Exploração de petróleo: proposta envolve corte de cerca de 90% da dívida que empresa tem com credores (Eddie Seal/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 28 de junho de 2018 às 18h37.
Última atualização em 28 de junho de 2018 às 18h38.
São Paulo - A empresa de afretamento de sondas para exploração de petróleo Sete Brasil, que está em recuperação judicial, tentará levar a voto na semana que vem um plano de recuperação que envolve um corte de cerca de 90% da dívida que tem com credores, disse uma fonte com conhecimento direto do assunto.
O plano prevê o leilão a investidores de quatro sondas de exploração que a Petrobras, sócia da Sete Brasil, aceitou contratar, segundo um acordo alinhavado em março, informou a fonte, que pediu anonimato.
"O plano será levado para apreciação numa assembleia de credores no dia 5 de julho", disse a fonte.
O documento foi apresentado à Justiça do Rio de Janeiro na última terça-feira pelo escritório de advocacia Sergio Bermudes, que assessora a Sete Brasil no caso.
O documento inclui uma avaliação das sondas feita pela consultoria Meden, segundo a qual o valor conjunto das quatro plataformas gira em torno de 550 milhões de dólares, cerca de 2,1 bilhões de reais pelo câmbio atual.
Nenhuma das plataformas está pronta para operar, com cada qual em etapas distintas de conclusão, o que ainda demandará recursos adicionais. Segundo o plano de recuperação, nenhuma das sondas tem um percentual de avanço físico acima de 65 por cento.
No entanto, segundo a fonte, o lote despertou o interesse de investidores após a Petrobras ter proposto em março um acordo pelo qual se dispunha a pagar uma taxa diária de 299 mil dólares pelos serviços de cada uma das plataformas.
Criada no fim de 2010 como parte de planos multibilionários concebidos para explorar o petróleo do pré-sal descoberto anos antes, a Sete Brasil previa construir 29 sondas, sendo 28 para atender contratos firmes com a Petrobras, com investimentos estimados em 26,4 bilhões de dólares.
Só de dívida bancária foram contraídos cerca de R$ 18 bilhões. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lideraria uma estrutura de financiamento de 75% do projeto, que entrou em colapso após denúncias de corrupção em 2014 investigadas pela operação Lava Jato.
O quadro piorou de vez com a derrocada do preço do petróleo. Quando concedido, no começo da década, o preço do barril da commodity chegou a bater os US$ 115, e caiu para menos US$ 30 em 2016, pouco antes da Sete Brasil pedir recuperação judicial.
A proposta de um corte de cerca de 90% do principal da dívida pode criar resposta negativa dos credores, embora a maior parte dos grandes bancos brasileiros afirme já ter provisionado o equivalente a 100% dos empréstimos feitos à Sete Brasil.
Pela proposta que será levada aos credores na próxima quinta-feira, mesmo que um leilão das quatro sondas tenha êxito, o pagamento por parte do comprador não será feito necessariamente à vista, podendo ser alongado em até três anos.
Valores eventualmente captados com o leilão seriam usados para pagar credores. Já acionistas, que investiram cerca de 8,3 bilhões de reais na empresa, não seriam contemplados agora. Os acionistas da Sete Brasil são Petrobras (5 por cento do capital), e o FIP Sondas, com 95 por cento, que tem como cotistas os fundos de pensão Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal, Previ (Banco do Brasil), Valia (Vale), além de Santander Brasil, BTG Pactual, Lakeshore, Luce Venture, EIG e FI-FGTS.
Procurada, a Sete Brasil não pode comentar o assunto de imediato.