Barista Kim Jung Mi prepara um café em uma loja do Starbucks em Gimpo, na Coreia do Sul (SeongJoon Cho/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2014 às 22h53.
Seul - Quando a ex-professora de jardim de infância Kim Sun Sung tentou voltar à força de trabalho na Coreia do Sul, após cinco anos dedicados à criação de seus filhos, a situação foi difícil.
À época com 41 anos, diziam-lhe que ela era muito velha ou que havia estado muito tempo sem trabalhar.
“Não foi fácil encontrar um bom trabalho”, disse Kim, que agora tem 48 anos e trabalha como consultora em uma escola particular de Seul. “Não queria que minha vida terminasse assim, desperdiçando meus conhecimentos”.
Park Geun Hye, a primeira mulher presidente do país, está prestando atenção.
O governo dela identificou e expôs empresas como a Hyundai Motor por não oferecerem suficientes trabalhos de tempo parcial para as mulheres e elogiou a Starbucks, a Samsung Electronics e a Lotte Group.
Ela prometeu aumentar a taxa de participação feminina na força de trabalho, de 53,5 por cento em 2012 para 61,9 por cento até 2017, advertindo um “longo túnel” de depressão, a menos que todas as alavancas econômicas sejam mobilizadas.
A preocupação de que os dados demográficos da Coreia do Sul condenem o país a seguir o Japão por um caminho de anos de deflação provocou a estagnação dos lucros nas ações e conduziu a um rali nos bonds soberanos.
Como a população do país em idade de trabalho deve encolher depois de 2016, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), as barreiras erguidas para mulheres como Kim ameaçam desacelerar o crescimento e inchar ainda mais a dívida interna.
Ameaça de deflação
“A contração da economia é sinônimo de menor renda com impostos e distensão das finanças públicas; em uma economia deste tamanho há um risco direto para a classificação do crédito soberano”, disse Park Sung Wook, economista do Instituto Financeiro da Coreia em Seul, no dia 28 de agosto.
“A Coreia precisa que mais mulheres trabalhem e que as pessoas adiem a aposentadoria ou encontrem trabalhos adicionais para gerar renda”.
Na semana passada, o ministro das Finanças, Choi Kyung Hwan, advertiu que a Coreia do Sul poderia enfrentar uma deflação caso se permita que o crescimento continue desacelerando.
Os preços ao consumidor subirão 1,8 por cento neste ano e 2,6 por cento em 2015, de acordo com a média das estimativas dos economistas consultados pela Bloomberg.
A taxa se compara com uma média anual de crescimento dos preços de 4,1 por cento desde 1984.
Starbucks e Samsung
Park, que objetiva criar 1,65 milhões de novos empregos para as mulheres até fevereiro de 2018, o fim de seu mandato, disse que as empresas onde a participação feminina na força de trabalho for inferior a 70 por cento da média do setor durante três anos consecutivos serão denunciadas e expostas publicamente.
Seis dos ministros, em uma declaração conjunta em fevereiro, disseram que o governo vai estimular os horários de trabalho flexíveis, acentuar os programas de assistência infantil e aprimorar a capacitação para mães que desejarem reingressar na força de trabalho.
No ano passado, a Starbucks Coffee Korea recontratou 100 mães que tinham pedido demissão para cuidar de seus filhos, enquanto Cho Yoon Sun, ministra para a igualdade de gênero e a família, identificou a Hyundai como uma empresa que deveria se mirar nos exemplos da Samsung Electronics e Lotte ao contratar e promover mulheres.
Embora a Coreia tenha mantido sua taxa de desemprego em uma média inferior a 4 por cento – uma das menores entre os países da OCDE – durante a desaceleração do PIB, as cifras escondem a falta de participação feminina e uma crescente tendência ao emprego temporário, de acordo com um documento de trabalho publicado no mês passado pelo Banco da Coreia.
Disposição para gastar
Os incentivos poderiam “aumentar as taxas de participação feminina em cerca de 8 pontos porcentuais”, concluíram os autores do documento, conduzidos por Mai Dao, do FMI.
Uma reforma mais ampla do mercado de trabalho “deve estimular o emprego na Coreia, ao mesmo tempo em que contribui para a renda doméstica, a confiança e a disposição para gastar”, disse Matthew Circosta, economista da Moody’s Investors Service em Sidney.
“Um mercado de trabalho mais forte, junto com taxas mais baixas, permite que as famílias reduzam os encargos de dívidas”.
A professora Kim disse que a concepção de que uma mulher sul-coreana bem-sucedida é uma boa dona de casa é “antiquada” e que as mães que ficam em casa cobram muito de seus filhos.
“As mulheres devem ter uma vida profissional não só para contribuir com as finanças da casa e com a economia nacional, mas também pelo bem dos filhos”, disse ela.