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Será o fim do "toque de Midas" de Warren Buffett?

O megainvestidor não conseguiu aproveitar todo o potencial do mercado; as ações de sua empresa subiram 11%, enquanto o S&P 500 avançou 29%

Warren Buffett não quis comprar a joalheria Tiffany. Há três anos, sua empresa Berkshire Hathaway não faz uma nova aquisição (Reuters/VOCÊ RH)

Warren Buffett não quis comprar a joalheria Tiffany. Há três anos, sua empresa Berkshire Hathaway não faz uma nova aquisição (Reuters/VOCÊ RH)

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Natália Flach

Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 17h43.

Última atualização em 7 de janeiro de 2020 às 17h52.

São Paulo - Diz a lenda que tudo que o rei Midas tocava virava ouro. O soberano, de fato, existiu e governou a Ásia Menor (onde hoje está a Turquia) de 738 a 696 a.C.. A expressão "toque de Midas" passou a ser usada, mais de 2700 anos depois, para se referir àqueles que conseguem multiplicar seus investimentos. É o caso do megainvestidor Warren Buffett, que tem uma fortuna estimada em 88,9 bilhões de dólares. Só que, em 2019, os investimentos de Buffett não reluziram.

Isso foi o suficiente para uma pergunta antiga voltar à tona: será que, aos 89 anos, Buffett perdeu seu poder mágico? No ano passado, as ações da Berkshire Hathaway, empresa de Buffett que tem participação na fabricante de alimentos Kraft Heinz, na companhia aérea American Airlines e no banco Bank of America, tiveram valorização de 11% de acordo com levantamento da consultoria Economatica. É um bom retorno, é claro, mas muito aquém da alta de 29% do índice S&P 500 — que teve melhor desempenho desde 2013. No mesmo período, a Nasdaq subiu 35% e a Dow Jones, 22%.

O que os números apontam é que Buffett não conseguiu aproveitar a alta do mercado americano, como fez em 2018, quando reportou valorização de 3%, apesar de o S&P 500 ter caído 6,2%. O histórico do investidor, como se sabe, é mais do que positivo — uma média anual de quase 20%, mais que o dobro do S&P 500. Ainda assim, Buffett ficou abaixo do índice em oito dos últimos 23 anos, segundo levantamento da Economatica.

O questionamento, neste ano, sobre uma possível perda de mão do megainvestidor tem a ver com o próprio mercado de ações, cada vez mais puxado por grandes empresas de tecnologia, um negócio que Buffett conhece pouco. 

Mas não apenas. Tem a ver também com uma transformação em curso no mundo que pode ter levado a Berkshire — que se consolidou a partir da compra de participações em quase 50 empresas — a não fazer mega aquisições nos últimos três anos, mesmo estando "sentada" em uma pilha de 127 bilhões de dólares, de acordo com relatório de resultados do terceiro trimestre.

Buffett sempre comprou companhias que apareciam nas primeiras colocações de seus respectivos setores. Só que os hábitos de consumo estão mudando, e as startups que conseguem interpretar o interesse das novas gerações têm avançado sobre as gigantes, que levaram décadas para se consolidar no poder.

Um exemplo disso é a Kraft Heinz (da qual Buffett detém 26,7%) que vive um momento delicado. Algumas das marcas mais famosas da fabricante de ketchup e mostarda não conseguiram acompanhar o ritmo de mudanças nos últimos anos, o que a levou a obter lucros menores.

A mudança do modus operandi da Berkshire (de não fazer aquisições) confundiu até mesmo os analistas. "Não temos um senso claro da estratégia de aquisição ou de alocação de capital da Berkshire", escreveu a analista da CFRA, Catherine Seifert, em nota de novembro de 2019. "Isso, juntamente com alguns resultados operacionais mistos, remove um catalisador das ações", disse ela. Daí a valorização aquém do S&P 500.

 

O próprio Buffett deu outras pistas, em sua carta anual aos acionistas de 2018, sobre por que parou de fazer aquisições: está difícil encontrar grandes empresas para comprar. "Nos próximos anos, esperamos transferir grande parte de nosso excesso de liquidez para negócios que a Berkshire possuirá permanentemente. As perspectivas imediatas para isso, no entanto, não são boas: os preços são altíssimos para as empresas que possuem perspectivas decentes de longo prazo", escreveu ele.

Pode ter sido o caso da joalheria Tiffany & Co. Segundo o jornal Financial Times, Buffett se recusou a fazer uma oferta pela joalheira, que acabou sendo adquirida no ano passado pelo grupo LVMH Moet Hennessy por 16 bilhões de dólares.

Não é simples prever que ativos vão render valores vultosos no futuro — especialmente em um mundo que muda constantemente. Talvez seja até mais difícil do que tocar em algo e transformá-lo em ouro.

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