Empresas veem oportunidade na época de descontos (FG Trade/Getty Images)
Karina Souza
Publicado em 23 de novembro de 2021 às 17h45.
A Black Friday de 2021 terá uma novidade quando o assunto é forma de pagamento: o PIX. Lançado no ano passado -- pouco depois da data de promoções --, esse meio de pagamento deve estar presente em grande parte das transações, considerado o aumento acelerado de estabelecimentos que o aceitam. Dados da consultoria GMattos divulgados recentemente mostram que a modalidade representava 1,16% do total de transações no primeiro trimestre deste ano, número que subiu para 2,16% ao final de junho e deve chegar a 3,4% do total de vendas do varejo (físico e digital). No mundo online, a aceitação é ainda maior, totalizando 40,7% dos estabelecimentos no segundo trimestre, ante 16,9% no primeiro.
Na outra ponta, com aumento de 639% na base de usuários, segundo dados do Banco Central, em setembro deste ano o Pix tinha mais de 101 milhões de cadastros. Uma pesquisa encomendada pelo Mélliuz e feita com 714 pessoas aponta que o meio de pagamento é o terceiro em intenção de uso durante a tradicional data de descontos, com 11,5% das respostas. Na frente, estão cartão de crédito e boleto bancário. O que é considerável, para um meio de pagamento "recém-lançado".
A facilidade de não precisar preencher dados ou gerar boletos -- em meio à necessidade de consumidores por mais comodidade nas compras on-line -- são alguns pontos ressaltados por Alan Chusid, um dos fundadores da Spin Pay, fintech de pagamentos que pertnce ao Nubank e que oferece serviços de PIX para e-commerces no Brasil. "Empresas que vendem na Black Friday e que têm um volume grande de transações, deverão perceber pela primeira vez a facilidade que esse meio de pagamento gera para os clientes e, consequentemente, para elas também", afirma o executivo, em comunicado. A startup foi comprada pelo Nubank em agosto deste ano, com a proposta de escalar os negócios a partir da estrutura já consolidada do banco digital.
O crescimento se baseia principalmente em fatores como a facilidade do Pix, população desbancarizada no país e na intenção de 70% dos brasileiros em usarem o meio de pagamento, segundo a Zetta, associação sem fins lucrativos de empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros digitais. "Isso mostra que o Pix pode vir a introduzir milhões de pessoas ao sistema, fazendo com que consigam realizar diversos serviços, como transferências gratuitas e instantâneas”, diz Chusid.
A popularidade do meio de pagamento ganhou até mesmo campanhas de quem já está há mais tempo oferecendo soluções de pagamento. Em busca da própria fatia dentro do crescimento do Pix nos próximos anos, o Mercado Pago anunciou que terá, na Black Friday, uma coleção de roupas e acessórios personalizados com QR Code para aceitação de Pix entre pequenos vendedores no Rio de Janeiro. Cerca de 3 mil kits com itens como bonés, camisetas e adesivos serão distribuídos gratuitamente nas praias de Ipanema e Copacabana além de Cadeg, Ceasa, Mercadão de Madureira, Parque de Madureira e Estação Uruguaiana, entre os dias 20 e 24 de novembro.
O Brasil é um dos países mais adeptos ao crediário digital, conhecido como "Buy Now, Pay Later", com adesão de 54% da população, segundo dados da Worldpay from FIS. Nessa época de descontos, a tendência é a de que o aumento desse meio de pagamento se consolide no país, principalmente entre a população que não quer utilizar o cartão de crédito na data.
De olho nesse mercado, a VirtusPay anunciou o lançamento de um novo aplicativo e preparou descontos: é possível encontrar mais de 120 marcas por lá, com produtos que custam de R$ 150 a R$ 10 mil e pagar em até 15 meses, sem cartão.
“Estimamos um crescimento muito significativo neste ano porque os consumidores já estão acostumados com o comércio eletrônico, além da possibilidade de diferentes meios de pagamento, como o crediário parcelado, que os ajuda a conquistar o produto desejado e em parcelas que caibam no bolso, sem prejudicar o orçamento familiar", diz Gustavo Câmara, CEO da VirtusPay. A startup não é a única de olho nesse mercado: a Provu (ex-Lendico), por exemplo, já levantou R$ 1,4 bilhão para crescer principalmente nessa frente de negócios, como anunciou recentemente.
Lojas no Brasil já se adaptaram para fornecer o meio de pagamento na tradicional data de descontos: Ponto, Extra e Casas Bahia são alguns exemplos.
Fora do país -- e da data em especial --, os boletos parcelados têm chamado a atenção de grandes empresas na mesma medida. A Mastercard, por exemplo, anunciou em setembro que iria disponibilizar o serviço em 2022 na Austrália. O motivo pelo qual o meio de pagamento chama a atenção é bastante simples: o BNPL pode aumentar vendas em 45% e reduzir o "abandono de carrinho" no comércio eletrônico em 35%, segundo a companhia.
Gigantes como Goldman Sachs, Apple, American Express, PayPal e o banco Citi já anunciaram iniciativas similares, de olho no potencial que essa nova forma de pagar pode trazer, principalmente em mercados como a América Latina -- em que o hábito de pagar parcelado já existe.
Na época em que a intenção de gastar existe, mas faltam ferramentas, a briga para conquistar o consumidor ganha ares cada vez mais acirrados: vence quem proporcionar a melhor comodidade, no menor tempo.