Protótipo de tela flexível revelado pela Sharp (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2012 às 11h03.
Tóquio - O fabricante eletrônico Sharp completa cem anos de fundação neste sábado em meio a um duro processo de reestruturação que permita à empresa japonesa sair de uma crise sem precedentes e retomar a glória de tempos passados.
Estabelecida em 1912 como uma loja de artigos de metal em Tóquio, com um orçamento de menos de 50 ienes (R$ 1,30) e apenas três funcionários, a corporação Sharp está agora em um momento-chave de sua história após ter registrado uma perda líquida recorde no ano de 2011, de 376 bilhões de ienes (quase R$ 10 bilhões).
'Superar as adversidades em seu conjunto é a maior prioridade. Quero mostrar a todos nossa determinação para transformar nossa companhia em uma nova Sharp', afirmou na véspera do centenário seu presidente, Takashi Okuda, em declarações recolhidas pela agência 'Kyodo'.
O presidente da maltratada Sharp também pediu a seus empregados seu compromisso perante as medidas de reestruturação aprovadas recentemente pela empresa tais como o corte de cinco mil postos de trabalho, fechamento de escritórios, a possível venda de divisões e reduções de salários.
A histórica Sharp cunhou seu nome atual de uma de suas principais invenções, o 'Ever-Ready Sharp Pencil', a origem da popular lapiseira, com o qual o fundador, Tokuji Hayakawa, revolucionou o mundo em 1915.
O produto, um lápis que empregava uma peça de chumbo central substituível que lhe permitia estar sempre afiado, não teve uma boa recepção no Japão, mas Hayakawa (1893-1981) começou a receber enormes pedidos da Europa e dos Estados Unidos e pouco a pouco se tornou popular também no arquipélago japonês.
O engenho de Hayakawa veio precedido após ser agraciado, três anos antes, por ter inventado o 'tokubijo', a primeira fivela automática para cintos, inspirada nas dos atores dos filmes de Velho Oeste.
O grande terremoto de Kanto (principal ilha do Japão) de 1923, que deixou mais de 100 mil mortos, destruiu suas oficinas, mas não o espírito empreendedor de Hayakawa, que se reinventou no mundo da eletrônica e abriu uma pequena loja, desta vez em Osaka, de novo com a ajuda de três empregados.
Assim, em 1925, suas pesquisas no setor da tecnologia radiofônica deram frutos: montou a primeira emissora do país e começou a vender os primeiros aparelhos de rádio na cidade de Osaka.
Após numerosos contratempos e sucessos em seu negócio radiofônico, o inevitável passo à era das televisões fez com que a Sharp fosse a primeira empresa do Japão a produzir em cadeia estes aparelhos em 1953, convertendo-se na 'culpada' de levar o televisor, o mítico TV3-14T, aos lares japoneses.
Esse mesmo setor é o que agora levou a empresa japonesa a repensar sua situação, devido sobretudo à deterioração do ramo de telas de cristal líquido (LCD), o que lhe arrastou a perder no primeiro trimestre do ano fiscal no Japão, de abril a junho, 138,4 bilhões de ienes (R$ 3,6 bilhões).
Nesta mesma semana, a Sharp anunciou a necessidade de recortar outros 14 bilhões de ienes (R$ 360 milhões) em custos fixos de pessoal em 2012 como medida adicional para sanear seus deficitários resultados e após considerar que o cenário se tornou 'mais duro' durante este ano.
A empresa, que assinou uma aliança de capital com a taiwanesa Hon Hai para relançar seu setor de LCD, entre outros, se encontra perante a necessidade de ajustar-se aos novos tempos e a exigência de 'não viver na glória do passado', como detalhou uma analista da filial japonesa do BNP Paribas à 'Kyodo'.
A Sharp viu o valor de suas ações cair cerca de 67% desde o final de março, o que poderia provocar que os principais bancos do país ampliassem seus empréstimos à empresa em cerca de 300 bilhões de ienes (R$ 7,7 bilhões), informou hoje a 'Kyodo'.
Para este ano fiscal, que termina em 31 de março de 2013, a empresa prevê perder 30 bilhões de ienes (R$ 77 milhões), com o que só o tempo dirá se pelas veias de Sharp ainda corre o sangue de Hayakawa, cujo engenho e visão guiaram até o topo esta histórica empresa japonesa durante cem anos. EFE