Louis Markham, fundador da Yuna: “A minha vida estava interessante, mas ficou muito mais interessante quando fui convidado para trabalhar no Brasil” (Yuna/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 29 de abril de 2024 às 06h00.
Você pode ir num restaurante, num evento ou numa praça, e vai encontrar lá: crianças sendo distraídas pelas telas de celulares.
O fenômeno não é condicionado às crianças, obviamente. Também é muito comum encontrar adultos, mesmo em grupos, mergulhados individualmente em suas telas. A discussão para as crianças, porém, é outra. Já que está cada vez mais difícil afastá-las das telas, dá-se um passo além no debate. Afinal, o que elas estão consumindo por ali?
A recém-criada startup Yuna quer usar as telas como uma aliada para fazer as crianças voltarem a ler.
A empresa utiliza inteligência artificial em conjunto com talentos humanos -- escritores, ilustradores e pedagogos -- para criar livros interativos e personalizados que pretendem fazer da leitura a escolha número um de entretenimento e educação entre as crianças.
Para a sua criação e desenvolvimento inicial, a startup acaba de divulgar um aporte de 8 milhões de reais, numa rodada pré-seed liderada pela gestora de venture capital Canary, com participação dos fundos Positive Ventures e executivos sêniores de grandes empresas.
“Pesquisas ao redor do mundo relacionam baixos índices de leitura e um impacto negativo no desenvolvimento do imaginário, senso crítico e capacidade cognitiva das crianças”, diz Louis Markham, empreendedor por trás do negócio. “Existe um grande desafio em incentivar esse público a ler por causa da competição com as novas tecnologias. Não queremos lutar contra elas, e sim utilizá-las para trazer a leitura de volta à rotina de forma lúdica e interessante”.
A startup acaba de passar por uma fase de testes que durou quatro meses. Agora com o negócio validado, vão estudar como faturar com a tecnologia. No segundo semestre, deve ser lançado um serviço adicional pago. Até agora, tudo no app é gratuito.
“Estamos motivados a começar a jornada da Yuna aqui, num país que perdeu 4,6 milhões de leitores em quatro anos e no qual 66% dos estudantes não lêem textos com mais de dez páginas”, afirma. “O impacto que podemos ter é enorme e nos motiva a trabalharmos para tornar a leitura a escolha ‘número um’ das crianças para se divertirem e aprenderem”.
A Yuna é um aplicativo que permite às crianças construírem histórias e livros com ajuda de inteligência artificial.
Na plataforma, o pai da criança começa a jornada respondendo algumas perguntas sobre o filho e filha. A partir disso, a criança começa a indicar preferências e assim, vai montando a sua história.
Como base, são usados roteiros feitos por escritores profissionais, contratados pelo aplicativo para criarem os enredos. Isso, aliás, deve ser aprofundado nos próximos meses.
“Estamos viabilizando um ecossistema que convida escritores, ilustradores, editores e pais a criar um novo tipo de livro”, diz Markham.
Desde que começaram a rodar em fase de teste, 100.000 livros já foram feitos. O público-alvo são familiares e cuidadores de crianças de um a doze anos.
Apesar de já ter um português bem convincente, Markham é do Reino Unido. Antes de morar em São Paulo, onde vive hoje, ele passou também por Nova York. Por lá, ficou alguns anos trabalhando com mercado financeiro.
“A minha vida estava interessante, mas ficou muito mais interessante quando fui convidado para trabalhar no Brasil”, diz o empreendedor.
Ele veio às terras tupiniquins para trabalhar na expansão internacional da Loft, de compra e venda de imóveis. A ideia era ficar por ali seis meses e voltar a Nova York. Mas se apaixonou tanto pelo trabalho e pela terra que ficou na imobiliária online por quatro anos.
No tempo livre, porém, se dedicava a outra coisa que ama: escrever histórias, filmes, músicas e até séries. Depois de quatro anos na Loft, pensou que era hora de fazer dessa paixão seu trabalho. Foi quando começou a desenvolver a Yuna.
Depois do Brasil, Yuna está pronta para chegar aos mercados internacionais. Markham adianta que já está em busca de escritores, ilustradores e editoras para produção de conteúdo autoral, assim como de distribuidores que estejam preparados para a revolução que o mercado infantil está passando.
“O caminho que escolhemos é o de combinar o melhor da criatividade e sensibilidade de profissionais humanos com a potencialidade das novas tecnologias para construir um ecossistema que não conhecerá fronteiras geográficas e chegará a todas as crianças do mundo”.
Até o final do ano, a empresa quer ter engajado a criação de 1 milhão de livros. Ainda não há planos de faturamento. O aporte, além do desenvolvimento inicial, também será usado para divulgação da plataforma.