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Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2013 às 18h12.
São Paulo - O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) estendeu sua linha de crédito ao PanAmericano em 1,3 bilhão de reais para cobrir o restante do rombo detectado por auditores e pelo Banco Central, segundo apurou o site de VEJA.
Ao todo, a dívida do banco fundado por Silvio Santos soma 3,8 bilhões de reais e será completamente coberta pelo crédito do FGC - que já havia emprestado 2,5 bilhões de reais à instituição em novembro do ano passado.
Após deixar o prédio do BTG Pactual, em São Paulo, Silvio Santos afirmou a jornalistas que havia se livrado de qualquer dívida. E, de fato, ele não mentiu. Em uma complexa engenharia financeira envolvendo os dois bancos, o FGC, a Caixa e o Banco Central, Silvio não terá de pagar nenhum real. E o banco de André Esteves dificilmente sairá da negociação desembolsando mais do que os 450 milhões de reais utilizados para comprar a participação de Silvio no banco.
Com a assinatura do contrato de venda do banco, Silvio Santos apresentará ao FGC uma espécie de titulo recebível garantindo que o BTG Pactual saldará a dívida total até o ano de 2028, a juros pré-fixados. Tal dívida, no entanto, não é de 3,8 bilhões de reais, como a lógica atestaria. Se for paga agora, será de ‘apenas’ 450 milhões de reais. Se for paga em 2028, terá o valor máximo de 3,8 bilhões de reais. “Isso significa que, se o BTG quiser saldar essa dívida já, o FGC terá de arcar com a diferença”, afirma uma fonte que acompanhou a operação.
Em contrapartida, estão sendo acertados junto ao Banco Central os termos de um acordo que obriga o BTG e a Caixa a fazerem significativos aportes financeiros periódicos para garantir a liquidez e a saúde da instituição. Como exemplo, a Caixa anunciou que, no curto prazo, irá adquirir direitos creditórios e aplicará em depósitos interfinanceiros do banco – uma forma de injetar recursos. No final do dia, todos saíram ganhando, com exceção do FGC.
O BTG, que adquiriu um banco com 3,8 bilhões de reais em caixa por 450 milhões de reais; a Caixa, que não teve prejuízo algum com o rombo, a não ser a desvalorização (reversível) de suas ações; e Silvio Santos, que entregou ao mercado um banco quebrado e se livrou completamente de qualquer dívida.
Já o FGC corre o risco de amargar um prejuízo de até 3,35 bilhões de reais – caso o BTG resolva saldar sua dívida o quanto antes. O que, diante do patrimônio atual de 5,6 bilhões de reais do banco de André Esteves, não seria um cenário improvável.
Bastidores
Todas as minúcias que deram origem ao contrato de ‘ganha-ganha’ para a maior parte dos envolvidos foram discutidas na sala de reuniões do BTG Pactual, ao longo dos últimos três dias. Durante todo o fim de semana, incluindo as madrugadas, André Esteves se alimentou à base de pizza e números do balanço do Panamericano – acompanhado da área jurídica do banco, dos advogados do Panamericano, de representantes da Caixa e do FGC.
A grande questão colocada como entrave para a realização do negócio não era o valor da compra em si, como foi anunciado pela imprensa nos últimos dias. O ponto de discordância foi delimitado por Silvio, que exigiu vender o banco e, de quebra, não arcar com nenhum passivo relacionado ao rombo. Tal ultimato fez com que o BTG titubeasse em fechar o negócio, além de deixar a Caixa e o Banco Central de cabelos em pé. Mas, assim como em 2010 o empresário conseguiu arrancar do FGC os 2,5 bilhões de reais necessários para salvar o banco, desta vez não foi diferente. Apenas quando seus advogados e Esteves conseguiram chegar a um acordo, Silvio se dirigiu à sede do BTG para assinar a venda.
A canetada
Às 17h30 da segunda-feira, acompanhado do fiel escudeiro Wadico Bucchi e da filha Renata Abravanel, Silvio Santos se dirigiu ao nono andar do prédio do BTG, na esquina da avenida Faria Lima com a Juscelino Kubitschek, um dos endereços mais nobres de São Paulo. Na sala de reuniões, também foi acompanhado por seus advogados.
Estavam presentes André Esteves e o novo presidente do banco, José Luiz Acar Pedro, sócio do BTG desde outubro. A diretoria do FGC, pilotada por Antonio Carlos Bueno, também se juntou ao grupo. Após cerca de 3 horas de conversas, entre goles de chá gelado, café e biscoitos, o Panamericano finalmente passou para as mãos de André Esteves. Ao assinar o contrato, Silvio utilizou o usual sarcasmo misturado ao bom humor: “Pronto. Agora já posso voltar para Orlando?”, disse.
Por volta das 21 horas, o empresário e apresentador foi acompanhado por André Esteves até o lobby do prédio, onde se despediram cordialmente antes que Silvio fosse tragado pela multidão de jornalistas e fotógrafos que esperavam, aflitos, pelos números da negociação. Como é de praxe, ele fez piada e não quis falar de valores. “Eu não sei de nada, quem sabe são meus advogados”, brincou.
Meia hora depois, André Esteves voltou ao lobby para checar se o caminho estava livre para que os três diretores do FGC pudessem descer. O banqueiro subiu novamente e escoltou o trio até o térreo. Minutos depois, já na sala fervilhante que ocupa – junto com todo o restante daquele andar do banco - e que mais parece uma redação de revista, Esteves conseguiu por fim jantar. Como nas madrugadas anteriores, pediram pizzas. E assim, como na maioria das vezes, termina a história.