Jeff Bezos: fundador da Amazon tem sua aposta dentro do mercado de veículos elétricos (Andrew Harrer/Bloomberg)
Repórter
Publicado em 11 de abril de 2025 às 08h27.
Todos estão de olho nos carros elétricos. Mais de 17 milhões de veículos foram vendidos em 2024 mundialmente, com a China responsável por 60% da entrega. A Tesla, de Musk, e a chinesa BYD seguem na liderança global, mas já dividem espaço com marcas como Hyundai-Kai e até startups de nicho. O ano de 2025 começa com o 'tarifaço' de Trump potencialmente elevando os custos para as concorrentes globais e, consequentemente, dando as nacionais uma vantagem competitiva.
É nesse cenário que nasce a Slate Auto. Sediada em Michigan, a startup trabalha em silêncio desde 2022 para lançar uma picape elétrica compacta de dois lugares por cerca de US$ 25.000 (em torno de 120 mil reais). O projeto ambicioso é liderado por executivos com passagem por Ford, Stellantis, Harley-Davidson e Rivian — e tem entre os financiadores ninguém menos que Jeff Bezos.
O nome do bilionário nunca apareceu em anúncios, e a Slate nunca buscou a mídia. Mas documentos obtidos pelo site americano TechCrunch mostram que o family office de Bezos, comandado por Melinda Lewison, é um dos principais articuladores da empresa.
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Além dele, a Slate também atraiu o apoio de outros investidores de peso como Mark Walter, CEO da Guggenheim Partners, e Thomas Tull, fundador da Legendary Pictures e investidor da Re:Build Manufacturing — onde a Slate nasceu.
“O objetivo é criar algo acessível, quase como o Fusca ou o Ford Modelo T da era elétrica”, diz uma fonte próxima à empresa ao TC. A Slate quer colocar seu primeiro carro na rua até o fim de 2026, com produção baseada em Indiana. Ainda não está claro se a fábrica será construída do zero ou adaptada a partir de instalações já existentes.
A empresa já levantou pelo menos US$ 111 milhões na Série A, e autorizou quase 500 milhões de ações preferenciais para uma nova rodada Série B, ainda não divulgada oficialmente.
A Slate Auto foi criada dentro da Re:Build Manufacturing, um “incubador industrial” fundado por Jeff Wilke, ex-CEO da Amazon Consumer, e Miles Arnone, executivo com forte ligação ao ecossistema da gigante do varejo. Boa parte da equipe de liderança da Slate também veio da Amazon, incluindo nomes como Diego Piacentini, ex-vice-presidente internacional da empresa, que também aparece como investidor da startup.
Mesmo o nome “Slate” carrega referências sutis à Amazon: inicialmente chamada de Re:Car, a empresa usava o mesmo prefixo de eventos como o re:Invent e re:MARS, tradicionais conferências da AWS.
Segundo o TC, Jeff Bezos, apesar do envolvimento financeiro, nunca apareceu nas operações da empresa, nem em Troy, Michigan, nem no estúdio de design discreto que a startup mantém em Long Beach, na Califórnia.
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Ao contrário de outras startups que seguiram o caminho da Tesla — lançando carros de luxo para depois tentar popularizar seus modelos — a Slate faz o oposto. Seu produto inicial é voltado para ser o “primeiro carro” de muitos compradores, com preço baixo e possibilidade de personalização futura.
A estratégia é vender barato e ampliar a receita com acessórios. A empresa já contratou equipes especializadas em peças, roupas e até merchandising, inspirada no modelo de empresas como Harley-Davidson (com sua linha de vestuário) e Stellantis (com a Mopar, de acessórios). Até um slogan já foi registrado: “WE BUILT IT. YOU MAKE IT.” (algo como "nós construímos, você realiza", em português).
A Slate não quer só vender carros, acessórios e roupas. Ela planeja criar a “Slate University”, um programa de treinamento e conteúdo educativo para que os donos possam entender, reparar e customizar seus próprios veículos.
“Buscamos um líder entusiasta para desenvolver nosso conteúdo educacional open source para clientes e técnicos”, diz uma das vagas publicadas pela startup.
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Outra frente importante será a terceirização de componentes, como baterias e motores elétricos. As vagas sugerem uma empresa com mentalidade enxuta, focada em design e experiência, mas dependente de parceiros externos para partes críticas da produção.
Quem comanda a operação é Christine Barman, ex-executiva da Chrysler. Ela liderou programas como o do Chrysler 300 e do Jeep Cherokee, e também coordenou a integração de sistemas como o Android Automotive. Barman estava fora do circuito desde 2017, atuando como consultora e professora, até assumir a direção da Slate em 2022.
A empresa não tem um fundador típico. O nome por trás do projeto é Miles Arnone, que hoje atua como CEO da Re:Build Manufacturing. Na Slate, quem aparece são nomes como Rodney Copes (ex-Harley-Davidson) e Ryan Green (ex-Rivian), além de uma série de especialistas em serviços, marketing e produto vindos do setor automotivo tradicional.
A empresa já postou vagas para áreas como contabilidade pública (sinalizando planos de IPO), relações públicas e educação técnica — mesmo sem ter colocado um carro na rua.