Eduardo Sydney e Paulo Ibri, da Typcal: mercado de fermentação recebeu 70% dos investimentos em foodtechs nos últimos 12 meses (Typcal)
Repórter
Publicado em 14 de outubro de 2024 às 10h10.
Última atualização em 14 de outubro de 2024 às 16h15.
O micélio é a parte vegetativa dos fungos, formada por filamentos finos chamados hifas. Rico em proteínas e fibras, o micélio não possui sabor amargo, o que facilita sua aplicação em alimentos, além de contribuir para a redução de gordura, sódio e açúcar nos produtos finais. Embora já seja consumido indiretamente há séculos em produtos como queijos e molhos, seu uso como fonte proteica é uma inovação recente.
O diferencial da Typcal está em um processo biotecnológico que utiliza a fermentação controlada do micélio, feita de forma verticalizada – ou seja, sem a necessidade de grandes áreas de plantio. Eduardo Sydney explica que, comparado aos métodos tradicionais de produção de proteínas – sejam elas vegetais ou animais – a fermentação de micélio é 6.000 vezes mais eficiente. Essa eficiência não apenas reduz a necessidade de terras férteis e água, mas também permite que o processo seja totalmente controlado em ambientes fechados, como fábricas.
Com um ciclo produtivo rápido, o micélio pode se multiplicar em poucas horas. Para crescer, ele se alimenta de subprodutos da indústria alimentícia, como as sobras do processo de produção de cerveja. A Typcal já trabalha com a Ambev e poderia, por exemplo, aproveitar do que resta nas fábricas da Brahma, Budweiser e Corona. Isso se alinha ao conceito de economia circular, uma vez que utiliza resíduos que seriam descartados para gerar um produto com alto valor agregado.
Segundo Ibri, em dois a três anos, o custo da proteína de micélio será equivalente ao das proteínas vegetais como a ervilha. Além disso, o cofundador projetou que em até 10 anos, a proteína de micélio será mais barata que a soja. Para efeitos de comparação, somente o Brasil importa cerca de 100 milhões de toneladas de soja por safra.
Além disso, o processo de fermentação reduz drasticamente as emissões de carbono, com 98% menos CO₂ que o gado, 88% menos que o frango e 45% menos que a soja. A pegada hídrica também é incomparável: 99,8% menor que a do gado, 99,5% menor que a do frango e 96% menor que a da soja, tornando essa tecnologia uma das mais sustentáveis no setor alimentício.
Apesar de ser a primeira na América Latina, a Typcal não está sozinha nessa. Segundo um estudo da Markets and Markets, o mercado de fermentação de micélio pode atingir US$ 252 bilhões até 2029. A foodtech brasileira já projeta uma expansão internacional em 2024, com a abertura de uma fábrica comercial e a entrada no mercado europeu.
Isso porque o continente concentra os maiores aportes financeiros em foodtechs, especialmente nas áreas de fermentação e carne cultivada. Além disso, regulamentações mais rígidas e incentivos para alternativas de menor impacto ambiental tornam o mercado europeu um terreno fértil para a adoção de novas tecnologias alimentares. Como a proteína de micélio utilizada pela Typcal já é aprovada para comercialização na Europa, a empresa poderá lançar produtos mais rapidamente.
Em 2023, a empresa foi acelerada por um programa suíço especializado na indústria alimentícia, o que abriu portas para parcerias com grandes players como a Givaudan. Além disso, a Europa oferece um mercado consumidor altamente preocupado com a sustentabilidade e a saúde, características que impulsionam o consumo de alternativas como a proteína de micélio. A Typcal não divulgou nomes, mas disse que, em 2025, pretende lançar uma linha de produtos em parceria com grandes indústrias dentro e fora do Brasil.