenta também uma forte pressão política para suspender o caso devido aos excessos do tablóide.