Fundadores da Octágora: startup fornece oferece um software de suporte remoto que combina vídeo ao vivo e realidade aumentada (Octágora/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 09h35.
Esperar horas por um técnico para descobrir que o problema era só um cabo mal encaixado é frustrante. No Brasil, chamadas para suporte técnico são demoradas, caras e, muitas vezes, inúteis.
A Octágora quer resolver isso. A startup criou uma plataforma de assistência técnica remota, que usa realidade aumentada para guiar clientes na solução de problemas sem precisar de um técnico presencialmente. Agora, a empresa acaba de captar 1,4 milhão de reais em uma rodada pre-seed liderada pela B Venture Capital (BVC).
O objetivo: crescer e tornar os atendimentos mais inteligentes com IA generativa.
A startup, que atende clientes como Claro, Electrolux e Comgás, quer dobrar de tamanho até 2027. Para isso, investirá na equipe comercial e no desenvolvimento de novas tecnologias, incluindo suporte hands-free e uma inteligência artificial que automatiza atendimentos.
"A ineficiência nos atendimentos técnicos custa muito caro. Hoje, conseguimos evitar parte desses desperdícios, mas com o aporte vamos além", afirma Marcelo Izumi, cofundador da Octágora. "Nosso foco é criar ferramentas que aumentem a eficiência das empresas e reduzam custos operacionais."
O crescimento da Octágora passa por ampliar sua base de clientes e lançar novas funcionalidades. Entre os planos, está uma IA capaz de resolver problemas técnicos sem precisar de um atendente humano.
A Octágora nasceu da frustração de três profissionais que passaram anos lidando com ineficiências no suporte técnico de grandes empresas. Marcelo Izumi, Daniel Vidal Cussi e Celso Rosa trabalharam com tecnologia e atendimento ao cliente antes de decidirem empreender juntos. Mas a história começa bem antes disso – com uma banda de rock.
"Eu e o Daniel nos conhecemos há mais de 25 anos, ainda no colégio. Tínhamos uma banda na época", conta Izumi. "Depois, seguimos caminhos diferentes: ele foi para tecnologia e eu para a área comercial." Já Celso e Daniel trabalharam juntos por mais de uma década, sempre focados em inovação para atendimento ao cliente.
O estalo para criar a Octágora veio da experiência que eles acumulavam dentro das empresas. "A gente via o quanto era difícil resolver problemas técnicos por telefone. No fim, a solução sempre era mandar um técnico presencialmente, o que gerava custos absurdos", diz Izumi. "Não fazia sentido não existir uma forma mais eficiente de resolver isso."
Em 2020, os três decidiram testar a ideia. Passaram um ano pesquisando tecnologias até encontrarem na realidade aumentada uma solução viável. "Percebemos que poderíamos guiar o próprio cliente a resolver o problema, desenhando na tela do celular dele, em tempo real", explica.
A validação veio rápido. O primeiro grande cliente foi uma empresa de telecomunicações, que começou a usar a ferramenta para evitar deslocamentos desnecessários de técnicos. A pandemia acelerou a adoção da solução, e a startup viu a demanda crescer. "Naquele momento, as empresas precisavam encontrar formas de atender os clientes sem mandar técnicos até as casas. Nossa solução encaixou perfeitamente nessa necessidade", lembra Izumi.
Hoje, a Octágora atende mais de 50 grandes empresas e já realiza cerca de 50 mil atendimentos remotos por mês. O crescimento da empresa agora depende de expandir sua base de clientes e incorporar novas tecnologias, como a inteligência artificial generativa.
A Octágora oferece um software de suporte remoto que combina vídeo ao vivo e realidade aumentada.
Quando um cliente tem um problema técnico, o atendente envia um link via SMS. Ao clicar, a câmera do celular é ativada e o especialista pode orientar o cliente desenhando na tela em tempo real.
"É como se o atendente pudesse mostrar exatamente onde mexer, sem precisar estar lá", explica Izumi. A tecnologia já é usada por grandes empresas para reduzir deslocamentos desnecessários.
Além disso, a Octágora também permite suporte com dispositivos hands-free, como os óculos inteligentes RealWear. Esse tipo de tecnologia é útil em setores industriais, onde técnicos precisam das mãos livres para operar equipamentos enquanto recebem instruções remotas.
Hoje, o atendimento remoto da Octágora exige um especialista guiando o cliente. A próxima etapa é automatizar parte desse processo com IA generativa. A ideia é criar assistentes virtuais que consigam interpretar problemas e sugerir soluções sem necessidade de um atendente humano.
"Isso tornaria obsoleto o chatbot tradicional, que muitas vezes não resolve nada. Queremos uma IA capaz de prestar suporte técnico de verdade, usando a base de conhecimento das empresas", diz Daniel Vidal Cussi, CTO da Octágora.
A inteligência artificial poderá interagir com os clientes, sugerindo testes e diagnósticos antes de encaminhar o atendimento para um técnico humano, se necessário.
A Octágora pretende usar o investimento para crescer e aprimorar sua tecnologia. O plano envolve três frentes principais: expansão comercial, novas funcionalidades e inteligência artificial.
A expectativa da startup é que esses investimentos não só ajudem a dobrar a base de clientes, mas também consolidem a Octágora como referência no suporte técnico remoto no Brasil.
O maior obstáculo para o crescimento da Octágora não é a tecnologia, mas a mudança de mentalidade das empresas. Segundo Izumi, muitas companhias ainda não enxergam o suporte técnico remoto como um padrão.
"É um trabalho de evangelização. Muita gente ainda acha que o único jeito de resolver um problema técnico é mandando alguém até lá. Mas a tendência é que o remoto vire o novo normal", afirma.
Com o novo investimento, a startup quer expandir sua presença em setores como telecom, varejo e serviços financeiros. O objetivo é fazer com que cada vez mais empresas adotem o atendimento remoto e evitem visitas técnicas desnecessárias.