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Silicon Valley Bank: como derrocada do banco gringo afeta as startups brasileiras?

Metade das startups americanas que receberam aportes em 2022 tinham contas no banco. Mas como isso afeta empresas brasileiras?

Silicon Valley Bank: impacto nas startups (Andrey Rudakov/Bloomberg/Getty Images)

Silicon Valley Bank: impacto nas startups (Andrey Rudakov/Bloomberg/Getty Images)

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias

Repórter de Negócios e PME

Publicado em 13 de março de 2023 às 13h46.

Última atualização em 13 de março de 2023 às 14h44.

O anúncio do fechamento das operações do Silicon Valley Bank (SVB), o banco das startups, deixou o mercado em alerta. A falência abrupta da instituição causou pânico entre fundadores e capitalistas, que desde sexta-feira correm contra o tempo para resgatar recursos.

Também na sexta-feira, 10, o governo americano iniciou uma força tarefa para resgatar o banco do abismo, na tentativa de evitar uma crise financeira similar à vista em 2008.

Ainda é cedo para afirmar que o mercado respira aliviado. Afinal, com a confirmação de que depositantes teriam seus direitos de saque garantidos, a nova preocupação está ligada ao possível risco sistêmico da ruptura do banco e o risco que isso representa a outras instituições.

Na reabertura do SVB, já sob controle dos reguladores, o Deposit Insurance National Bank of Santa Clara, assumiu a operação e nomeou o Departamento de Proteção Financeira  (FDIC), uma espécie de Fundo Garantidor de Crédito (FGC) americano com limite de até US$ 250 mil, como receptor.

O órgão assegurou o direito de acesso total aos recursos, até mesmo para valores acima desse montante. A medida entra em vigor nesta segunda-feira, 13.

Qual é o impacto nas startups?

Metade das startups americanas que receberam aportes em 2022 tinham conta no SVB. Entre as brasileiras, o banco foi, por muito tempo, a via mais fácil para internacionalizar contas e se bancarizar fora do país — startups que receberam grandes cheques de fundos internacionais ainda carecem de infraestrutura para conseguir, de fato, acessar esses recursos. E o SVB se posicionava como uma firma mais “aberta” a empresas iniciantes.

O fechamento pode gerar um efeito cascata em todo o ecossistema de startups, que já corre para estancar os danos causados pela ausência crônica de investimentos desde 2022.

Depois de dois anos de captações recorde, a recessão do mercado de venture tem forçado empresas a repensarem estratégias de curto prazo para fechar as contas, o que inclui atrasar lançamentos de produtos e também recorrer aos famosos layoffs, demissões em massa que se tornam cada vez mais comuns.

Em publicação nas redes sociais, Garry Tan, presidente e CEO da Y Combinator, uma das maiores aceleradoras do mundo, afirmou que 40.000 dos depositantes do banco SVB são pequenas empresas e que destas, 30% não vão honrar folhas de pagamento nos próximos 30 dias. Juntas, elas empregam mais de 120.000 pessoas.

Com isso, a corrida agora é para garantir que despesas operacionais, aquelas ligadas ao negócio, sejam pagas.

Investidores devem atuar de maneira bem próxima a suas investidas para auxiliar nos contratos com fornecedores, clientes e funcionários.

A preocupação esbarra, sobretudo, em companhias em estágio inicial e que faturam no futuro próximo, já que continuarão aguardando novas liberações de recursos do FIDC no caso de correntistas com valores acima dos US$ 250 mil.

Quais startups brasileiras foram afetadas

Ainda não se sabe ao certo qual é o tamanho da exposição das startups brasileiras ao SVB, mas alguns dados saltam aos olhos:

  • A estimativa é de que 90% do dinheiro offshore dessas empresas estava no banco.
  • Essas empresas têm se movimentado para retirar os recursos do banco americano desde a última quinta-feira.
  • O valor total seria de US$ 3 bilhões, segundo a Trace Finance, startup que permite a abertura de contas e movimentação de recursos para outras startups nos Estados Unidos.

Nesse cenário, algumas startups brasileiras com atuação fora do país — incluindo investidores internacionais — decidem se posicionar com a finalidade de tranquilizar acionistas e clientes.

É o caso do Nubank, que emitiu um comunicado no último sábado, 12, informando que não possui relação com o banco.

“A Nu Holdings Ltd. comunica aos seus acionistas e ao mercado que nem a Companhia nem nenhuma de suas subsidiárias têm qualquer exposição ao Silicon Valley Bank”, declarou a empresa.

O Banco Inter também informou que não tem exposição ao SVB.

Outra empresa a se posicionar foi a fintech Conta Simples, uma das aceleradas pela Y Combinator.

A empresa afirmou que não possui nenhum vínculo operacional, estratégico ou financeiro com o Silicon Valley Bank e que, sendo assim, está “livres de qualquer risco em relação ao tema”.

O que aconteceu com o Silicon Valley Bank?

Na quarta-feira à noite, o SVB, banco financiador de startups no Vale do Silício, surpreendeu o mercado ao anunciar que pretendia levantar US$ 2,25 bilhões para equilibrar suas contas.

O capital extra ajudaria a instituição a lidar com a queima de caixa acelerada de seus clientes em meio a um ambiente de juros altos.

O anúncio gerou pânico nos mercados e os clientes da instituição correram para sacar mais de U$ 40 bilhões de depósitos, gerando a maior crise no setor desde 2008.

A derrocada é outra consequência da campanha agressiva do Fed em subir juros para controlar a inflação.

  • De um lado, os rápidos aumentos de juros forçam os bancos a pagar rendimentos maiores para reter depósitos.
  • De outro, o aumento do rendimento dos títulos reduz o valor dos bonds mantidos nos balanços dos bancos, pressionando a sustentabilidade financeira das instituições.

Os bancos possuem muitos desses títulos, incluindo títulos do Tesouro, e agora estão sentados em gigantescas perdas não realizadas.

Além disso, quando as taxas de juros sobem, as startups têm mais dificuldade em acessar financiamento com os empréstimos ficando mais caros. A combinação de fatores foi responsável pela corrida de resgates no SVB.

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