Vale: a estrutura de governança até então montada pela mineradora não foi suficiente para antecipar e mitigar os riscos de rompimento da barragem em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019 (Washington Alves/File photo/Reuters)
Natália Flach
Publicado em 13 de novembro de 2019 às 05h57.
Última atualização em 13 de novembro de 2019 às 10h38.
São Paulo - As empresas brasileiras estão mais atentas a questões relacionadas à governança corporativa e à gestão de riscos, segundo levantamento da consultoria Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), obtido com exclusividade por EXAME. A pesquisa chamada "Os Cinco Pilares dos Riscos Empresariais" aponta que 73% das 165 companhias entrevistadas possuem uma política formal de gestão de riscos, um aumento de 29 pontos percentuais em relação ao último estudo.
O levantamento destaca ainda que em 70% dos casos os mecanismos de identificação, monitoramento, avaliação e resposta são atualizados anualmente, o que revela que as organizações estão focadas em entender as expectativas do mercado e as transformações regulatórias e em antever crises.
É bom frisar que a criação de diretrizes e estruturas não são suficientes para mitigar os riscos. É necessário promover uma verdadeira mudança na cultura das empresas, segundo Ricardo Lemos, membro da Comissão de Gerenciamento de Riscos Corporativos do IBGC.
A Vale é um exemplo trágico disso. A estrutura até então montada pela mineradora não foi suficiente para antecipar e mitigar os riscos de rompimento da barragem em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019. Ao todo, 252 mortos já foram identificados pelo Instituto Médico Legal.
E olha que, segundo a pesquisa, os riscos operacionais são os que têm mais processos definidos para mitigação nas empresas, especialmente no que se refere à conduta antiética e fraude. Em seguida, aparecem no ranking de instrumentos para mitigar surpresas indesejadas, os riscos financeiros e regulatórios - com destaque para regulação do fluxo de caixa e integridade das demonstrações financeiras - e, por fim, os riscos cibernéticos, que ainda são incipientes.
Apenas 34% das companhias têm operação de segurança contra ataques virtuais, mesmo com diversos exemplos recentes como o vírus wannacry de maio de 2017.
"Governança corporativa é essencial para qualquer tipo e tamanho de organização. Até porque gestão de risco deve caminhar lado a lado com a estratégia da organização", comenta Lemos.
O desafio que se coloca atualmente, portanto é melhorar a comunicação desses riscos e treinar pessoas para lidar com as ameaças. Para isso, Lemos sugere aumentar a diversidade nos conselhos de administração, montando equipes com profissionais de várias áreas do conhecimento. "Também é importante o tom vir das lideranças, se não tudo fica solto", diz.
Outros desafios são a adequação à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) representa uma meta de médio prazo para quase 80% das empresas pesquisadas, seguida pela gestão de terceiros com 70%, disrupção tecnológica (66%), talentos (58%) e integridade de informações (57%).
É claro que promover essas mudanças não é fácil e custa caro. "Um ex-presidente do banco central americano disse uma vez: se você acha que ter compliance é caro, experimente não ter", lembra Alex Borges, sócio-líder de risk advisory da Deloitte. A dica do especialista, portanto, é começar o quanto antes.
1. Cultura da organização
2. Falta de prioridade da organização
3. Criação de uma metodologia eficiente
4. Custos e restrições orçamentárias
5. Falta de integração entre as áreas de risco, controles, compliance e auditoria interna
Fonte: Deloitte e IBGC