Embraer: sindicatos que representam os funcionários da companhia voltaram a se manifestar contra a operação com a Boeing (Roosevelt Cassio/Reuters)
Lucas Amorim
Publicado em 5 de julho de 2018 às 10h56.
Última atualização em 5 de julho de 2018 às 12h10.
A união das fabricantes de aviões Boeing e Embraer, confirmada nesta quinta-feira, 5, começou a nascer no dia 16 de outubro do ano passado. Naquela data foi selado o futuro das quatro maiores fabricantes de aviões do planeta, quando a gigante francesa Airbus anunciou a compra do controle da divisão de aeronaves comerciais da canadense Bombardier. A transação criou uma empresa definida no mercado como “pacote completo”, capaz de fornecer aviões que vão de 100 a 525 assentos.
Duas outras empresas concorrentes foram indiretamente afetadas: a americana Boeing, que fabrica aviões a partir de 150 assentos, e a brasileira Embraer, que lidera o segmento de aeronaves para 37 a 130 pessoas. No mesmo dia, analistas e consultores perguntavam-se como e quando viria uma reação. Essa hora chegou.
Embraer e Boeing começaram a discutir uma possível combinação de seus negócios em novembro. A Embraer é a maior exportadora de produtos manufaturados do Brasil, com mais de 6 bilhões de dólares anuais em vendas e 18 000 funcionários. Vale 19 bilhões de reais na bolsa. A Boeing é a maior fabricante de aviões do mundo, com 95 bilhões de dólares em receitas, 140 000 funcionários e valor de mercado de 200 bilhões de dólares.
As duas empresas se aproximaram com uma série de parcerias nos últimos anos, que vão de desenvolvimento de pesquisa a estratégias de vendas — a Boeing é, por exemplo, parceira na comercialização e responsável pelo suporte operacional do KC390, cargueiro militar desenvolvido e fabricado pela Embraer.
NO início o governo brasileiro, que tem poder de veto em negócios com a Embraer, resistia a uma associação com os americanos. Mas aos poucos foi prevalecendo, no Gabinete de Segurança Institucional, a avaliação de que uma aversão a grupos internacionais poderia fazer a Embraer “perder o bonde da história”.
Para a Boeing, juntar-se à Embraer é um contra-ataque certeiro aos avanços da Airbus. A empresa americana tem um projeto para uma aeronave média, chamada de 797, que ganharia velocidade com a engenharia e a tecnologia da Embraer. Com a consolidação global de fornecedores, a empresa entende que ser mais verticalizada será uma vantagem — a Embraer fabrica, por exemplo, trem de pouso, o que não faz parte da produção da Boeing.
A empresa brasileira, por sua vez, se beneficia em diversas frentes. Seu volume de encomendas tem sido fonte de preocupação dos analistas. Em 2017, bancos como Santander e Bradesco passaram a recomendar a venda das ações, diante de um cenário mais desafiador de competição e rentabilidade. Se não concluisse o negócio com os brasileiros, a Boeing poderia decidir crescer sozinha no segmento médio ou fechar parceria com outra empresa.
Nas contas do Bradesco, essa possibilidade tiraria 30% do valor das ações da Embraer. Com a expectativa do negócio com a Boeing, as ações da empresa dispararam mais de 70% nas bolsas brasileira e americana desde dezembro. Agora, em vez de um concorrente, a Embraer ganhou um sócio.