Plantação de eucalipto da Eldorado: os planos de crescimento da empresa iniciaram discussão com a Suzano sobre o papel do BNDES no setor de celulose (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2013 às 14h46.
São Paulo - A velocidade com que a Eldorado planeja crescer no mercado de celulose colocou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no centro de uma discussão entre a empresa e a Suzano Papel e Celulose.
Nova no setor, a Eldorado, controlada pela holding J&F, iniciou a operação da primeira fábrica no final de 2012 e tem planos de construir uma nova fábrica em 2017.
A segunda unidade pode ter capacidade de 2 milhões de toneladas anuais, o que a colocaria na condição de maior linha única de produção de celulose do mundo. A possibilidade, citada nesta terça-feira pelo presidente José Carlos Grubisich, foi duramente criticada pelo presidente da Suzano, Walter Schalka, para quem o BNDES precisará adotar uma postura de regulador do mercado.
"O BNDES é o principal ator da indústria de papel e celulose. Acredito que todo mundo tenha direito de investir, mas o BNDES precisará fazer o processo de forma clara e transparente de forma que não destrua o valor de todos", disse Schalka, criticando a possibilidade de haver um excessivo número de novos projetos de celulose para os próximos anos.
O presidente da Suzano destacou que, sem o apoio do BNDES, os projetos dificilmente saem do papel. Por isso, o banco de fomento teria condições de regular o mercado. Isso descartado pelo presidente da Eldorado.
"Não acho que seja o papel do BNDES de organizar a competição de mercado. O mercado tem crescimento global e acho que o BNDES tem que garantir que empresas brasileiras assumam a posição de liderança", rebateu Grubisich.
Disciplina
A discussão entre Schalka e Grubisich teve início durante uma mesa redonda que reuniu os presidentes de grandes empresas do setor, em evento organizado pela consultoria Risi. Pouco antes de conversar com jornalistas, Schalka deu o recado ao presidente da Eldorado. Peço mais disciplina no setor. Estaremos destruindo o valor do setor se crescermos de forma tão indisciplinada, disse o presidente da Suzano.
Após o evento, os dois executivos mantiveram o discurso áspero. Acho que o BNDES tem que organizar a fila. O BNDES tem que ser um indutor (da indústria brasileira) e que tenha uma política industrial que leve a um processo de criação de valor para a sociedade brasileira, destacou Schalka. Grubisich reforçou que a Eldorado chegou ao mercado com a intenção de ser líder mundial.
Por isso, tem planos de duplicar a capacidade em 2017 e construir uma terceira fábrica entre 2020 e 2021. O próximo passo da empresa acontecerá já em 2014, quando um investimento na atual linha de produção aumentará a capacidade de oferta de 1,5 milhão para 1,7 milhão de toneladas anuais.
Nossa visão é de que a demanda continua crescendo, na casa de 1 milhão a 1,5 milhões por ano, e acho que nosso papel é de que o Brasil recupere grande parte do crescimento mundial. O Brasil precisa garantir que, se o mercado crescer 1,5 milhão de toneladas por ano, crescerá 1 milhão de toneladas (de oferta), justificou Grubisich.
Para outros executivos do setor, no entanto, a Eldorado não poderá ocupar esse espaço sozinha. Não vejo como a gente pode sequenciar, em um player único, vários projetos, ponderou o presidente da Fibria, Marcelo Castelli.
Questionado sobre o papel do BNDES no setor, o presidente da Fibria discordou de uma atuação efetiva do banco de fomento. Nenhuma disciplina deve ser imposta a um banco de desenvolvimento. Quem tem que organizar a fila são os players, sintetizou.
O BNDES é o principal acionista da Fibria e também tem grande relevância na Suzano. Além disso, é a principal fonte de recursos aos projetos do setor, entre eles a fábrica da Eldorado inaugurada em 2012 e a unidade da Suzano, que deverá começar a operar no fim do ano.
Procurada pela reportagem pouco antes das 20h, a assessoria de imprensa do BNDES informou que não poderia comentar o assunto porque o expediente acaba às 19h.